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Problemas físicos são os mais graves

Problemas físicos são os mais graves

Sabrina Magalhães
Vistorias apontam salas apertadas, paredes trincadas, sanitários, pias e torneiras inadequadas, materiais mal
armazenados, depósito precário de lixo hospitalar


Os relatórios apresentados pelo Conselho Regional de Medicina (CRM), pelo Conselho Municipal de Saúde (CMS) e pela Vigilância Sanitária Estadual (Visa) são unânimes: o problema mais grave dos prontos-socorros municipais é a inadequação física dos espaços para atender a demanda. Problemas que vão desde paredes rachadas e falta de cobertura no local de desembarque dos pacientes até a falta de salas para atendimento, que obriga os usuários a passar horas nos corredores.

Das cinco unidades municipais, o Pronto-Socorro Central (PSC) mostra-se o mais fragilizado, pois nunca passou por reformas desde sua inauguração, há mais de dez anos. Enquanto isso, a população aumenta e fica cada vez mais difícil atender a todos. Vale ressaltar que o PSC é considerado referência regional de atendimento, recebendo pacientes de pelo menos mais 40 municípios da região, sendo a porta de entrada para internações no Hospital de Base (HB).

Pequenos

De acordo com os relatórios de vistoria, todas as unidades de pronto-atendimento municipal são pequenas para a demanda. Pacientes são encontrados espalhados pelos corredores em bancos, macas ou cadeiras de rodas, dividindo o espaço, ainda, com caixas e a circulação de pessoas. No caso do PSC, o corredor é usado por funcionários como acesso para o Hospital de Base, o que os fiscais consideram problema de segurança. A circulação de muitas pessoas dificulta aos vigias o controle de entrada e permanência de visitantes.

As salas de atendimento também estão inadequadas às normas vigentes. O número de leitos é considerado insuficiente (motivo pelo qual os pacientes ficam nos corredores). A quantidade de camas por sala também é contestada, pois deixa o espaço apertado, dificultando a entrada e saída de macas, cadeiras de rodas e outros equipamentos e dispositivos necessários.

O CRM aponta a necessidade de se manter um centro cirúrgico e uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em cada unidade, para os casos mais graves em que são exigidos cuidados intensivos. As salas de observação chamadas de UTI pelos funcionários dos PS não foram aprovadas, de acordo com os relatórios apresentados.

Banheiros

Os sanitários também foram reprovados pelos representantes das instituições que promoveram vistorias nos prontos-socorros. O ponto mais ressaltado é a deficiência nos sistemas de aeração, iluminação e ventilação - eles não têm sequer uma janela.

São banheiros pequenos e apertados, com portas estreitas que não permitem a passagem de cadeiras de rodas, por exemplo. Se o paciente precisar de apoio para caminhar até o banheiro, o enfermeiro ou auxiliar terão dificuldade em auxiliá-lo a transpor a porta. Segundo funcionários, só a cadeira de banho, que é estreita, passa pela porta e chega ao boxe.

Em alguns casos, os banheiros não dispõem de papel higiênico, sabonete ou toalha de papel, o que foi exigido pelo Conselho Municipal de Saúde como condição de higiene para as unidades.

Médicos também alertam

Em novembro de 2000, o Corpo Clínico do Departamento de Urgências e Emergências (DUE) encaminhou um documento à Prefeitura Municipal de Bauru informando que a situação do atendimento nas unidades de pronto-atendimento municipais estava insustentável. Os médicos questionavam a inadequação do quadro de pessoal à demanda, considerando o crescimento populacional e os pacientes vindos da região.

“Os profissionais que ali atuam são submetidos a sobrecarga de trabalho (...) Temos dificuldade de acesso a determinados meios diagnósticos como tomografia, ultrassom e endoscopia digestiva. São necessários exames laboratoriais com resultados mais ágeis. Trabalhamos em áreas físicas imutáveis há mais de 10 anos (...) Queremos, tanto quanto a população, qualidade, conforto, agilidade e humanização em nossos serviços (...) Não é aumento de salário que buscamos, mas condições de trabalho”, contém o ofício.

Na oportunidade, 86 médicos assinaram o relatório, apresentando os 20 problemas considerados mais graves e reivindicando providências imediatas:

1. Contratação de médicos para completar o quadro das unidades e cobrir férias, licenças, etc. (Atualmente, o quadro não dispõe de profissionais para substituir funcionários ausentes);
2. Plantão policial 24 horas nas unidades de UE;
3. Treinamento do pessoal de recepção e portaria;
4. Aquisição de equipamentos e materiais preconizados pelo Conselho Federal de Medicina;
5. Manutenção preventiva de equipamentos, materiais e veículos;
6. Estoque atualizado de medicamentos (os relatórios atestaram falta de remédios em várias unidades);
7. Agilidade nos exames laboratoriais de urgência;
8. Acesso dos pacientes a tomografia computadorizada;
9. Acesso a ultrassonografia de urgência;
10. Acesso a endoscopia digestiva alta de urgência;
11. Reciclagem e aperfeiçoamento do corpo clínico, com financiamento da Prefeitura para cursos específicos para atendimento de UE;
12. Treinamento do pessoal de enfermagem e auxiliares;
13. Adequação das áreas físicas das unidades à “demanda crescente e explosiva”;
14. Condições dignas e higiênicas das áreas destinadas aos pacientes, médicos e pessoal auxiliar;
15. Apuração ética e administrativa de suspeitas de irregularidades (Vistorias apontaram diversos prontuários mal preenchidos ou com campos de informações essenciais em branco);
16. Assistência jurídica municipal para defesa dos profissionais da rede em caso de processo;
17. Garantir vagas nos hospitais de modo que o enfermo não ultrapasse 24 horas nos prontos-socorros (Atualmente, os pacientes chegam a passar até 7 dias nos PS aguardando vaga em hospitais);
18. Aumento da capacidade de leitos de internação nas UTI;
19. Apoio de especialidades, como cirurgia, ortopedia, neurologia e outras para avaliação e resolução dos casos mais graves atendidos nos prontos-socorros;
20. Revisão do sistema de atendimento de UE praticado no município, avaliando sua resolutividade e seu impacto sobre a melhoria da saúde da comunidade.

De acordo com a secretária de Saúde, Eliane Fetter Telles Nunes, muitas destas reivindicações foram atendidas, como o treinamento dos profissionais e cursos específicos. Porém, o que depende de somas maiores de dinheiro e liberações que dependem da burocracia do Governo ainda aguarda solução.




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