"O ÊXITO NÃO É UM FATO ESTÉTICO"

Esta afirmativa ouvia-a de um saudoso professor de Filosofia de quem tive a honra de ter sido aluno. A Academia Brasileira de Letras, desde a sua fundação, sempre se caracterizou por ser um órgão cultural eminentemente político que abriga, inclusive, alguns escritores, dentre os quais, para falar apenas de alguns, estão Ariano Suassuna, Josué Montelo, Lígia Fagundes Teles e Raquel de Queirós, porém, há enorme número de políticos e outros que estão muito longe da perenidade de lembranças. Concorreram à vaga de Jorge Amado: Joel Silveira e Zélia Gattai. Meu ex-aluno Arnaldo Niskier, professor de Educação, fez uma declaração que esclarece bem o sentido da eleição de Zélia: “... é mais uma homenagem a Jorge Amado”. É isto aí, não se trata de uma escritora que vai ficar na história da literatura brasileira; trata-se da companheira de Jorge Amado; o êxito não é um fato estético... Dos 13 livros, sendo um, romance, quantos ficarão? Na realidade, em termos de literatura, há uma verdade que é incontestável: ou a obra sobrevive ao autor - caso, por exemplo, de La Uraucana, de Gareilaso de La Veja, el Inca - ou o autor sobrevive à obra - caso de Voltaire; quanto aos escritores de ocasião ou de época, nenhum, nem outra sobrevivem. Quantos “acadêmicos” ainda são lembrados neste País? Os escritores de verdade, estes sim, são inesquecíveis. Quantos serão capazes de inserir numa obra, o que fez Ovídio: “terminei a obra que nem o tempo, nem a água, nem o fogo poderão destruir”? A alguns escritores pode-se aplicar as palavras melancólicas de José de Alencar no final de “Iracema”: “A jandaia já não canta nas frondes da carnaúba, já não repete o mavioso nome de Iracema. Tudo passa sobre a terra”. Esperemos que a próxima eleição não seja marcada pela característica de homenagem sentimental. (José Benedicto Pinto - RG: 4.440.349)