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A cachaça é nossa! A cirrose, também!

A cachaça é nossa! A cirrose, também!

(*) B. Requena
Com um certo alarde, toda a imprensa brasileira noticiou, nesta semana, que o presidente Fernando Henrique Cardoso determinou, através de decreto publicado no Diário Oficial da União, que a cachaça é produto de origem exclusivamente brasileira, assim como o seu nome para comercialização mundo afora. É notório que o chefe do governo utilizou a técnica do mago e general Golbery do Couto e Silva, isto é, usou o momento ideal do período das festas, quando a aguardente infelizmente jorra e a caipirinha é bebida de cachoeira, para adotar a providência e dar conhecimento público. Afinal, vale repetir, tudo é alegria e não é momento (aqui é que entra a técnica do general) para reflexões, nem conjecturas inteligentes. Quando for o momento para estes últimos exercícios de sabedoria e prudência, o assunto já estará ultrapassado, sacramentado e Inês há muito já estará morta.

Embora não se desconheça que há aqueles que apóiam a medida, por motivos óbvios, como produtores ou consumidores, não é a esta questão menor que devemos nos ater, mas, sim, pensar sempre na defesa da grande maioria da população brasileira - no caso, também, os eleitores que outorgaram o mandato a FHC - e - por que não? - os outros habitantes do Planeta.

Na entrada de um novo século e um novo milênio, este é um tema do qual sua excelência deveria manter-se ao largo. Veja o leitor o que vem ocorrendo de alguns anos para cá com a indústria fumageira. Eclodiram ações e mais ações milionárias de cancerosos e outros doentes, nos Estados Unidos e agora também em outros países do mundo, inclusive no Brasil. Há que se observar o cerco que se faz contra as gigantes dos cigarros, nos tribunais, nos meios de comunicação (com horários noturnos estabelecidos para veiculação dos comerciais) e diversas outras restrições. A França proibiu propaganda de cigarro durante corrida de Fórmula Um em seu território, ao mesmo tempo em que outros países planejam adotar legislação idêntica. E olhe que as verbas milionárias desse tipo de produto até agora vinham mantendo a velocidade dos carros nas pistas mais do que o combustível!

Produtos nocivos à saúde e que levam ao vício com muita freqüência são também vinculados a governos. Entretanto, a tendência é a desvinculação e não o contrário, como estamos vendo na medida de FHC. Veja o caso da coca, na Bolívia, da papoula (da qual se produz o ópio), na Turquia, no Afeganistão e outros. Nos anos 60 e 70, o próprio Fidel Castro era o maior “garoto-propaganda” dos charutos, os famosos “puros”, “havanas”, de Cuba. Mas pelas razões aqui expostas e preservação da saúde, resolveu abandonar.

Nestas questões, a exceção não vale, mas podemos citar Winston Churchill, o “Homem do Século”, que, quase que permanentemente ébrio, como premiê conduziu a Inglaterra com mais competência que seus sucessores sóbrios. Mas, reitero, trata-se de uma exceção.

Citar aqui os problemas provocados pelo álcool exigiria muito espaço. Há milhares de atividades que o presidente da República poderia incentivar. Os lucros que o País absorve com os impostos da cachaça, vendida aqui ou exportada, nem de longe cobrem um pedacinho sequer dos estragos que a malvada branquinha provoca com os internamentos em clínicas especializadas, males como cirrose, úlcera etc., acidentes de trabalho, acidentes rodoviários e outros. Na condição de sociólogo, de educador, nota zero para o professor FHC!

(*) B. Requena é editor de Internacional do JC e membro da Academia Bauruense de Letras.




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