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Desemprego atinge 60% do Fortunato

Desemprego atinge 60% do Fortunato

Redação
Os homens do bairro têm dificuldades em encontrar até mesmo “bicos” para aliviar as finanças domésticas.


Levantamento realizado por entidades assistenciais do Núcleo Fortunato Rocha Lima revela que 60% dos homens moradores do bairro estão desempregados. A situação é agravada pelo alto índice de analfabetismo e pelo estigma de bairro violento, que muitas vezes contribui negativamente na procura por emprego.

No Núcleo Fortunato Rocha Lima, os moradores alegam dificuldade em encontrar até mesmo empregos esporádicos - os populares “bicos, que representariam uma renda complementar na manutenção da família.

Não só as contas a pagar, mas principalmente a alimentação dos filhos torna-se uma grande preocupação na situação de desemprego. De acordo com a assistente social Débora Carneiro Floriano, da Casa da Esperança (Caesp), todos os homens que procuram auxílio na entidade têm família e filhos para sustentar. Sobrevivem de “bicos” ou auxílio de entidades filantrópicas.

A Caesp detectou não apenas que 60% dos homens no Fortunato Rocha Lima estão desempregados, mas que grande parte deles é analfabeta. Débora conta que, recentemente, muitos dos candidatos ao curso de pedreiro oferecido pela entidade não puderam freqüentar as aulas porque o pré-requisito era saber ler e escrever. Os interessados não tinham o Ensino Fundamental completo.

A baixa auto-estima é uma característica marcante entre as pessoas que encontram-se desempregadas, segundo Débora. A válvula de escape encontrada por muitos dos desempregados é o vício. “Eles não conseguem ver uma saída e apelam para as bebidas”, observa a assistente social.

As pessoas que vivem no Núcleo Fortunato Rocha Lima acreditam que o preconceito contra moradores do bairro - fruto de um projeto de desfavelamento que não atingiu seu objetivo inicial - é um dos obstáculos à contratação. A proximidade com o Instituto Penal Agrícola (IPA) de Bauru também é apontada como um dos motivos de desconfiança por parte das empresas.

Sebastião Morais de Oliveira é um dos que compõem a massa de desempregados do Núcleo Fortunato Rocha Lima. Embora tenha experiência registrada em carteira de trabalho como pedreiro, pintor e forneiro, não consegue encontrar uma fonte de renda para sustentar a esposa e o filho de 11 meses. “Andei exaustivamente pelo Jardim Estoril e pelos Distritos Industriais e não consigo nada. Sou pobre, mas sou honesto”, enfatiza.

Oliveira afirma que não tinha problemas para encontrar emprego quando morava no Jardim Carolina. “Quando eles vêem que eu moro no Fortunato, eles já descartam”, lamenta.

No Núcleo de Apoio Sócio-Familiar (NAF) Instituição Toledo de Ensino (ITE), que atende o Fortunato Rocha Lima, o diagnóstico de desemprego também é uma marca no trabalho desenvolvido pela entidade. De acordo com a assistente social Michele Viana, aproximadamente 70% das pessoas assistidas sobrevivem de “bicos”. “Sabíamos que existia muito desemprego aqui, mas não com tanta evidência”, expressa.

Cerca de 15% dos membros das 747 famílias atendidas atualmente pela entidade não têm o Ensino Fundamental completo. “Eles estão percebendo que isso dificulta na procura de emprego e estão tentando mudar”, afirma Michele.

A violência, segundo a assistente social, muitas vezes é uma das formas que os desempregados encontram de reagir a tal situação. A cobrança da família pode gerar, ainda, casos de violência contra mulheres e crianças. “Como dizia Karl Marx, o homem torna-se um ser social depois de ter envolvimento com o trabalho”, expõe Michele, citando o autor.




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