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Digitalmente excluídos

Digitalmente excluídos

Gustavo Cândido
Perigos da exclusão digital são discutidos na I Feira do Livro de Bauru, que terminou ontem

O sociólogo e professor da Faculdade Casper Líbero Sérgio Amadeu da Silveira foi um dos destaques da I Feira do Livro de Bauru, na última quinta-feira. Divulgando o seu primeiro livro, “Exclusão Digital e Cidadania”, o autor esteve no “Salão de Idéias”, para um bate-papo com o público, no qual alertou sobre os riscos que o País corre por não se preocupar em disseminar tecnologia para a população. “Lancei o livro para popularizar o tema e mostrar, defender, que não se combate a pobreza só com programas de alimentação básicos mas também com tecnologia”, afirmou. Após a palestra, Silveira esteve no estande do JC, onde falou com mais detalhes sobre o tema.

JC Cultura - Por que o problema da exclusão digital é tão importante na atualidade?
Sérgio Amadeu da Silveira - Estamos vivendo uma revolução tecnológica atualmente, a terceira revolução tecnológica da história. A a primeira foi na metade do século 18 – a chamada revolução industrial, na qual se descobriu o uso da máquina, que mudou completamente a estrutura de trabalho. A segunda foi 100 anos depois, na última parte do século 19, e tratou do uso intensivo de energia, principalmente do petróleo e da energia elétrica. As pessoas passaram a ficar dependentes da energia. Se você considerar o que está acontecendo no mundo, os governos, as prefeituras, vão ter que enfrentar esse problema da exclusão digital. Por que essa terceira revolução tecnológica vai fazer da informática, através do computador, a mesma coisa que a energia elétrica fez com as casas e com as cidades. O problema é que as elites estão ligadas em rede, o mundo está ligando-se em rede e existe uma parte da população que está excluída do uso e dos benefícios do uso dessa terceira revolução tecnológica.

JC - Em que essa falta de preocupação com a tecnologia pode prejudicar o Brasil?
Silveira - O Brasil é a 11.ª economia industrial do mundo, mas já foi a 8.ª, está perdendo espaço para países como a Índia (o maior produtor de chips de computador do mundo) ou a China. Nós estamos ficando atrás na relação econômica mundial e isso é decisivo para o País. Não adianta dizer: “Estou em Bauru e isso não tem nada a ver comigo”. É claro que tem. Cada vez mais, você vai ter que deixar a sua região, o lugar que você gosta, porque ele vai ficando pobre em tecnologia, pobre em economia e, assim, você não consegue atrair investimento, atrair negócios. Não adianta produzir produtos agrícolas e vender lá fora. Já imaginou quantas toneladas de banana, cana e café, soja, vão ter que vender para comprar um único CD de um programa sofisticado? Ou seja, ou o Brasil desenvolve tecnologia ou ele não conseguirá permanecer como país nem com o padrão que a gente tem no mundo hoje. Se você quer ver o futuro de um país, tem que investir em tecnologia como fez a Finlândia, que até outro dia ninguém sabia quem era e hoje é o país com o maior desenvolvimento tecnológico do mundo.

JC - Num País no qual grande parte da população não sabe ler e escrever não parece uma tarefa quase impossível pensar em “informatizar” essas pessoas?
Silveira - O Brasil tem pessoas que mal sabem escrever e aquelas que não sabem usar o computador, esse é o problema. Temos que acabar com esse duplo analfabetismo. É claro, existe uma falta de recursos. Agora tem, também, uma incompreensão. As pessoas dizem: “Existem problemas básicos de alimentação, porque vamos gastar com computador?”. É óbvio que tem que gastar, Isso seria a mesma coisa que dizer que é preciso acabar com o ensino superior, porque a maioria não consegue terminar o segundo grau. É preciso melhorar a situação, o nível de ensino e é preciso incorporar a tecnologia. Agora, isso é fácil falar. Quem precisa lutar por isso é quem está organizando... A Secretaria da Educação... Se não estiver bom, os estudantes têm de cobrar nível de ensino.

JC - O que exatamente os governos municipais e estaduais podem fazer para interromper esse processo de exclusão?
Silveira - O problema da exclusão é generalizado. Existem lugares nos quais a população não tem acesso a um telefone, quanto mais a um computador. Garantir o direito dessas pessoas, de estar em contato com o mundo, é dar cidadania para essas pessoas. Os Estados, os governos têm que cuidar de usar a tecnologia da informação para ampliar a cidadania e garantir o direito de acessos das pessoas, mesmo que isso seja usado para brincar. É melhor usar o computador para brincar do que não usar para nada. A solução talvez seja os governos gastarem em cursos para poder inserir essas pessoas na rede. Isso não é muito caro se você aproveitar os talentos nacionais, se adotar a solução de software não proprietário, usar o Linux. Quantas empresas não jogam computadores fora a cada dois anos? Porque não reciclar essas máquinas, a cada três se faz uma. Alternativa existe, o que precisa é ter clareza.

A TV USC, em parceria com o Jornal da Cidade apresenta hoje, às 11h30, 13h30, 18h, 20h e 21h50 a entrevista “Exclusão Digital”, com Sérgio Amadeu da Silveira.




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