Desestabilização e desvalorização da moeda, crise na Argentina e guerra. Apesar do cenário desfavorável para a economia, os moradores das redondezas do Recinto Mello Moraes têm motivos para comemorar na época da Grand Expo Bauru.
O movimento no Recinto começa cerca de duas semanas antes do evento, quando a grama é roçada, as baias e currais limpos e a estrutura ganha nova pintura. Ao mesmo tempo, os vizinhos da Expo Bauru começam a se movimentar também, prestando serviço às dezenas de trabalhadores que preparam o Mello Moraes para a exposição.
Seja servindo comida ou lavando roupas, famílias inteiras do Jardim Ferraz e arredores conseguem aumentar a receita mensal e engordar as compras de fim de ano, como é o caso da aposentada Ermenildes Souza. Moradora do bairro há 38 anos, ela vende gelinho durante o ano e, no período da exposição, lava e passa roupas. “Tenho clientes há mais de dez anos, mas a concorrência é grande”, afirma. Segundo ela, há uma verdadeira disputa entre as lavadeiras, pois “todo mundo quer ganhar um dinheirinho na Expo”.
Além de Ermenildes, a filha e o genro também faturam cuidando de carros e motos em frente da casa. Enquanto a reportagem entrevistava a aposentada, o genro preparava as estacas que definem o espaço do estacionamento da família. “As motos ficam no nosso quintal, pois é mais seguro”, explica dona Ermenildes, que prefere cuidar dos carros a lavar e passar. “A gente ganha mais”, afirma.
Guardar carros e motos é a atividade mais lucrativa, segundo os entrevistados. Por esse motivo, a concorrência é forte e, na palavra dos entrevistados, desleal. “Algumas pessoas guardam os carros a R$ 1,00 ou R$ 1,50 para ganhar mais, mas o preço é muito baixo”, explicam. A família Souza cobra R$ 3,00 para cuidar dos carros, mas garante a segurança dos veículos.
A tradicional família Ferraz, fundadora dos bairros vizinhos do recinto, Jardim Ferraz e Solange, aproveita a Grand Expo para trabalhar e se divertir. É que a família é proprietária dos terrenos usados para estacionamento ao redor do recinto, e reúne os amigos para “churrascar” enquanto trabalham e faturam. “A família inteira espera ansiosa pelo evento”, afirma Hélio Santagostino.
Comida
Muito trabalho resulta em muito apetite. Com o ritmo acelerado na montagem dos estandes os expositores e trabalhadores da Grand Expo recorrem à comida caseira servida no Bar da Edna, em frente à bilheteria do Mello Moraes.
Edna Rodrigues Pinheiro, proprietária do estabelecimento, espera o ano inteiro pela Grand Expo, quando chega a servir 30 refeições diárias. “Só sirvo comida durante a montagem da exposição. Fora essa época não compensa”, explica.
Para melhorar o atendimento ao público, que consome “a melhor comida caipira”, segundo Edna, o bar está passando por uma reforma que termina até o primeiro dia de festa. “Aproveito essa época que ganho mais dinheiro para investir no bar. O investimento é grande, mas o lucro é garantido”, comemora Edna.
O cardápio é caseiro e variado. Arroz, feijão, frango assado, carne de panela e salada de alface satisfazem a equipe de preparação da Grand Expo.
Há cinco anos, o bar serve marmitex no almoço e no jantar para os trabalhadores do Recinto. Porém, além da comida, a cerveja e a pinga aumentam o faturamento da dona Edna. “Eles sempre vem tomar um aperitivo aqui”, afirma.
E como o trabalho começa de manhã, diariamente, até o evento começar, entre 9 e 10 horas, Ruth Alves de Souza traz quitutes doces e salgados para o café da manhã no Recinto. Sonhos, esfirras, enrolados de presunto e queijo acalmam os ânimos, pelo menos até o almoço.
Depois da abertura da Grand Expo, Ruth deixa os salgados de lado e monta uma barraquinha de venda de cigarros, doces e cartões telefônicos. “A Grand Expo é uma oportunidade diferente para se ganhar dinheiro na cidade”, explica Ruth, há três anos participando da exposição.
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