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Ossama Bin Laden é brasileiro

Ossama Bin Laden é brasileiro

Zarcillo Barbosa
Deu nos jornais que um pedreiro baiano quer registrar seu filho com o nome de Ossama Bin Laden. Nosso Ossaminha nada tem que o aproxime do bilionário saudita a não ser o fato de morar com os pais e oito irmãos num barraco sem televisão na cidade de Embu. A pobreza do Afeganistão onde mora seu homônimo, serve bem de comparação com a favela miserável da periferia de São Paulo. A troca de tiros entre traficantes e as vítimas tombadas por balas perdidas lembram o drama porque passa o povo afegão com as bombas errantes dos norte-americanos.

Nascido há menos de 30 dias e pesando 3,2 quilos, Ossaminha transformou-se em pivô de uma grande polêmica. O pai pedreiro já teve que ir ao Fórum para tentar convencer o juiz a deixá-lo registrar o bebê com o nome do terrorista.

Seu Osvaldo diz que não abre mão do nome. Está disposto a recorrer a todas as instâncias. Se o juiz não concordar, vai registrar o menino como Mateus, o evangelista, mas ele será chamado de Ossama Bin Laden Feliciano de Oliveira Soares. Cada um dá o nome que melhor lhe apraz. Se o garoto assim batizado não gostar, que peça mudança quando se der por gente. Desde que não seja George Bush.

Por coincidência, o também Oswald (sem a letra o) de Andrade, grande renovador da literatura e do teatro, dizia sempre que nome é uma coisa tão importante que somente deveria ser escolhido por quem vai recebê-lo. Quando seu primeiro filho nasceu quis deixá-lo sem nome. As autoridades escolares negaram-se a matricular o garoto sem a Certidão de Nascimento. Irritado, foi ao Cartório e transformou o filho em homônimo de uma conhecida marca de lança-perfume - registrou-o como Rodometálico de Andrade. Sempre irreverente, quando nasceu o segundo macho lá em casa, nem esperou pela negativa do diretor do Grupo Escolar. Sapecou: Rolando Escada Abaixo de Andrade.

No tempo de Salazar, a Igreja era ligada ao Estado em Portugal e o ditador, para prevenir extravagâncias, dava somente algumas opções de escolha. É por isso que lá há tantos Antônio, Manoel e Joaquim. Certa vez uma família da aldeia dos Garcia, no Norte de Portugal, quis homenagear o padrinho Ari, radicado em Bauru. O padre negou-se a fazer o batizado. Para resolver a questão foi adotada a mesma estratégia do pai de Ossaminho. Hoje, o único Manoel que se chama Ari em Portugal é o afilhado do antigo dono da Casa Lusitana.

Antes da Segunda Guerra Mundial parte da imprensa brasileira exaltava os feitos de Mussolini e Hitler. Quando o conflito terminou com os brasileiros já esquecidos das tendências fascistas do governo Vargas, começaram a aparecer nas cadernetas de chamada das escolas primárias os homônimos dos ditadores do Eixo. Os japoneses preferiam Hiroito, como o imperador do Sol Nascente. Havia ainda os de esquerda que optavam por Lênin.

Um decreto do governo permitiu que os pais escolhessem outros nomes para os filhos, nessa altura adolescentes. Confesso não me lembrar de ninguém que tivesse se arrependido. Engraçado que jamais li que houvesse brasileiro com o nome dos líderes vencedores como Churchill, Montgomery, MacArthur, Roosevelt, Eisenhower.

Igual ao pedreiro do Embu, os pais daquela época estavam convencidos de que seus homenageados eram pessoas boas que só queriam melhorar o mundo a seu modo. Seu Osvaldo, contam os jornais, trabalhou nove anos em Bagdá construindo estradas para a Mendes Júnior. Quando nasceu o quinto filho, hoje com 8 anos, estava tudo certo para que ele se chamasse Saddam Hussein. Mas a morte do pai da esposa Maria o fez mudar de idéia. Quer voltar para o Iraque, embora garanta que não seja terrorista.




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