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Reciclagem sustentaria mais 300 famílias

Reciclagem sustentaria mais 300 famílias

Josefa Cunha
Se o volume de materiais retornáveis fosse maior, programa poderia dar um salto gigantesco em termos de atendimento social, mas a Prefeitura não tem planos imediatos de investimentos nesse setor

O material reciclável descartado nas 9 mil toneladas de lixo produzidas mensalmente pela população bauruense poderia tirar cerca de 300 famílias da miséria. Tal possibilidade, no entanto, dependeria da mudança de hábito da comunidade no que tange à separação, ainda dentro de casa, dos produtos a serem inutilizados. Atualmente, apenas uma pequena parcela da sociedade participa efetivamente do programa de coleta seletiva, que, por sua vez, atinge somente 53% da cidade.

O titular da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma), Luiz Pires, afirma que as 30 famílias hoje atendidas pela central de reciclagem do Jardim Redentor representam 10% do número passível de ser beneficiado com o serviço de triagem e venda de recicláveis. “Ao invés de 30, o programa poderia incluir mais de 300, desde que houvesse uma conscientização geral sobre a necessidade de se descartar os produtos corretamente”, enfatizou, referindo-se ao acondicionamento em separado de papéis (jornais, revistas e caixas longa vida), plásticos, alumínio (latinhas) e vidros.

De acordo com Pires, 60% do lixo doméstico é retornável, ou seja, 180 das 300 toneladas produzidas diariamente em Bauru poderiam ser recicladas. A coleta seletiva da Prefeitura, contudo, recebe apenas 3% - ou 9 toneladas - do volume total. O resultado dessa incoerência é tão descabido quanto: o município perde uma renda isenta de custos e esgota a já limitada capacidade do aterro sanitário.

A Semma está às vésperas de acrescentar mais um caminhão à frota de três responsável pela coleta seletiva. O veículo deve ser cedido pela Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (Emdurb), mas a informação não foi confirmada. A ampliação do serviço, porém, de pouco adiantará se a comunidade continuar de olhos fechados para a reciclagem. “Não se trata mais apenas de uma questão ambiental, mas de uma ajuda social àqueles que têm no lixo sua fonte de subsistência”, sublinhou o secretário.

Nem mesmo a proposta de instalação de uma nova central de reciclagem teria sentido no contexto atual. “A quantidade de lixo reciclável que obtemos não comportaria outra estrutura”, assinalou, afastando, pelo menos a princípio, proposta apresentada por catadores de papel do Núcleo Fortunato Rocha Lima. Pires foi categórico ao dizer que a Semma não tem projetos para criar uma segunda central, muito particularmente porque o requisito para o respaldo do investimento seria justamente a ampliação no descarte de recicláveis.

Não fosse apenas a despreocupação popular em relação à reciclagem, a crise social também exerce influência negativa no serviço de coleta seletiva. Muitas pessoas desempregadas sobrevivem da coleta informal nas ruas, diminuindo consideravelmente o volume de materiais que deveria ser destinado à central de reciclagem. “Os catadores sabem quais são os locais de coleta e chegam antes dos caminhões. Uma grande parte carrega aquilo que considera de valor e deixa o que não interessa para trás. Isso é um problema para quem trabalha na central de reciclagem e para o meio ambiente também, pois os catadores não têm preocupação com o material que não utilizam, o qual acaba sendo jogado nos fundos de vale”, agravou Pires.

Além de não vislumbrar chances iminentes de montar uma nova estrutura para reciclagem, Pires tampouco acha viável a possibilidade de inserir os catadores do Fortunato na central do Redentor. “Com o volume obtido na coleta seletiva, conseguimos, no máximo, manter aquelas 30 famílias. Colocar mais gente dentro daquela estrutura ou substituir os atuais beneficiados seria uma injustiça, pois estaríamos apenas transferindo uma situação. Temos que criar condições para ampliar o projeto, e não reduzi-lo”, ponderou.

Por não existirem projetos, ninguém da Administração Municipal soube precisar quanto custaria a estrutura pleiteada pelos catadores do Fortunato Rocha Lima, que requisitaram a cessão de equipamentos de segurança (luvas, botas, máscaras), local, prensa e orientação técnica para o desenvolvimento do trabalho. Segundo posicionamento da Secretaria Municipal dos Negócios Jurídicos, a ampliação do projeto deve ocorrer caso haja outros interessados além dos já beneficiados. Para a Secretaria do Bem-Estar Social (Sebes), que mantém o programa Associação de Catadores de Materiais Recicláveis, a ampliação também é possível. “Para nós, isso só implicaria a disponibilização de elementos humanos, até porque trata-se de um programa do Município, extensivo, por direito, a todos os se enquadrarem na categoria”, destacou Janete Fraga da Silva Sôniga, coordenadora do programa.

Iniciativa privada tem interesse

Na contramão da Administração Municipal, algumas empresas privadas estariam bastante interessadas em montar centrais de triagem e comercialização de lixo reciclável. No momento, uma proposta concreta nesse sentido está sendo analisada pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma), que vem fazendo as vezes de consultora.

O secretário da pasta, Luiz Pires, adiantou que a proposta em questão prevê investimentos da empresa na construção da central e em estratégias de marketing voltadas à conscientização popular. A idéia é convencer os bauruenses a separar o lixo doméstico e entregá-lo, voluntariamente, nos postos de coleta. A entrega espontânea, vale destacar, seria imprescindível para a viabilidade da central particular, uma vez que a manutenção do serviço de coleta em domicílio é caro.

O alto custo da coleta domiciliar, por sinal, é um dos fatores que afastam dos planos da Prefeitura a instalação de novas centrais de reciclagem. Segundo Pires, o serviço exige a presença de coletores de lixo concursados, ou seja, qualquer ampliação implicaria a imediata contratação de mais funcionários. “No momento, não temos coletores concursados disponíveis. Além de todo o investimento material, teríamos que realizar concurso público, mas isso só será possível a partir do momento em que estivermos adequados à Lei de Responsabilidade Fiscal. Como se vê, a questão não é tão simples quanto parece”, comentou o secretário, que se diz bastante crente no sucesso da participação privada.




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