Bauru e grande região - Sexta-feira, 04 de outubro de 2024
máx. 31° / min. 12°
04/11/01 00:00 -

Famílias querem estrutura para sobreviver do lixo

Famílias querem estrutura para sobreviver do lixo

Josefa Cunha
Quem imagina o caos social como um problema do futuro não deve conhecer de perto a situação vivida pelas pessoas que têm no lixo sua fonte de subsistência. Enquanto a lembrança da maioria em relação ao lixo que produz termina com o despacho nos latões porta afora, famílias e mais famílias de pequenas e grandes cidades percorrem quilômetros por dia em busca de materiais descartados que possam render-lhes algum dinheiro, ou melhor, míseros trocados. Em Bauru, embora não haja estatísticas oficiais, estima-se que pelo menos 400 famílias vivam exclusivamente do lixo doméstico.

Como se não bastasse o trabalho subumano de catar papel nas ruas e revirar lixeiras e bolsões, essas pessoas moram em bairros mal-estruturados e casas em condições idem. Os problemas as atingem em cadeia: sem qualificação e educação, não conseguem empregos dignos; normalmente com famílias numerosas, mal garantem alimentação para todos; sem condições de custear moradia, vivem em favelas ou bairros muito pobres, onde carência e marginalidade caminham lado a lado.

Os moradores do Núcleo Fortunato Rocha Lima, conhecido também como Desfavelamento, que o digam. Talvez não seja falso afirmar que o bairro concentra a maioria dos catadores de lixo da cidade, uma vez que mais de 60% de seus habitantes estão desempregados; os que têm emprego digno, com carteira assinada, não chegariam a 10%. Das 560 famílias que residem no Fortunato, cerca de 150 sobrevivem da venda de produtos recicláveis recolhidos nos lixos. Além da Associação dos Catadores de Lixo de Bauru, que hoje reúne 25 pessoas no Jardim Redentor, tem-se também registro de catadores na Pousada da Esperança, Santa Edwirges, Parque Jaraguá, Parque Roosevelt, Parque Real e, numa escala menor, em praticamente todos os pontos periféricos pobres do município.

Os mais estruturados possuem carroça para a coleta, mas é a pé que a grande parte dos catadores trabalha, chegando a andar 20 quilômetros diários, debaixo do sol, para recolher uma média de 50 quilos de recicláveis. Com sorte, “livram” R$ 5,00 por dia, perfazendo uma renda mensal de aproximadamente R$ 120,00, ou seja, salário para colocar o básico na mesa. Para essa gente, a alta de R$ 0,02 centavos do pãozinho francês fez grande diferença. Comprar roupas, coisas para o lar ou pagar as contas fixas não entra na rotina. “Conta em dia significa deixar os filhos passando fome”, simplifica uma catadora e dona de casa do Fortunato.

E os catadores ainda “vivem bem” perto daqueles que nem assim se arranjaram. Baixa-estima e depressão atingem diretamente uma fatia significativa de desempregados, cujas famílias ficam abandonadas à própria sorte. Os que não têm ânimo para enfrentar as adversidades e aceitar a ingrata atividade de catador estão passando fome, mal tendo o que dar de comer aos filhos. No Fortunato Rocha Lima, por exemplo, há crianças passando dias a base de mingau de farinha com água. O caos não é mais iminente, mas uma realidade que urge providências do Poder Público.




publicidade
As Mais Compartilhadas no Face
(SF) © Copyright 2024 Jornal da Cidade - Todos os direitos reservados - Atendimento (14) 3104-3104 - Bauru/SP