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História de Pescador: "Anastácio, meu afilhado"

História de Pescador: "Anastácio, meu afilhado"

Selma Guardiano Swenson
O jacaré-de-papo-amarelo, flagrado pelo Jornal da Cidade, no rio Bauru, tem inspirado muitas histórias. Nosso mascote, que em breve terá um nome especial (a comissão está analisando as sugestões enviadas), já é querido pelos leitores e citado como fonte de inspiração. Hoje, a história de pescador foi escrita por uma mulher que narra uma aventura, triste infelizmente, de um primo do nosso amigo. Confira!


Em janeiro de 1983, fui passar as férias de verão em Campo Grande (MS), na casa de um casal amigo. Fazia aproximadamente dez anos que éramos amigos e graças a Deus a nossa amizade continua. Por essa época, meus amigos eram pais de três garotos com idades que variavam entre treze e sete anos. Meus amigos residiam em uma casa com um quintal enorme, se não me falha a memória media 22x66m. Ali tinham o jardim dianteiro, os corredores laterais e ao fundo estavam a piscina (olímpica), a horta e o pomar. Os meninos possuíam duas cadelas policiais: Laika e Lassie.

Lassie é figura importante nos fatos que vou narrar:

Um dia o marido de minha amiga chegou em casa com uma criatura estranha e falou para as crianças: “agora ele vai ficar aqui em casa”. Nós olhamos curiosos. A criatura tinha cara de poucos amigos, não falava nada, não respondia as nossas perguntas. Ficou deitada no piso da área de serviço. Quando estávamos brincando na piscina, ela nem se aproximava, porém quando não estávamos lá, ela ia nadar e ficava um tempão brincando. Foi então que a Lassie teve onze filhotinhos. Eram fofinhos, fofinhos! A coisinha mais linda do mundo! Ela morria de ciúmes. Não saía de perto do canil e nós evitávamos chegar nas proximidades... Vocês não vão acreditar, mas é a pura verdade: a criatura decidiu ir mexer com os filhotinhos da Lassie. Estava sempre rondando o canil. Quando Lassie percebia, investia contra ela mas a criatura se defendia e batia na cadela. As brigas eram feias!

Dia 22 de janeiro seria o aniversário natalício de minha amiga, que decidiu oferecer um jantar para os parentes e amigos. Logo a casa estava em clima de festa. Aguardávamos convidados de Bauru, de Presidente Prudente, de São Paulo, de Miranda, de Rancharia, de Corguinho (é assim mesmo que se escreve), além dos amigos e parentes de Campo Grande. Ia ser uma festa pra ninguém botar defeito! Alguns dias antes do aniversário minha amiga falou para os filhos: “Vamos convidar a “tia” Selma pra ser madrinha desse sujeito, eu penso que ele não foi batizado, é selvagem demais e a gente nem tem como saber”. Os meninos concordaram e eu aceitei. Como não sabíamos o nome da criatura batizei-a com o nome de Anastácio. Não sei por qual motivo escolhi tal nome...

Mesmo batizado Anastácio, não “virou gente”, continuou provocando a Lassie e as brigas ficavam cada vez mais feias. Um dia ela mordeu tanto ele que nos deu pena, ele por sua vez bateu nela de tirar sangue. Na véspera do aniversário, nós estranhamos que o Anastácio ficasse tomando banho de sol sem se mexer na beira da piscina. Jogamos água sobre ele e nada. Então fomos almoçar. Quando voltamos ele continuava do mesmo jeito. O filho mais velho de minha amiga se aproximou dele e gritou: “Gente vem ver, o Anastácio está morto!” Ele morreu, e agora? Chegamos perto do morto meio desconfiados. Chamamos, cutucamos, gritamos e nada. Estava mortinho mesmo. E agora? Fazer um velório numa casa ornamentada para uma festa! Isso nem pensar. Reuni todos e propus sepultar o Anastácio sob o pé de jambo, no pomar. Ninguém, a não ser nós, sabia da existência dele e por isso não iam dar falta. Todos concordaram e assim foi feito. À tarde fomos jogar “mau-mau” para esquecer o ocorrido, o tempo foi passando... À noite resolvi enviar um postal para um amigo que lecionava comigo no “Eduardo”, em Piratininga. É lógico que contei sobre o Anastácio... A festa de aniversário foi excelente, o jantar ficou uma delícia e a música e a dança estavam ótimas!

No final de janeiro voltei para Piratininga, morava lá naquela época, e comecei a me preparar para o retorno às aulas.

No primeiro dia de trabalho, ao encontrar com o meu colega, ele me disse: “Fiquei preocupadíssimo com você. Onde você estava com a cabeça para fazer o que fez? Enterrar o pobre do rapaz no quintal! Você não teve medo da polícia? Eu não acredito que você fez o que fez. É mentira sua, não é?”

Todos me olhavam boquiabertos. Eu permanecia calada. Por fim esclareci o grande mistério. É tudo verdade sim, sepultamos o Anastácio no quintal, só que o Anastácio não era uma pessoa como vocês pensam, ele era um JACARÉ!!!

Selma Guardiano Swenson




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