O PÉ GRANDE

Dizem as línguas faiscantes que o corpo todo já havia saído, a criança já estava chorando, mas um de seus pezinhos, não se sabe ao certo qual, ainda permanecia preso em sua mãe. Os médicos responsáveis pelo parto entraram em pânico, pois não achavam uma solução para aquele desespero. Até que, com jeitinho, puxando ali, esticando aqui, finalmente o pezinho foi libertado e... como era grande! Extremamente desproporcional... espantoso. O tempo foi passando e o seu maior problema sempre foi o pé grande. Em casa, na escola e na bicicleta sempre o pé grande atrapalhava, mas, com muita dedicação e respeito dos seus pais e amigos, esta questão foi bem contornada. No entanto, o menino cresceu e, pelo curso natural da vida, seus problemas eram diferentes, mas o pé grande ainda prevalecia. Agora também tinha o carro, o trabalho, namoradas e, principalmente, atravessar avenidas sem canteiro central e local destinado aos pedestres, como a nossa Duque de Caxias. Um dos pés cabia perfeitamente entre as tartarugas, mas o outro, o pé grande, ficava além das faixas estreitas, bem próximo aos veículos, obrigando-o a ficar de lado no meio da avenida, sem saber o que vinha atrás. Certo dia, ao atravessar uma dessas avenidas, esqueceu-se do pé grande e permitiu que este invadisse a via, sendo atropelado.

Tem também a história do narigudo que tentou atravessar a av. Cruzeiro do Sul e deparou-se no meio de uma ultrapassagem, mas essa fica para depois. Em respeito aos pedestres de Bauru, vai aí uma boa dica às autoridades que pretendem uma promoção pessoal fazendo algo de útil pelo povo desta cidade. Por hora, fica minha admiração em relação a EMDURB, tão competente para a aplicação de multas de trânsito, mas neste trecho que o narigudo tentou atravessar, entre a Rondon e o Supermercado, não há faixa de pedestres, semáforo, obstáculo, lombada e nem ao menos tartarugas dividindo as pistas. Que moral!! Que respeito à Lei e dedicação ao povo!! Ah... quanto ao pé grande... por sorte, após o rápido e eficaz atendimento no pronto-socorro local, realizou uma plástica bem sucedida pelo SUS e conseguiu diminuir o tamanho do seu pé: tirou os dedos. Ainda assim, sua maior dificuldade não é andar, mas atravessar tais avenidas. (Jorge dos Santos Júnior - OAB/SP 163.922)