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Empresário deve usar a crise a seu favor

Empresário deve usar a crise a seu favor

Gustavo Cândido
Situações de crise mundial, como a que vivemos hoje, com os reflexos das dificuldades econômicas da Argentina e a guerra travada na Ásia após os atentados nos Estados Unidos, podem trazer conseqüências drásticas para empresas de diversos setores, principalmente, as que possuem clientes ou fornecedores estrangeiros. Mas, no geral, essas crises (mesmo que não tenham origem externa) também acabam afetando empresas menores, não tanto por fatores concretos, mas por insegurança, desconhecimento e exagero de seus dirigentes, que acabam se preocupando de forma exacerbada com um problema que é muito menor ou está muito mais distante do que ele imagina. É a chamada “síndrome da crise”.

De acordo com o psicólogo organizacional Marcelo Herrera Gonçales, toda a agitação econômica e militar mundial das últimas semanas têm feito com muitos empresários manifestem esse tipo de comportamento exacerbado em suas empresas. Quando isso acontece, segundo Gonçales, “o empresário passa a adotar um novo critério para as dificuldades que a sua empresa passa e acredita que a crise é que está prejudicando os seus negócios”, explica. O resultado é que a empresa entra em um processo de paralisação do seu empreendedorismo, acabam os investimentos no material humano e a queda de qualidade e produtividade vêm na seqüência. “O que acontece é que, quando diminui os investimentos no potencial interno das empresas, o empresário leva seus colaboradores a se comprometerem menos - pois eles não sabem até quando vão ter o emprego garantido, se sentem inseguros. Essa falta de comprometimento afeta diretamente a qualidade da produção e conseqüentemente a produtividade da empresa que, ai sim, entra numa crise”, diz o psicólogo.

A tendência então é acreditar que se estava certo o tempo todo, que a crise realmente iria afetar a sua empresa, como afetou. É ai que o empresário se vê preso a um ciclo vicioso que ele mesmo criou ao temer uma crise que talvez nem fosse atingi-lo se ele continuasse a agir e investir normalmente nos seus negócios.

Inconsciência e culpa

De acordo com Gonçales, o empresário que cria essa armadilha para a sua própria empresa age inconscientemente, provavelmente com o objetivo de justificar a falta de investimento. “Todo o ser humano tem uma tendência a culpabilizar o ambiente externo pelo o que acontece consigo. Quando somos crianças, culpamos nossos pais ou professores pela nossa falta de liberdade. A tendência é sempre jogar a culpa no ambiente externo, seja no patrão, Deus, o Governo, ou a crise no Exterior”, explica. O psicólogo ressalta que, obviamente, é possível ser atingido por fatores externos quando se interage com eles, mas lembra que todos têm sua parcela de responsabilidade no que acontece consigo mesmo.

A falta de conhecimento de uma determinada situação, aliada ao excesso de informação sobre ela, também pode colaborar para que o empresário creia que a crise vai atingi-lo. Um exemplo atual são as correspondências com a bactéria antraz que estão sendo enviadas nos Estados Unidos e em alguns países. Não há razão para que um pequeno empresário do Interior do Brasil vá acreditar que pode ser uma vítima de tal ato de terrorismo. Não há razão para ele trazer a crise até sua empresa.

Por isso, creditar todos os problemas da empresa a um fator externo como uma crise, pode ser apenas uma maneira de se defender ou de se desculpar (mais uma vez) inconscientemente. “Se de uma hora para outra tivéssemos a paz no mundo e a Argentina se recuperasse, esses empresários iriam dirigir o seu foco para qualquer outra crise e acreditar que ela é o grande problema para os seus negócios”, afirma Gonçales.

Transformando crise em desafio

Para o psicólogo as crises estão intimamente ligadas ao dia-a-dia das empresas. A diferença deve estar em como encará-las. Na opinião de Gonçales, as crises devem ser usadas a favor da companhia, como uma motivação para a superação de desafios e não como uma razão para paralisar o progresso da empresa. “É preciso que os empresários revejam os seus modelos de gestão em momentos de crise. Eles devem fazer reavaliações para saber onde podem otimizar os seus recursos internos e canalizar toda essa energia do seu negócio no crescimento da empresa”, ensina o psicólogo.

É importante, também, que os pequenos empresários busquem conhecimento sobre o que consideram ser a crise que vai abalar a sua empresa e que filtrem suas informações para que possam se manter focados nos seus negócios de uma maneira otimista. “O empresário precisa transformar a palavra crise em desafio, assim ele consegue se auto-estimular e também levar estímulos para os seus funcionários para que eles se sintam confiantes para superar essas dificuldades. Quando isso acontece, se instala um ambiente promissor, de sucesso, de auto-confiança, no qual as pessoas se sentem capazes e valorizadas. Com isso, se garante a sobrevivência de uma empresa”, afirma Gonçales.




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