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O que assusta os homens na cama

O que assusta os homens na cama

Gustavo Cândido
O homem carrega, por uma herança cultural, a fama de ser aquele que conduz os relacionamentos amorosos, da paquera à cama. Como não é esse poço de segurança e superioridade, porém, na prática, essa expectativa não é realidade em 100% dos casos. Por isso não é raro conhecer indivíduos que se perdem na hora de tomar as iniciativas de aproximação de uma mulher, por exemplo. E quando o assunto é sexo, existe um dado mais curioso: vários homens se assustam com algumas atitudes femininas na hora H. Esse “susto”, geralmente atrapalha o desempenho dele e, em alguns casos, pode acabar com a relação.


O último filme do cineasta Stanley Kubrick, “De Olhos Bem Fechados”, resvala nesse problema. Na história, o médico vivido por Tom Cruise fica abalado quando sua esposa, no meio de uma conversa, revela que teve fantasias sexuais com outro homem. Uma história banal, que não passou de um devaneio da esposa, se torna um problema enorme na cabeça do médico que sai pela noite à procura de um misto de vingança e tranqüilidade que acaba por colocá-lo em uma grande encrenca. Resultado: seu casamento e sua vida são colocados em risco. Tudo por causa de uma frase, de uma fantasia sexual.

Na vida real, as histórias não são muito diferentes (leia nos boxes os três depoimentos de homens que ficaram assustados com suas parceiras). De uma forma geral, o homem se sente incomodado quando a mulher toma iniciativa e, literalmente, parte para cima em busca de mais sexo ou de diferentes formas de se obter prazer. Confusos, os “garanhões” ficam sem ação, e normalmente oscilam entre tentar satisfazer o desejo da parceira - mesmo que a contragosto - ou acabar com a iniciativa rotulando a companheira. “Se ele não quer manter relações sexuais porque alega estar cansado e ela quer, ele reclama que ela está ‘fogosa’ demais e pergunta o que está acontecendo. Ela acaba achando que está exagerando mesmo e concorda com ele, ficando sem sexo”, cita como exemplo a professora do Departamento de Psicologia da Faculdade de Ciências da Unesp Bauru, Ana Cláudia Bortolozzi Maia.

De acordo com a professora, esse comportamento é resultado de um fator cultural predominante no Ocidente, segundo o qual o homem é o ser viril, forte, agressivo e seguro, enquanto a mulher é a criatura frágil, doce e submissa. “Isso está no imaginário social e homens e mulheres agem respeitando essas ‘regras’ culturais mesmo sem perceber, inconscientemente”, diz. Na opinião de Ana Cláudia Bortolozzi, o padrão social esperado em todo relacionamento homem-mulher, inclusive no sexo, é que o homem tome a iniciativa e demonstre ser o mais “fogoso” do que a mulher. E isso não é apenas machismo. “O homem acha que tem que ser assim, mas a mulher também, porque ela foi criada para ser a submissa. Então, muitas vezes quando ela toma a iniciativa, acaba até se sentindo culpada por isso como se fosse uma pervertida”, afirma a professora. “O conceito de mulher sedutora esconde isso, essa idéia de que é a mulher que vai para cima”, completa.

Ana Cláudia Bortolozzi acredita que é muito difícil passar por cima desses padrões há tanto tempo enraizados no comportamentos masculino e feminino. Por mais que se fale de sexo hoje em dia e que as mulheres tenham assumido novas posturas em outras áreas, muitas vezes, para a professora, ela acaba reproduzindo o ensinamento conservador que teve desde pequena. “Toda vez que a mãe diz para filha que vai sair à noite: ‘tenha juízo’, ela não está querendo dizer, use camisinha se for ter uma relação sexual, ela está dizendo: não mantenha relações sexuais, está reproduzindo o que a sua mãe lhe ensinou, que a mulher não deve se mostrar interessada em sexo embora ela queira isso tanto quanto o homem”, explica. O mesmo acontece no caso dos homens, segundo Bortolozzi, que ao contrário das mulheres precisam se mostrar interessados em sexo para provar sua masculinidade. “Muitas vezes o jovem nem está muito a fim, mas precisa procurar por sexo para fazer o seu papel como homem”, diz.


Desempenho comprometido


O susto com a parceira na hora H acaba gerando um segundo problema para os homens, na maioria do casos. O medo de não conseguir uma ereção muitas vezes acaba com a relação sexual antes dela começar e, em alguns casos, compromete até o relacionamento. “O homem normalmente tem um grande problema quando não consegue uma ereção porque teme ser considerado impotente ou fraco”, diz a psicóloga Ana Lúcia Garcia. Nos casos extremos, a psicóloga afirma que eles associam o que consideram um fracasso na cama com a parceira e por isso preferem se livrar dela. Há também a vergonha porque ele sempre aprendeu que deve ser viril, machão. “O que acontece é que ele culpa a mulher por não ter conseguido e ereção e ainda por cima fica com vergonha de que ela o ache um fracasso, por isso acaba por não querer vê-la mais”, explica. A psicóloga salienta, porém, que nem todos os homens agem dessa maneira, embora todos se sintam mal quando falham. “Eles ainda não entenderam que isso é uma coisa normal, que pode acontecer com todo homem por diversas razões e não é motivo de vergonha algum”.


Insaciável

“Era a primeira vez que a gente transava depois uma paquera de algumas semanas e algumas saídas. Ela era muito bonita e eu estava muito a fim. Fomos para um motel e foi tudo como eu imaginava. O problema era que ela não se cansava de jeito nenhum. Depois de um certo tempo eu já não agüentava mais, precisava de um intervalo para me recuperar e ela lá, pedindo mais. Inventei mil desculpas e brincadeiras para ver se ela esfriava um pouco, mas não teve jeito. Fiquei meio ‘assim’ depois, porque não sabia o que ela iria pensar de mim. Nosso namoro nem chegou a começar”. (Carlos*, 32 anos )


“O que eu faço com isso?”

“Um dia, de uma hora para outra minha namorada, antes da gente ter relações sexuais, abriu a sua bolsa e despejou na cama uma porção de objetos, cremes e coisa para usar na hora do sexo. Até uma corda tinha. Fiquei olhando para aquilo sem saber o que fazer. Ela me disse o que queria que eu fizesse e fiquei assustado. Ela nunca tinha falado nada sobre essas fantasias e eu fiquei surpreso por isso... Fiz tudo o que ela pediu e foi bom”. (Mário Sérgio*, 29 anos)


“Aqui e agora”

“Um dia estava viajando de carro com a minha namorada e ela, no meio da estrada pediu para eu parar no acostamento. Não entendi direito porque, mas parei. Desliguei o carro e ela me ‘atacou’, dizendo que queria transar comigo. Fiquei assustado porque ela nunca tinha sido tão direta antes. E a gente já estava namorando há uns seis meses. Acabamos transando no meio da estrada correndo o risco de sermos vistos por todo mundo. Achei legal, mas depois disso fiquei meio com o pé atrás, sempre esperando alguma novidade dela.” (Luis Fernando*, 21 anos)




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