Pois sim, senhores, temos teatro. Verdade que o bilhete de algumas peças é um drama de caro. Mas isso é de somenos. Talvez o custo do projeto justifique os preços. O que vale é que temos teatro. E já lhe deram nome. Homenagem mais que justa.
Outro dia fui convidado para conhecê-lo. Levava-se lá um espetáculo gratuito. Por favor, travem as bocas. Nem tudo nós podemos escolher.
O catálogo dizia ser pantomima. A platéia era de crianças.
Um artista muito simpático subiu ao palco. Explicou em poucas palavras o seu show e deu início aos trabalhos. Meteu uma bola vermelha no nariz. Gesticulou. Pulou. Dançou.
Eu não porei aqui sofrível. Nem suntuoso. Era o que era. Mímica. A criançada ora ria, ora estava ausente.
No intervalo, puxei conversa com a meninada próxima a mim. Uns gostavam, outros desconheciam. Alguns não entenderam. Ainda outros contavam receber um lanche ao final. Com refrigerantes e balas.
O ator voltou. Pôs lá uma música. Fingiu tocar um violino inexistente e logo abandonado. Grudou-se a uma boneca de pano, com tamanho de gente. Rodopiou com ela até cansar-se e atirá-la ao canto. Sentou-se em um banquinho. Fez caras e bocas. A garotada ensaiou aplausos.
O mímico levantou-se, pediu silêncio com as mãos. Coisa compreendida por todos. Fez lá uns gestos de que ia para o final. A música soou estridente. Ele dobrou os joelhos. E, como se dotasse os pés de molas impulsionou para cima o seu corpo. Deu três viravoltas no ar, em torno do próprio eixo e tocou o solo. Novamente, e novamente, repetiu a exibição.
Quando ia pela quinta ou sexta vez alçar-se a si mesmo ao ar, inesperadamente falseou o pé e, cataplum, caiu num buraco do palco, desses reservados aos pontos.
Eu não sei dizer se os mímicos pensam em silêncio. Pouco os conheço. Este, talvez em formação, pensou alto. Antes, gritou quando ia caindo:
- Estou em Bauru!
A platéia riu. aplaudiu em pé e pediu bis. (José Luís Scigliano - RG. 5.245.834)
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