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03/09/01 00:00 -

Trem caipira

Trem caipira

(*) Miguel Ignatios
Já vão longe os tempos em que o Jeca Tatu, caricatura do homem paulista e brasileiro, nascido e criado no vasto interior de vários estados do País, filosofava, cigarro de palha na boca, se valia a pena trabalhar e empreender, uma vez que tinha tudo o que precisava ao redor do seu sítio. Curado da doença do amarelão, o caipira de hoje causaria espanto e orgulho a Monteiro Lobato, o criador do Jeca Tatu, personagem falecido há muito tempo. Seu herdeiro, em nada se parece com o pai: inspeciona pastagens de gado e laranjais montado em motocicletas, locomove-se, entre o campo e o escritório, de helicóptero; e vai, com freqüência, ao exterior conversar com importadores de seus produtos.

Em pouco tempo, o “Trenzinho Caipira”, de Villa-Lobos, puxado por uma “Maria Fumaça”, transformou-se num moderno e rápido trem-bala, que puxa não só a economia paulista, mas também a brasileira.

As principais cidades do interior paulista, hoje, já não se contentam mais em exportar café, açúcar e soja. Aos poucos e progressivamente, calçados, frango, ônibus e caminhões, suco de laranja, aviões a jato (civis e de caça), equipamentos eletroeletrônicos e de informática e até mesmo - pasmem, leitores! - marca-passos e válvulas de precisão, implantados em sofisticadas cirurgias cardíacas, ganham espaço em mercados latino-americanos e até mesmo em países mais avançados como Inglaterra, Itália, Israel e Austrália, dentre outros.

Distantes da capital paulista e mais ainda de Brasília, assim como das respectivas burocracias estatais, cidades como São José dos Campos, Campinas e Rio Preto, dentre outras, criam distritos industriais, “incubadoras” de empresas, shopping centers, geram riquezas e empregos, passando por cima de apagões e de crises externas, como a da Argentina. É o Brasil real, impulsionado pela pujança do interior paulista, que parece crescer à noite, enquanto a burocracia palaciana federal se diverte ou dorme.

Idêntico dinamismo ocorre também - e felizmente - no interior de outros estados brasileiros, sobretudo daqueles mais industrializados, como Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco e Ceará, mas também naqueles de vocação mais rural, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Tocantins, Maranhão e Pará.

Pólos regionais de desenvolvimento surgem da noite para o dia nesses Estados, alguns apenas industriais, outros de serviços e de tecnologia, pecuários e agroindustriais, mas todos, curiosamente, unidos num mesmo sentimento de desdém pela burocracia centralizadora e ineficaz, que cresce assustadoramente e se alimenta da criação de dificuldades. São dois Brasis, um real, que gera riquezas e empregos; e outro cartorial, que cobra vorazmente impostos, taxas, licenças e uma parafernália de papéis e mais papéis.

O saudoso Darcy Ribeiro, em seus freqüentes arroubos ufanistas, costumava dizer que nós, brasileiros, somos os novos romanos. Antes fôssemos. Infelizmente, estamos ainda muito longe disso. Falta-nos principalmente o realismo pragmático dos bisavós de nossa língua e cultura e - acima de tudo - a consciência de fazer coisas (pontes, aquedutos, estradas ou códigos de direito) para as gerações futuras. Nas palavras de Goethe, o maior poeta alemão, “os romanos construíam para a eternidade”.

Por enquanto, para a decepção geral, nossa e do criador da Universidade de Brasília, a máquina governamental imita os romanos apenas naquilo que eles inventaram de pior, por absoluta necessidade de controlar um vasto império formado por povos, costumes, tradições e culturas diferentes: a burocracia! É tempo de mudar, para retomarmos a trilha do desenvolvimento perene.

(*) Miguel Ignatios é presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) e do Instituto ADVB de Responsabilidade Social (IRES))




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