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28/08/01 00:00 -

Os Mamulengos

Os Mamulengos

(*) Jorge Boaventura
Alguém tem que ter a coragem de dizer o que, cada vez de maneira mais patente, vem se evidenciando diante dos olhos de todos. Perguntaríamos ao leitor: é, ou não, verdade que, no mundo inteiro, duas realidades contraditórias estão presentes, uma representada pelos avanços extraordinários da Ciência e da Tecnologia postas, sobretudo nos países do chamado 1.º mundo, a serviço de confortos, até excessivos e superabundantes, da saúde e da expectativa de vida dos seres humanos, e, de outra parte, a multiplicação da violência e das injustiças e brutalidades, praticadas contra pessoas e contra países? Esse cenário, é, ou não é, factual, não meramente opinativo? É, ou não, igualmente factual, não simplesmente opinativo que, cada vez mais se alastram, ainda que rotulados como avanços e modernismos, costumes cada vez mais degradados e corrompidos, tal e qual ocorrem em todas as civilizações que nos precederam mas, nota-se, invariavelmente em seus períodos, não de ascensão e progresso mas, ao contrário, em suas fases de decadência e de declínio? Então, parece justificável a indagação sobre o que, afinal, garante esse quadro que apresenta cores indisfarçáveis de barbárie, quando tantos imaginam que, ao contrário, a humanidade está cada vez mais livre e mais feliz? A resposta, que nos parece digna da reflexão dos que nos honram com a sua leitura, consiste na presença de uma alimentação artificial e planejada de mitos, que formidável máquina de desinformação sustenta e dissemina, mitos que transformam no que René Guénon designou como “dogmas laicos”. Um deles consiste na confusão, deliberadamente estabelecida entre a liberdade, como conceito no plano metafísico, cujo atributo caracterizador é o de não sofrer restrições, e liberdade, como exercício, por parte de seres como somos todos, misturas de altruísmo e de egoísmo, de maldade e de bondade, de tendências socialmente positivas e de disposições socialmente negativas. Diante desta realidade factual e irrecusável, parece patente que o exercício da liberdade tem que sofrer limitações, em benefício do bem comum. Como foi resolvido o problema da fixação dessas limitações pelos que, por detrás do pano, conspiram desde há muito, muito tempo? Foi resolvido, basicamente, por intermédio do art. 6.º da “Declaração dos Direitos dos Homens e dos Cidadãos”, promulgada pela Assembléia Nacional Francesa, em 1791, segundo o qual, “A lei é a expressão da vontade geral, expressa diretamente ou por intermédio de representantes”. À primeira vista, parece muito justo. Ocorre, porém, que com total princípio, todo o Direito passou a ser representado pelas leis que os legisladores elaborem, com elisão dos princípios eternos do Direito Natural. A partir da consolidação de princípio a que nos estamos referindo, quem detiver o controle dos que legislam, torna-se controlador do poder. E existem, segundo autor cujo nome não me ocorre no momento, três máquinas componentes do poder real: a máquina de construção, representada pelo capital; a máquina de destruição, representada pelas Forças Armadas; e a máquina de comunicação. O leitor, inteligente, já entendeu que, quem detiver a máquina de comunicação, formará e conduzirá as assembléia e o que elas elaboram, ao sabor dos seus interesses, imobilizando, inclusive, as forças armadas. Tudo isso, é claro, visto em sua dimensão global, de magnitude estratégica, que comporta pequenas exceções incapazes de mudar o curso geral dos acontecimentos. Daí o neoliberalismo, a globalização, e a barbárie que vão deixando em seu rastro. E os “chefes de Estado”? Com raras, cada vez mais raras, exceções, meros mamulengos ou bonecos de engonço, que se movimentam na boca da cena pelos que até ali os conduzira e que manobram os cordéis a que eles têm que obedecer.

Existem, porém, dois planos da História; e quem viver, verá.

(*) Jorge Boaventura
Home-page: www.jorgeboaventura.jor.br
E-mail: [email protected]





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