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12/08/01 00:00 -

Pais que esperam a visita dos filhos

Pais que esperam a visita dos filhos

Fabiana Teófilo
Alguns não têm contato com os filhos durante todo o ano, mas neste dia, ficam esperançosos em receber uma visita

Com lágrimas nos olhos, eles afirmam: “Eu entendo que ele trabalha muito e não tem tempo para vir me ver”. Esses pais que moram longe dos filhos, sentem-se abandonados, mas resignados, no dia em que se comemora o Dia dos Pais.

Alfredo Augusto Vilela, 68 anos, tem dois filhos, mas normalmente nenhum dos dois “pode” visitá-lo nesse dia. “Eu moro aqui em Bauru e eles em São Paulo, fica difícil. Eles trabalham muito e eu não agüento mais viajar, minhas pernas doem”, disse Vilela, chorando.

Viúvo, ele que sempre morou em Bauru, não quis ir embora para são Paulo com os filhos que, segundo ele, foram para a Capital em busca de trabalho. Vilela contou que já tem três netos e um deles ainda não teve a oportunidade de conhecer. “O Bruno vai fazer oito meses em setembro e eu quero ver se consigo conhecê-lo antes dele completar um ano. Eu ainda não fui para São Paulo porque me canso muito no ônibus, minhas pernas doem e como o meu filho trabalha demais, ele também não pôde vir a Bauru”, explicou.

Hoje é Dia dos Pais e Vilela não iria receber a visita dos filhos. “Eles disseram que não viriam, mas vai que eles resolvem fazer uma surpresinha, né? De repente...” Questionado se esse tipo de surpresa é comum acontecer, ele respondeu: “não, eles nunca vieram assim sem avisar, mas a gente pensa que às vezes, vai que eles resolvem fazer isso. Eu ia gostar”, afirmou.

Vilela mora sozinho há sete anos. Com problemas de reumatismo nas pernas, ele tem um pouco de dificuldades para andar, mas mesmo assim, faz tudo sozinho. “Eu faço a minha comida e as compras, mas tenho uma faxineira que vem limpar a casa para mim uma vez por semana, meu filho Vicente paga”, disse. Ele contou que não tem medo de ficar sozinho e prefere isso do que morar num asilo ou algo parecido.

Diferente de vilela, Henrique Rodel, 83 anos, mora na Vila Vicentina há oito anos e sente-se bem. Seu filho Henrique mora no Rio de Janeiro e também não pode visitá-lo com freqüência, mas ele diz não se entristecer por isso. “Nós não temos o costume de comemorar o Dia dos Pais, ele trabalha no ramo de restaurante e, por isso, tem horários diferentes. Para mim, esse dia não é importante, é como um outro qualquer”, disse. Rodel, contou que além do filho, tem uma irmã e um sobrinho. Os dois foram visitá-lo na última quinta-feira e Rodel afirmou que estava satisfeito e que o seu Dia dos Pais já estava sendo comemorado com seus familiares. “Eu estou muito feliz com a minha irmã e meu sobrinho aqui, já estou comemorando. Meu filho deve mandar um telegrama ou me telefonar. Eu entendo que ele não pode vir”, afirmou.

Bizantino Mundes, 74 anos, também mora na Vila Vicentina e tem dois filhos e uma filha. A filha, de acordo com ele, sempre o visita e leva presentes. Ele disse que gosta de ganhar bermuda e, para ele, o Dia dos Pais é muito importante e deve ser comemorado ao lado dos filhos. “Se eles não vierem, vou ficar triste. A gente fica sentido né, afinal temos filhos e queremos que eles nos visitem. Se não vem, é porque não gosta e não se preocupa, mas eu sei que minha filha vem e se não vier, eu choro, fico sentido. Quando ela chega, ela me abraça, me beija e eu fico contente em saber que há esse carinho grande”, disse.

Mundes fala sempre da filha e explicou que os filhos não têm tempo para visitá-lo. Há mais ou menos seis meses, Bizantino disse que não se encontra com um dos filhos. “Sinto falta, mas entendo que ele tem que trabalhar”, falou. Ele recebe também a visita dos netos e disse ser muito emocionante. “A gente fica contente em receber a visita dos netos e quando eles me chamam de vô, fico feliz”, contou.

Mundes gosta muito de passear e, quando tem a oportunidade de sair com os amigos da Vila Vicentina, não pensa duas vezes. “Sempre que posso vou. Outro dia, nós fomos conhecer o trabalho da Polícia Militar com os cães e eu adorei”, afirmou.

Outro pai que mora na Vila Vicentina e recebe a visita de alguns dos sete filhos é o Josino de Castro. Aos 82 anos, disse ser muito solitário, mas fica contente ao receber a visita dos filhos no Dia dos Pais. “Eu não gosto de passear, sou muito quieto, mas quando eles vêm, fico feliz e eles vêm todos os anos, além dos filhos, também tenho netos, bisnetos e tataranetos”, contou.

Lino Ribeiro, 85 anos, é de Iacanga e mora na Vila Vicentina há seis anos. Pai de sete homens e cinco mulheres, disse ter um bom relacionamento com todos eles, mas não se importa se os filhos aparecem ou não para visitá-lo. “O Dia dos Pais para mim, é como outro dia qualquer, por isso não ligo se eles vêm me visitar ou não. Tanto faz”, afirmou.

Ribeiro contou que quando seus filhos eram crianças, na sua casa, era comum comemorar o Dia dos Pais, mas o tempo passa e essa tradição vai ficando para trás. “Os filhos casam e cada um vai fazendo sua vida. Às vezes, sinto um pouco de saudade, mas não muita”, disse.

Para Milton Montoro, 67 anos, o maior presente para o Dia dos Pais, é a presença dos filhos. “Eu fiquei doente, me separei da mãe dos meus filhos e nós perdemos o contato. Eu sinto muito a falta deles. É triste ficar longe dos filhos, mas o que eu posso fazer? Ainda existe o amor, o carinho, mas a gente fica muito tempo sem se ver. Acho que eles devem vir para cá em dezembro. Hoje, Dia dos Pais, não vou estar com eles, mas eu sinto saudade deles todos os dias e choro muito. Não sei não, eu estou achando que uma das minhas filhas deve vir, eu acho, estou sentindo, será? Se não vier, paciência”, disse já com lágrimas nos olhos.

A assistente social da Vila Vicentina, Lucila Manso Bassi contou que os pais que recebem as visitas dos filhos ficam contentes porque estão sendo lembrados e os outros ficam amuados, distantes e até irritados. “Eles não ficam totalmente sem ninguém, nós procuramos sempre fazer algum tipo de comemoração e a comunidade também costuma vir em dias festivos. Mas não tem como substituir um filho por alguém que não é da família”, contou.




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