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04/08/01 00:00 -

Bom exemplo

Bom exemplo

(*) Antonio Delfim Netto
Não devemos ter ilusões quanto às dificuldades que o Brasil vai enfrentar nas negociações sobre os problemas do comércio de produtos agrícolas, seja no âmbito da Organização Mundial do Comércio, seja nas discussões preliminares com os Estados Unidos a respeito da Alca. Os americanos não demonstram a menor disposição de aceitar ingerências externas em sua política agrícola, mesmo quando confrontados com as evidências de que ela é hoje um importante fator de desequilíbrio nas transações do comércio internacional. Eles defendem, em nome da liberdade do comércio, a redução das barreiras que limitam o ingresso dos produtos agrícolas no continente europeu, mas não reconhecem que praticam um tipo de protecionismo até mais eficiente com sua política de subsídios aos seus agricultores.

A esse respeito, foram muito oportunas as observações do ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, em sua recente viagem aos Estados Unidos, quando afirmou que o volume de subsídios concedidos aos produtores americanos limita a produção nos demais países, prejudica a competição e reduz o comércio de alimentos, aumentando a fome no mundo. O subsídio dado aos agricultores americanos é de 80 bilhões de dólares este ano, o que corresponde ao valor anual da produção agrícola brasileira. Quer dizer, os produtores americanos que competem conosco nos mercados agrícolas recebem, somente como subsídio, o equivalente à soma de todas as nossas safras. É difícil competir assim. O caso da soja é típico: o preço caiu no mercado internacional e para não prejudicar o produtor americano o presidente Clinton, nos últimos meses de seu governo, pediu e obteve do Congresso a liberação de mais 9 bilhões de dólares em subsídios.

Se não é possível mudar a política americana, seria muito interessante ver o nosso governo agindo na defesa da agricultura brasileira, quem sabe usando o argumento de Clinton: “esse dinheiro vai evitar que daqui a alguns meses nossos agricultores estejam endividados em mais 9 bilhões...” Apesar de endividados e sem apoio oficial há muitos anos, os agricultores brasileiros estão dando uma formidável demonstração de competência e garra, empurrando novamente a fronteira agrícola no Mato Grosso com o plantio da soja e do algodão. Dado o nível de produtividade que já atingiram nos dois últimos anos, os produtores americanos terão sérias dificuldades de competir com os nossos agricultores, tanto na soja quanto no algodão.

É difícil realmente fazer um arranjo com os Estados Unidos neste campo e aqui, mais um motivo de admiração (quase inveja...): desde a sua fundação, com George Washington e Alexander Hamilton, eles decidiram que aquele seria um país independente em termos de segurança alimentar e segurança militar. Desde então criaram fortes sistemas de proteção tanto à sua agricultura quanto à indústria do aço. Há dois séculos e meio os Estados Unidos não cedem nada, quando se trata da segurança alimentar e da segurança nacional. É um bom exemplo a ser seguido...

(*) Antonio Delfim Netto é deputado federal pelo PPB-SP, professor emérito da USP. E-mail: [email protected]




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