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01/08/01 00:00 -

Aos 101 anos, filho de pioneiro assistiu a crescimento da cidade

Aos 101 anos, filho de pioneiro assistiu a crescimento da cidade

Daniela Bochembuzo
Aos 101 anos de idade, o aposentado Gérson Antônio Gonçalves não cansa de repetir que é uma pessoa de sorte. E motivos não faltam para proferir tal frase: ele é um dos poucos bauruenses que conseguiram completar um século de vida e, por isso mesmo, tiveram a chance de acompanhar os primeiros passos da Bauru emancipada politicamente. No caso dele, ele assistiu a esses passos de um local privilegiado: a própria casa, propriedade do respeitado capitão João Antônio, seu pai.

Capitão da Guarda Nacional, João Antônio foi o responsável pela emancipação política de Bauru, por meio da transferência do cartório para a cidade. “Ele deu 60 dias para o responsável pelo cartório transferir-se para Bauru, mas o prazo não foi respeitado, então, meu pai trouxe o sujeito na marra para Bauru”, relata Gonçalves.

Somado ao cartório, a vinda da ferrovia, logo depois, contribuiu para a expansão municipal. “Chegava gente nova diariamente a Bauru, entre elas, muitas famílias portuguesas. A cidade fervilhava e crescia”, conta o filho de pioneiro, que não se esquece de um dos fatos mais marcantes do município: a inauguração do trecho ferroviário que ligaria Bauru a Jacutinga (hoje Avaí).

Naquele dia, ele teve a oportunidade de conhecer Afonso Pena, então presidente da República. Embriagado pela imponência do cargo, o menino Gonçalves imaginou-o um homem “grande, forte e robusto”, mas decepcionou-se logo que o viu. “Era um baixinho, parecia um menino”, diz.

O clima de euforia que marcou a inauguração do primeiro trecho ferroviário acompanharia a cidade por várias décadas, afirma Gonçalves. “Se não fosse a Noroeste, a cidade não teria elemento para crescer”, garante.

Além da ferrovia, aponta algumas famílias empreendedoras como responsáveis pelo crescimento do município: os Martha, os França e os Gonçalves, mais especificamente, seu pai. “Meu pai ajudou muito Bauru. Era influente e prestigiado, porque era muito inteligente e tinha uma visão ampla das coisas. Todos o consultavam”, descreve.

Gonçalves foi o único dos nove filhos do capitão João Antônio a participar, como ele mesmo diz, das “futricas políticas”. Como acompanhava o pai, para quem lia os jornais - o capitão era semi-analfabeto, teve a oportunidade de conhecer vários vereadores, prefeitos, governadores e presidentes da República. Essa experiência garantiu-lhe trânsito político e, conseqüentemente, cargos em órgãos públicos.

Fez de tudo: de atendente de farmácia a assessor político e inspetor de alunos. Nessa última atividade permaneceu por 35 anos como funcionário da escola estadual Ernesto Monte, onde conheceu diversos políticos que ainda nem sonhavam em sê-lo: Tidei de Lima, Nilson Costa, Alcides Franciscato, Nicola Avalone Jr.

Essa convivência direta e indireta com político e aspirantes, somada à experiência do pai, levou-o a ter uma visão bastante crítica da política. “No início da história de Bauru, a política era muito misturada à violência. Havia brigas, tiros e votos de cabresto”, conta Gonçalves.

Hoje, na sua opinião, a política local está mais “limpa”. Mesmo assim, o filho de pioneiro não poupa críticas. “A política está acéfala e o prefeito virou uma figura que divide poder com os vereadores, que ganharam mais importância”, comenta.




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