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O fim do turismo sexual no Brasil

O fim do turismo sexual no Brasil

(*) Ana Karin Quental
Há quatro anos foi deflagrada a primeira campanha de combate ao turismo sexual no Brasil. De alcance internacional, surgiu de uma meta do governo FHC: implementar medidas eficazes para, no mínimo, amenizar alguns problemas crônicos do País. Membro do comitê interdisciplinar da imagem do Brasil no exterior, a Embratur detectou que o país, lá fora, atinha-se a um velho clichê: samba, futebol, mulher e a violência.

Na época, como diretora adjunta da Embratur - Instituto Brasileiro de Turismo, resolvemos definir uma nova imagem para o turismo brasileiro. Eliminamos da propaganda oficial alusões aos atributos físicos da mulher. Passamos a vender a essência do País pela pluralidade cultural, pelas belezas naturais, pelo ecoturismo. Pipocavam na mídia denúncias sobre turismo sexual. Esse tempo acabou. Depois de participar do primeiro Congresso Mundial sobre Exploração Sexual Infanto-Juvenil, em Estocolmo, em agosto de 96, assumimos um compromisso. Representantes de 150 países decidiram efetivar medidas para erradicar a prostituição infanto-juvenil.

Assim nasceu a campanha de combate ao turismo sexual, com um disque-denúncia gratuito, o 0800-99-0500, ainda na ativa. O Brasil teve coragem de expor aos olhos do mundo uma ferida: prostituição de crianças e adolescentes. Enquanto no Primeiro Mundo as pessoas se prostituem por bens de consumo sofisticados, em países como o nosso, o atrativo às vezes é um prato de comida.

O balanço da campanha, já em seu primeiro ano, registrou muitos avanços. Os vôos charters de turismo sexual acabaram. Representações diplomáticas de várias bandeiras deram apoio formal à iniciativa. Amplamente divulgado, o disque-denúncia recebeu, nos primeiros 12 meses, 1.590 chamadas.

Desse total, 902 foram considerados denúncias; 9% envolviam turistas, nacionais ou estrangeiros, e 91% eram acusações de abusos cometidos por familiares de menores. A maioria das vítimas é do sexo feminino (84,4%), entre 12 e 18 anos (80,71%). Investigações foram instauradas, com turistas presos e quadrilhas desbaratadas. Ao todo, 308 casos do disque-denúncia foram resolvidos.

Foi surpreendente para o Brasil tanta repercussão favorável ao expor um problema tão grave. Nos três primeiros meses da campanha, o tema exploração oscilou entre o primeiro e o segundo lugar no ranking dos temas da infância mais abordados pela imprensa brasileira. A mobilização social tomou fôlego, com a formação de redes estaduais e internacionais.

O Brasil foi manchete em jornais do mundo todo como país realmente preocupado com a questão. Entre os festivais publicitários, o Brasil foi premiado em Cannes e Nova York. O slongan “Cuidado! O Brasil está de olho” ecoou pelo mundo. A Organização Mundial de Turismo adotou a logomarca da campanha.

O que se caracterizou como receita de sucesso foi a parceria entre o governo federal e os estaduais, ONGs e iniciativa privada em torno da campanha. Outras iniciativas virão. Faz parte da política do governo ampliar as portas do turismo. Mas, queremos um turista de qualidade, que venha em busca de lazer ou negócios.

Aos demais, temos a dizer: cuidado, o Brasil continua de olho.

(*) A autora, Ana Karin Quental, é presidente do Instituto Karinha de Criança e do Conselho Nacional Feminino do Partido Liberal - PL -, ex-diretora da Embradur e responsável pela Campanha de Combate a Prostituição. E-mail: [email protected]




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