Estilo arquitetônico do prédio do Legislativo representa a era do totalitarismo, cujo apogeu se deu nos anos 40.
O Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Bauru (Codepac) se manifestou, ontem, contrário a uma eventual venda do prédio da Câmara Municipal. O Legislativo cogitou a possibilidade de vender o imóvel para viabilizar a construção de um outro, mais espaçoso e com melhores condições físicas.
O presidente do órgão, arquiteto Nilson Ghirardello, professor de História da Arquitetura e Urbanismo da Unesp, acha que é um risco a Câmara se dispor do imóvel que representa uma parcela da história política da cidade.
“Quem é que pode nos garantir que seu eventual novo proprietário não tem intenções de demolir o prédio?”, pergunta Ghirardello. Ele avalia que para a população a localização do imóvel é excelente.
“A Câmara está localizada num corredor de ônibus urbano. Toda a população tem fácil acesso, inclusive para participar de manifestações. Se o prédio for vendido, será uma infelicidade para a cidade e para o centro urbano”, comentou.
O arquiteto lembrou que as médias e grandes cidades estão buscando fórmulas para revigorar o centro urbano, o que ocorre também em Bauru. “Acho que as pessoas que estão trabalhando para revigorar nosso centro devem se posicionar contra essa eventual venda do prédio.”
Ghirardello defende que os problemas de espaço enfrentados pelo Legislativo têm como ser resolvidos no próprio local, já que há área livre no imóvel. “O próprio edifício oferece condições de ampliação.” Na sua opinião, as sedes dos poderes constituídos devem ficar bem localizados numa cidade, de preferência no seu centro urbano.
Totalitarismo
Segundo o presidente do Codepac, o estilo arquitetônico do prédio da Câmara Municipal é decorrente da era do totalitarismo, cujo apogeu mundial se deu nas décadas de 30, 40 e 50, envolvendo líderes políticos como Joseph Stalin, Benito Mussolini e Adolf Hitler. No Brasil, a época foi repesentada pelo presidente e ditador Getúlio Vargas.
“Trata-se de um estilo arquitetônico totalitário, que mistura o moderno com o clássico. Aquelas enormes pilastras simbolizam o poder. É uma mistura do tom clássico com materiais modernos”, conta.
O arquiteto confirmou que o imóvel não foi tombado e nem arrolado pelo Codepac por se tratar de uma construção relativamente nova, sem um valor arquitetônico muito expressivo. “Mas o Codepac é totalmente contra a venda do prédio”, finalizou.
“Tomei o prédio de assalto”
O ex-vereador e ex-presidente da Câmara Municipal, Alonso Campoi Padilha, relatou ontem, emocionado, a manobra que arquitetou para ocupar o antigo prédio do Fórum para instalar o Poder Legislativo, em 1972. “Tomei o prédio de assalto”, confessou.
Ele, o prefeito da época, Alcides Franciscato, e o diretor do novo Fórum, Luiz Francisco Giglio, participavam de uma solenidade para abrir o ano jurídico na cidade.
“O prédio da praça D. Pedro II já estava desocupado. Nessa solenidade, pedi ao doutor Giglio que emprestasse as chaves do prédio para realizar apenas uma única sessão, já que estava decidido que ali seria um escritório da Secretaria de Estado da Educação”, conta.
O juiz concordou. Campoi pegou as chaves e tratou de providenciar a mudança da Câmara para o prédio com a única intenção de se apossar do local. “Providenciei também a troca de todas as fechaduras das portas”, relata. Com a confusão armada, o secretário de Estado da Justiça da época, Osvaldo Müller, telefonou para Campoi pedindo explicações.
“Mas não recuei e disse a ele que a cidade estava comigo. Depois, tudo acabou bem. Tratamos de homenagear o doutor Müller e a secretária de Estado da Educação, na época Ester de Figueiredo Ferraz.” O ex-presidente também é contrário a venda do imóvel.
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