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16/06/01 00:00 -

Profissão motorista de caminhão

Profissão motorista de caminhão

André Tomazela
Dalete e Cássia são dois outros exemplos de como a mulher está sendo
cada vez mais aceita em funções tidas como masculinas. Ao contrário da entrevistada da edição anterior, Valéria, elas não possuem veículo próprio, mas dirigem caminhões três quartos de uma empresa de transportes em Bauru. Elas dizem ouvir piadinhas todos os dias dos companheiros


Ambas casadas e na meia idade. “Emprego, com essa idade? Não dá para concorrer com as mocinhas de 20 anos”, comenta Dalete Maria Pelissari Sampaio, motorista de caminhão. Ela já foi instrutora de auto-escola em Bauru e Piratininga e proprietária de uma quitanda, razão pela qual possuía um caminhão. Hoje, ela está há cerca de um ano contratada por uma empresa de transportes situada em Bauru, uma das poucas que admitem mulheres frotistas. Dalete comenta que gosta muito do serviço e que é uma novidade para uma cidade como Bauru ter uma empresa de transporte que contrata mulher como frotista. “Eu sempre via em cidades mais desenvolvidas mulheres motoristas. Aqui em Bauru nós não tínhamos oportunidade para isso. Essa empresa abriu uma oportunidade”, comenta. Ela aposta ainda que, através da iniciativa, muitas mulheres poderão optar por se profissionalizar como frotistas, tirando a carteira de habilitação numa categoria mais avançada. “Tem que lutar para isso como nós lutamos para chegar até aqui”, comenta, fazendo referência à colega iniciante, Cássia.

Até duas semanas atrás, Dalete era o “bendito fruto entre os homens”: a única mulher motorista de caminhão contratada pela empresa, que resolveu admitir mais uma funcionária, Cássia Fátima Scriptore, que embora caloura como frotista, já tem um histórico familiar na profissão. “Meu marido é carreteiro e o que eu aprendi foi com ele”, comenta Cássia que, assim como Dalete, já teve outras experiências profissionais. “Eu já fui digitadora, dona de rotisserie e trabalhei por oito anos numa loja de auto peças”, comenta.

O início

Tanto Dalete como Cássia foram atraídas pelo mesmo anúncio no jornal, que oferecia vaga para mulher motorista na categoria ‘D’. Dalete foi contratada primeiro por ter experiência como motorista. Já Cássia ficou na fila de espera, sendo contratada recentemente. “Um dia desses eu estava completamente desempregada e resolvi procurar um emprego através do jornal. Eu achei um anúncio de emprego que estava selecionando mulher motorista na categoria ‘D’. Levantei na madrugada seguinte e fui fazer a inscrição”, comenta Dalete. Ela foi chamada para a seleção, foi aprovada e encaminhada para São Paulo a fim de realizar os testes na empresa. E, desde então, faz entregas de produtos em Bauru, dirigindo um caminhão três quartos de propriedade da firma. Lojas, supermercados e outros estabelecimentos comerciais são o destino da motorista. “O meu serviço é fazer entregas de qualquer tipo de encomenda. A gente carrega e descarrega o caminhão com a chamada carga lombar. À tarde, fazemos a coleta, que são as cargas que vão para fora”, conta Dalete, que atualmente realiza o seu serviço na região central da cidade, incluindo o Gasparini, Jardim Araruna, Mary Dota e redondezas.

Já a companheira, Cássia, realiza entregas na Zona Sul da cidade, que compreende a região do Aeroporto, Jardim Estoril e proximidades. Ela atende lojas de informática, de roupas, o shopping e o hipermercado Wall Mart.

Preconceito

Dalete, a veterana, e Cássia, a caloura, ambas sentem o preconceito por trabalhar numa profissão típica de homens. “Tem pessoas que elogiam, mas a cobrança é muito grande. Às vezes eu estou estacionando no local de carga e descarga no centro da cidade e pára um monte de gente para olhar. Eles ficam fiscalizando para ver se a gente não dá um fora. É onde eu tento caprichar um pouco mais”, afirma Dalete. De acordo com ela, falhas podem acontecer com qualquer motorista, homem ou mulher. Mas admite, no entanto, que procura evitar ao máximo que uma falha aconteça por ser mulher. “O pessoal exige mais da gente”, afirma. Na própria empresa, Dalete admite que os outros carreteiros fazem brincadeiras pelo fato de ser mulher, enquanto que Cássia encontra uma razão para o preconceito: “eu acredito que eles acham que nós, mulheres, estamos tomando o espaço deles e entrando num campo que a gente não tinha que estar. A maioria acha que mulher é para pilotar fogão, vassoura, tanque e não um automóvel ou caminhão. A gente ouve piadinhas todos os dias. Isso é muito comum”, afirma Cássia.




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