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10/06/01 00:00 -

Ibitinga reverencia "Corpo de Cristo"

Ibitinga reverencia "Corpo de Cristo"

Adilson Camargo
Na próxima quinta-feira, católicos de toda a região visitam Ibitinga em mais uma exibição de arte e religiosidade

Ibitinga - Católicos de Ibitinga e região iniciaram contagem regressiva para mais uma demonstração de criatividade e de respeito aos valores universais da igreja. Na próxima quinta-feira, dia 14, as ruas centrais da cidade devem receber novamente um manto que não é sagrado mas que servirá para embelezar a tradicional procissão de Corpus Christi: uma data sagrada para os cristão católicos.

Como acontece todos os anos, Ibitinga aproveita o título de ‘capital nacional do bordado’ para deitar sobre o asfalto da cidade um imenso tapete cuidadosamente costurado com peças de bordados de diversas cores, estilos e tamanhos, doadas pelas empresas do ramo. Peças artesanais tiradas do conjunto cama, mesa e banho formam um corredor de cores múltiplas pelo qual caminha o padre Lourival Antônio de Morais, 35 anos, acompanhado por milhares de fiéis.

A repercussão do que acontece anualmente em Ibitinga já tomou proporções que vão muito além das fronteiras municipais. A procissão de Corpus Christi da capital do bordado, além do apelo cristão, chama a atenção por sua beleza. Não são apenas turistas católicos que sentem-se atraídos pelo evento, mas também as lentes fotográficas e filmadoras da imprensa, que levam imagens do evento para todo o País e tornam a celebração ainda mais atraente.

A organização desta festa exclusivamente católica, como bem definiu o padre Morais, começa vários dias antes da data propriamente dita. Desde fevereiro muitos colaboradores da igreja saíram em busca de peças de bordado para compor o tapete. Ao todo, são aproximadamente 500 pessoas envolvidas. Elas se organizam em grupos menores para confeccionar, cada um, a parte que lhe cabe no imenso tapete.

O dia de Corpus Christi para os integrantes desses grupos começa cedo, literalmente. O adorno da fachada da Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus é o mais complexo, portanto é a parte do trajeto que exige uma dedicação ainda maior dos fiéis. Normalmente, os trabalhos em frente à igreja começam de madrugada, por volta das 3 horas. Ao amanhecer, todo o trajeto de doze quarteirões, pelo qual passa a procissão, está devidamente revestido por uma camada de tecido, que não mede mais do que dois metros de largura. Antes de receber o tapete, as 12 quadras passam por um processo de demarcação e de limpeza.

Das primeiras horas do dia até o início da procissão, os tapetes ficam em ‘exposição’ para o público. Às 15 horas toda a atenção se volta para o padre Morais. Carregando o ostensório (peça que carrega a hóstia consagrada), ele inicia a caminhada sobre os bordados, acompanhado por outros padres que seguem logo atrás e por uma multidão que observa e participa do ritual, sem tocar os tapetes. Todo o percurso, de aproximadamente um quilômetro, é percorrido num prazo de 1h30. O ponto de partida e de chegada é um só: a Igreja Matriz. Encerrada a procissão, os católicos reúnem-se em frente à igreja para participar de uma missa campal. De acordo com os cálculos do padre, cerca de 20 mil pessoas, em média, chegam a participar da procissão e da missa.

Com o fim da procissão, os tapetes são recolhidos e todas as peças voltam a ser embaladas e ficam à espera de comprador. Algumas são comercializadas na rua, antes de serem recolhidas à Casa Paroquial. Ano passado, as vendas do bordado rendeu à igreja R$ 55 mil. O dinheiro, segundo o pároco, é destinado à Associação Senhor Bom Jesus. Da associação, o dinheiro segue para o caixa de três instituições sociais: uma creche, a Casa da Criança e o asilo. Juntas elas atendem cerca de 200 pessoas carentes, segundo informações do padre Morais.

Para não estabelecer concorrência desleal com as lojas da cidade, todas as peças são vendidas pelo preço de mercado. Geralmente, é o próprio doador quem estipula o valor do produto doado. De acordo com Robinson Pinheiro, 46 anos, um dos responsáveis pela divulgação do evento, grande parte das peças usadas na procissão é vendida na Feira do Bordado, marcada para julho.

Celebração teve origem na Bélgica

A Festa de Corpus Christi, conhecida há oito séculos, teve origem em 1247, quando Juliana de Liège (Bélgica), a partir de uma visão, iniciou um movimento para solenizar os mistérios da Eucaristia. Ainda hoje continua sendo uma festa obrigatória para sacerdotes e fiéis, como determina o Código de Direito Canônico.

Juliana de Liège - ou mais precisamente Juliana de Retine (ela leva o nome da cidade belga) - começou a irradiar sua fé a partir de seu próprio país e depois ganhou o mundo através das dioceses vizinhas, França, Alemanha, norte da Itália. O Papa Urbano IV, um pouco antes de morrer, em 1264, tornou o evento uma instituição oficial da Igreja.

Para o Brasil, a festa veio através dos colonizadores portugueses que, nos tempos faustosos e solenes de D. João VI e dos imperadores D. Pedro I e D. Pedro II, era um misto de festa da Casa Real, da Igreja Católica e do povo, nele incluídos os escravos.

Em Ibitinga, tudo começou em 18 de junho de 1981. O vigário da Paróquia de então, o Pe. Eutímio Ticianelli, utilizando pantufas, caminhava suavemente pelas ruas enfeitadas com bordados, como um tapete, para não danificá-los. Nas mãos carregava o ostensório e era acompanhado pela multidão de fiéis em oração.

Dezenas de quarteirões foram atapetados com bordados diversos para a procissão de “Corpus Christi”, numa manifestação de fé e religiosidade do povo ibitinguense. Tal evento atrai anualmente, desde então, milhares de turistas e envolve toda a cidade na elaboração dos bordados.

Tem como lema: “Ibitinga borda suas ruas para a passagem do Senhor”.




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