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10/06/01 00:00 -

Morte cerebral é atestada duas vezes

Morte cerebral é atestada duas vezes

Sabrina Magalhães
A maioria dos órgãos só pode ser retirada em pacientes que já perderam totalmente suas funções cerebrais. Porém, o organismo tem que ser mantido em funcionamento por aparelhos

A maioria dos órgãos só pode ser retirada para doação depois que é atestada e confirmada a morte cerebral do paciente. Para isso, a Lei Federal determina critérios bastante rígidos de avaliação médica, que é feita em duas etapas, por pelo menos dois profissionais diferentes. Estes médicos não podem ter vínculos nem com a família do doador, nem com a família do receptor; e não podem pertencer à equipe responsável pelo transplante. É preciso eliminar toda e qualquer possibilidade de reversão do quadro, ou seja, é necessário ter certeza de que a parada do funcionamento cerebral é definitiva e irreversível.

“Senão, você estaria fazendo uma eutanásia - estaria retirando um órgão vital de uma pessoa viva”, explicou o neurologista Luiz Carlos Garcia Betting. Ele comentou que o conceito de morte cerebral é relativamente novo e deve-se ao desenvolvimento de técnicas e aparelhos, que permitem identificar a ausência de conexões e atividades cerebrais, mesmo enquanto o coração continua batendo.

De acordo com o especialista, um dos primeiros sinais da morte cerebral é a parada respiratória - se o indivíduo respira espontaneamente, é sinal de que o cérebro ainda comanda esta função. Sem o comando, a respiração só pode ser mantida artificialmente, através de aparelhos.

“Também temos os sinais reflexos. A pessoa com morte cerebral apresenta um coma aperceptivo, ou seja, ela não reage a nenhum tipo de estímulo motor ou sensitivo. As pupilas estão dilatadas e não se alteram quando é colocada uma luz no olho do paciente; você coloca um líquido no ouvido dele e não há sinal de reação; não há respostas ao calor, nem à dor, o que significa que as conexões nervosas estão inativadas”, disse o médico.

Se não for constatada nenhuma alteração nos exames clínicos, o médico parte para os exames complementares. Os mais comuns, segundo Betting, são a angiografia cerebral, a cintilografia cerebral, o dopler transcraniano, as tomografias específicas e o eletroencefalograma. Geralmente, o especialista opta por um desses exames. “A morte cerebral significa que houve uma parada definitiva da circulação cerebral, da atividade elétrica e do metabolismo cerebral. Os aparelhos vão mostrar que não existe mais nada disso. No eletroencefalograma, por exemplo, que é o mais fácil, a atividade do cérebro é mostrada com traçados, que se tornam contínuos em caso de morte encefálica.”

Confirmação

Betting ressalta que a Lei Federal exige, para fins de doação de órgãos e tecidos, que a constatação da morte cerebral seja feita duas vezes, respeitando intervalos que variam entre seis e 48 horas, conforme a idade do doador. Para pacientes acima de dois anos de idade, o segundo exame é feito cerca de seis horas depois do primeiro. Em crianças menores, esse intervalo varia entre 12 e 48 horas.

A Lei determina que estes exames sejam feitos por neurologistas, que são os médicos especializados no estudo do cérebro. Cada exame será feito por um médico diferente. Estes profissionais não podem ter qualquer relação nem com a família que está doando os órgãos, nem com a família do paciente que fará o transplante. Da mesma forma, ele não pode integrar a equipe médica que será responsável pela captação e transplante.

À família do doador, é garantido o direito de escolher um médico de sua confiança para acompanhar cada um desses exames. Se a família for carente, poderá pedir à direção local do Sistema Único de Saúde (SUS) que indique um médico para acompanhar as constatações. A única ressalva na Lei é a de que esse médico não demore a chegar, o que poderia comprometer a retirada dos órgãos ou tecidos. Tudo isso é devidamente registrado por escrito e a documentação é arquivada por, pelo menos, cinco anos.

Doação em vida é limitada

Pessoas vivas também podem doar partes de seu corpo, mas numa proporção bem mais limitada. Neste sentido, a doação mais difundida é a de sangue, que pode beneficiar até quatro pessoas com uma única coleta. Isso porque o sangue apresenta quatro compostos diferentes, que podem ser separados em laboratório e usados para tratar patologias diferentes.

Outra doação que pode ser feita em vida é a de medula óssea. A medula é responsável pela fabricação da maioria das células sangüíneas e dos anticorpos (células que defendem o organismo de infecções). Para o transplante, retira-se cerca de meio litro de medula dos ossos da bacia, usando-se uma grande seringa. Depois, esse líquido é injetado na veia do receptor (veja ilustração).. A própria circulação sangüínea leva o líquido até a medula óssea, que começa a reproduzir células em aproximadamente três semanas.

Por serem órgãos duplos, os rins também podem ser doados em vida. Isso acontece, principalmente, entre parentes. Um irmão sadio, por exemplo, pode doar um de seus rins para outro irmão doente. Estas doações costumam ser as mais seguras, pois existe uma identidade genética parcial entre os tecidos, o que diminui os riscos de que o organismo do receptor rejeite o órgão. Esta doação, no entanto, precisa ser muito bem avaliada sob o ponto de vista ético. É preciso considerar que o doador poderá, a qualquer momento da sua vida, apresentar um problema naquele rim que lhe restou. Então, o transplante só deve ser feito se as chances de sucesso forem muito altas.

A doação de fígado também é possível para pessoas vivas. Nesse caso, é retirada apenas uma parte do fígado do doador. As células deste órgão têm a capacidade de se reproduzir e um novo órgão pode ser formado no organismo do receptor. Vale lembrar que, para todos os tipos de transplante, com exceção das córneas, é imprescindível que haja compatibilidade genética entre doador e receptor, para diminuir os riscos de rejeição.




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