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03/06/01 00:00 -

CPFL já tem estratégia para apagão

CPFL já tem estratégia para apagão

Sabrina Magalhães
A empresa está se preparando para enfrentar os temidos apagões, que ainda não foram definidos, mas podem ser seletivos

A Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL) já tem estratégias definidas para o caso do Governo Federal ordenar que sejam feitos os temidos apagões. Por enquanto, o brasileiro tem o prazo de um mês, a contar de 1.º de junho, para reduzir o consumo nacional de energia elétrica em, pelo menos, 20%. A punição, caso essa meta não seja atingida, serão os apagões.

De acordo com o gerente de Serviços de Campo Noroeste da CPFL em Bauru, Wilson Maldonado Júnior, num primeiro momento, os apagões seriam feitos apenas em algumas regiões da cidade, poupando-se vários setores, como hospitais e penitenciárias. Mas ele adverte: se as metas não forem atingidas, os apagões podem ser mais drásticos.

Maldonado Júnior trabalha para a CPFL há 15 anos, atuando na gerência técnico-administrativa há oito anos. Ele está em Bauru há cerca de um ano, tendo trabalhado também nas cidades de Araraquara, Jaboticabal e Campinas. A seguir, trechos da entrevista concedida ao Jornal da Cidade.

Jornal da Cidade: Qual é a real situação da energia no País hoje?
Maldonado Jr.:
A situação é bastante crítica. Se não economizarmos, certamente vamos ter o apagão. O que culminou essa falta de energia foi a situação dos reservatórios. Toda represa tem o que chamamos curva de segurança. Para funcionar num nível aceitável, os reservatórios da região Sudeste deveriam estar, em maio, com 45% da capacidade de armazenamento. Hoje, nós estamos com 29,8%. Esse percentual é o que deveríamos ter em novembro, quando as represas voltam a encher pela chuva. Então, se estamos com 29,8% agora, a tendência é descer cada vez mais. É como se eu tivesse um carro com meio tanque de combustível para chegar até novembro, sabendo que a gasolina só vai dar até setembro - e não vai ter um posto no caminho.

JC: A situação, então, é catastrófica...
Maldonado Jr.:
É bastante crítica. Mas, até agora, ninguém começou, oficialmente, a economizar energia. A grande maioria está começando esta semana. A nossa expectativa é que não precise chegar ao apagão. Só que, se a gente não conseguir atingir os 20% de redução nos próximos meses, vai ter o apagão.

JC: O presidente Fernando Henrique Cardoso disse, recentemente, que o Brasil está em 83.º lugar no ranking mundial de consumo de energia. Em 1999, a média de consumo no País foi inferior a países da África do Sul. Então, por que se diz tanto que o brasileiro desperdiça energia?
Maldonado Jr.:
O grande problema é a oferta de energia. Nos Estados Unidos, por exemplo, o parque gerador conta com termoelétricas, usinas eólicas (energia gerada pelo vento) e usinas nucleares. No Brasil, 97% da energia vem de usinas hidrelétricas, que é uma energia relativamente barata. O problema é que não houve uma previsão, um planejamento e, agora, não temos água. Em algumas regiões, como no Sul do Brasil, está sobrando água e energia, só que nós não conseguimos fazer essa transferência de carga para cá.

JC: Antes de iniciar o prazo, a CPFL já divulgou uma redução de 10%. Será que nós vamos atingir os 20%?
Maldonado Jr.:
Essa é a nossa expectativa. Esses 10% que nós conseguimos, numa parte, foi uma ação nossa para reduzir a iluminação pública (...) O Governo quer 35% de redução na iluminação pública. Deveríamos desligar uma a cada quatro lâmpadas na cidade inteira, mas avaliamos junto à Prefeitura e optamos por desligar uma lâmpada sim, outra não, nas principais avenidas, onde a população sente menos. Também vamos reduzir 50% da luz nas praças e vamos substituir lâmpadas fortes por outras de menor potência. Se não atingirmos nossa meta, talvez seja preciso desligar mais lâmpadas nos bairros (...) Os 10% que conseguimos até agora estão estacionados. E notamos que, nos finais de semana, esse percentual de redução diminui.

JC: Como é feita essa comparação?
Maldonado Jr.:
Você pega e compara com o dia 2 de junho do ano passado, que era o mesmo dia da semana. Comparando quinta com quinta, domingo com domingo, deveria ter o mesmo tratamento, mas não está sendo assim. Isso mostra que, apesar de ser uma conclusão muito prematura, no final de semana, as pessoas relaxam mais. Talvez porque não querem abrir mão do conforto.

JC: Na sua opinião, quais são as chances de termos os apagões?
Maldonado Jr.:
Eu diria que existem grandes chances. Se a gente economizar os 20%, não teremos. Mas a minha preocupação é que muitas pessoas que já investem rotineiramente na economia. Essas pessoas já abrem mão de seu conforto e não vão conseguir reduzir mais. Se for um número significativo da população, não atingiremos os 20% e aí vamos ter o apagão.

JC: Havendo o apagão, qual seria a melhor estratégia para isso?
Maldonado Jr.:
Num primeiro momento, as cargas essenciais não serão desligadas em hipótese alguma. Por exemplo, os hospitais. Já existem estudos, já temos um plano para operacionalizar o apagão, mas tudo depende do governo.

JC: Qual a estratégia que está sendo preferida?
Maldonado Jr.:
(...) A estratégia seria desligar por alimentador - você escolhe um alimentador que não ofereça carga essencial, como para um hospital, e faz o desligamento.

JC: Então, não vai afetar a cidade inteira...
Maldonado Jr.:
Inicialmente, faríamos por região, durante um determinado período. Depois, desligaríamos outra região. Não apagaríamos a cidade inteira, até porque isso complicaria a segurança - isso até pode acontecer num segundo momento. Agora, o que queremos é reduzir os 20%. Se não for com racionamento, vai ser com apagão.

JC: Se os hospitais estarão fora, então os moradores das imediações também serão preservados?
Maldonado Jr.:
Não necessariamente, porque pode acontecer do circuito atender o hospital e o vizinho dele ser alimentado por outro circuito, que será desligado. Então, ele pode estar grudado fisicamente, mas ser alimentado por outra fonte.

JC: Existe uma estratégia especial para cadeias e penitenciárias também?
Maldonado Jr.:
Também. Essas cargas especiais nós estamos cuidando caso a caso, mas ainda não temos como analisar perfeitamente. Pode até ser que tenhamos que desligar, mas aí teria que ser muito bem estudado e elaborado para que não haja problemas.

JC: Em 1999, Bauru foi notícia nos principais jornais do País quando um blecaute da subestação local atingiu sete estados. Na época, a Cesp alegou que um raio danificou os equipamentos. Foi mesmo um raio ou aquele apagão já era um sintoma da crise que estaria por vir?
Maldonado Jr.:
Eu tive acesso aos relatórios da Cesp e tudo leva a crer que tenha sido um raio. Porque o sistema todo é interligado. Quando você tira uma subestação importante como essa (porque o raio danificou os aparelhos e a transmissão de energia foi cortada), a tendência das usinas ou outras supridoras de energia, é alimentar aquela carga. Ou seja, você tirou a energia daquela subestação e ela começou a “chupar” a energia do sistema. Aí, o que acontece? Existe um mecanismo de proteção da outra usina, que também não agüenta e pára, puxando mais energia. Por ser interligado, isso vem em cascata. Depois disso, foram tomadas algumas medidas. Alguns locais agora têm relés de alívio de carga. Hoje, quando o sistema sente que oscilou na tensão, ele alivia a carga automaticamente, para não acontecer o blecaute.

JC: Nós podemos dizer que a privatização tem relação com essa crise? Porque, na década de 80, o governo investia R$ 13 bilhões em energia. Temos a informação de que as empresas estão investindo R$ 7 bilhões atualmente - pouco mais da metade. Agora, o governo anunciou que seriam necessários R$ 45 bilhões para recuperar a situação.
Maldonado Jr.:
Não, não existe relação. A CPFL, depois de privatizada, investiu muito mais do que era investido quando era estatal. Haja vista que, em Bauru especificamente, nós colocamos cabos cobertos para maior flexibilidade do sistema e fizemos ampliações nas subestações. O grande problema nosso não é a distribuição, mas a geração. E a geração, na sua maioria, ainda pertence ao Estado, não a empresas privadas.

JC: Temos a informação que a CPFL não teria funcionários suficientes para efetuar todos os cortes e religações, caso o governo mantenha esta determinação para quem não fizer a economia de 20%. Existe a intenção de contratar?
Maldonado Jr.:
Primeiro nós teremos que avaliar o quanto nós vamos ter que cortar. E se for preciso, nós temos empresas terceirizadas que prestam serviços para a gente. Usaríamos esta mão-de-obra para fazer os cortes. Teremos que nos adequar para atender as medidas que somos obrigados a cumprir.

JC: E para o 0800? Porque nossos leitores reclamam que telefonam e a espera é muito grande.
Maldonado Jr.:
O 0800 já está com número novo, que é o 0800-770-2735. Esse número já está com mais atendentes, especificamente para responder às questões de racionamento. E continua funcionando o 0800-10-1010. O problema do atendimento é que ele acaba concorrendo com as linhas normais de telefone. Muitas vezes, há congestionamento da linha. Mas como nosso serviço funciona 24 horas, o usuário pode ligar depois das 22 horas. Assim, ele foge desse horário de pico e tem um acesso melhor.




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