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Trauma é 1ª causa de morte entre jovens

Trauma é 1ª causa de morte entre jovens

André Tomazela
Curso de especialização em politraumatismo está sendo ministrado a médicos que atendem nos prontos-socorros de Bauru

O trauma é, do ponto de vista estatístico, a primeira causa de morte na população jovem, que figura na faixa etária dos 4 aos 40 anos de idade. A última estatística do Ministério da Saúde revelou que, no Brasil, houve 110 mil mortes por trauma em 1997, o último ano pesquisado e que o número de traumas vem aumentando, principalmente os originários de violência interpessoal, como brigas que acabam em tiros e facadas, que ocorrem principalmente nos finais de semana. Em função disso, por afetar mais a população economicamente ativa, o trauma é uma das causas de mortes que tem maior impacto socioeconômico. “Se levarmos em consideração que são pacientes jovens, que estão produzindo, que estão trabalhando, isso produz um déficit econômico considerável. E produz um impacto na sociedade muito importante”, comenta o professor assistente do Departamento de Cirurgia e Ortopedia da Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp), gastrocirurgião e responsável pelo curso “Programa Avançado de Suporte de Vida do Trauma”, Rogério Saad. Só nos Estados Unidos, as mortes por trauma geram um gasto para o País de US$ 140 bilhões por ano. Neste montante entram os dias que a pessoa fica sem trabalhar, o custo do seguro do carro, no caso de acidente, a internação hospitalar, entre outros.

O programa, cujo nome em inglês é “Advanced Trauma Life Support” (ATLS) foi criado por volta de 1980, nos Estados Unidos e objetivava o atendimento dos pacientes politraumatizados, pacientes considerados graves e que demandam uma conduta imediata e atendimento padronizado.

O curso enfoca uma forma totalmente diferente de abordagem de um paciente que sofreu um trauma. De acordo com Saad, normalmente, quando os alunos de medicina estão na faculdade, aprendem a forma tradicional de abordagem do paciente que passa pelo seguintes passos: primeiro o médico quer saber o nome do paciente, origem, profissão, qual o problema e a quanto tempo o possui. Depois disso, o médico pergunta ao paciente informações sobre o problema, faz um interrogatório sobre o resto do organismo, sobre os antecedentes e chega à fase do exame físico, para tentar chegar ao diagnóstico da doença. Esta abordagem, para o paciente traumatizado, não serve. “É necessário que o médico tenha uma conduta rápida e imediata, avaliando e tratando”, comenta Saad.

No caso, por exemplo, de um paciente que está com um sangramento num membro e, ao mesmo tempo, com um objeto na garganta que produz sangue, um médico que não conheça a abordagem do trauma, tratará primeiramente o sangramento do membro porque é mais aparente, quando, na verdade, a expiração do sangue da garganta pelas vias aéreas pode causar a morte mais rapidamente em função do bloqueio da respiração. “Se o médico não mexer nas vias aéreas, o paciente morrerá antes, porque o ser humano não agüenta mais que 30 ou 40 segundos sem respirar”, explica.

O ATLS preconiza uma seqüência lógica e rápida de atendimento, baseada em fatos que, no caso de um trauma, matam mais primeiro. Nessa ordem lógica, o ATLS preconiza que mata mais uma via aérea obstruída, em seguida um problema no pulmão e, depois, os problemas de circulação. “É um processo de atendimento que a gente considera uma via segura para atender os pacientes de trauma”, afirma Saad.

O ATLS é elaborado pelo Colégio Americano de Cirgurgiões e seu Comitê de Trauma, da Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos e começou a ser ministrado a partir de 1980. O curso tem o seu conteúdo revisto a cada 4 anos, porque algumas condutas podem mudar em função da Medicina estar constantemente evoluindo.

O ATLS é realizado em mais de 35 países e, no Brasil, chegou por volta de 1989, trazido por um professor da USP da área de Cirurgia Geral de Trauma. Hoje, existem vários núcleos do ATLS no Brasil. Em São Paulo os núcleos estão localizados na cidade de São Paulo, Botucatu, Ribeirão Preto e Campinas. No Brasil existem núcleos no Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Vitória e em alguns estados do Nordeste.

O núcleo de Botucatu, que está ministrando o curso em Bauru, tem uma estrutura de seis instrutores, todos preparados de forma específica para o ATLS, através do manual do instrutor e de aulas didáticas sobre como ministrar aulas e como preparar o conteúdo oferecido aos alunos. O curso é padronizado de forma que o mesmo curso ministrado nos Estados Unidos é idêntico ao realizado em qualquer outro núcleo. De acordo com Saad, já foram formados mais de 230 mil médicos no mundo inteiro e, a cada ano, por volta de 20 mil médicos fazem o curso. São 1,1 mil cursos realizados por ano, no mundo todo.

O curso é realizado para uma turma de 16 médicos por vez. Em Bauru, já foi feito por uma turma e está sendo concluído pela 2ª. turma. De acordo com Saad, a Prefeitura Municipal prevê mais duas turmas de 16 médicos, completando o número de médico socorristas.

Prevenção

Cada médico formado no curso ATLS, além de começar a utilizar uma outra abordagem no tratamento de pacientes de trauma, passam a funcionar como divulgadores de formas de prevenção dos traumas através da realização de campanhas educativas. “As pessoas só se lembram que o trauma mata quando acontece uma tragédia”, comenta Saad. Para evitar o trauma, é necessário realizar campanhas de prevenção e conscientizar a população de que o trauma é uma doença.

O trabalho de prevenção é realizado nas auto-escolas, onde é mostrada a importância da manutenção preventiva e da direção defensiva. E, também, conscientizando as pessoas com relação aos efeitos do álcool na ocorrência de acidentes que produzem os traumas. “Se por uma lado faz-se um trabalho de prevenção com a população, precisa-se dar o conhecimento para o médico atender o trauma”, comenta Saad.

Como é o curso

O ATLS é um curso de imersão, realizado em dois dias e meio, que é dividido em atividades teóricas e práticas. Dentro das práticas, há o treinamento de simulações, discussão de raios X e discussão de choques, realização de fusão intra-óssea, que pode ser realizada em crianças. Para tanto, os instrutores trabalham com manequins para a realização de intubação. Alguns procedimentos são feitos em animais vivos, realizados mediante protocolos e com aprovação da Sociedade Protetora dos Animais. O curso termina com a simulação de um paciente.

O custo do curso varia para cada núcleo. No núcleo de Botucatu, o curso sai por R$ 550,00 por aluno. Na realização em Bauru, o curso está sendo fornecido aos médicos socorristas por intermédio da Prefeitura Municipal e com apoio do Confiança Max, Cirúrgica Moreira e Cata Eventos.

Serviço

Quem quiser mais informações sobre o curso, pode ligar para o médico Rogério Saad no Departamento de Cirurgia da Unesp de Botucatu através do telefone (014) 6802-6269.




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