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TERRA DE CONTRASTES

TERRA DE CONTRASTES

Rodolpho Pereira Lima
Roger Bastide, em seu livro “Brasil, Terra de Contrastes” (Difusão Européia do Livro/1964), na Introdução afirma: “Brasil, terra de contrastes... Contrastes geográficos, contrastes econômicos, contrastes sociais.”

Lembrei-me dessa obra devido o noticiário no JC (29/3) informando que o Conselho Municipal de Educação de Bauru promoveria um debate sobre municipalização e financiamento do ensino, em 2 de abril, no Teatro Municipal.

Lembrei-me também de uma entrevista concedida à Folha de São Paulo, em 1979, pelo então secretário de Estado da Educação de São Paulo, dr. José Bonifácio Coutinho Nogueira, cujo ano vivia-se intensa reforma no antigo ensino primário e médio, com a instituição e implantação do ensino de 1.º e 2.º graus.

Questionado sobre a situação efervescente no ensino, própria da reforma, disse o secretário: “Eu vou dizer com certa irreverência que o culpado de toda essa confusão não é nenhum de nós, e sim Dom Pedro I, que criou o ensino universitário antes de criar o ensino primário. A partir daí, o Brasil começou a pensar muito em ensino universitário, esquecendo-se do ensino fundamental. E os problemas do ensino estão no fundamental. O ensino superior tem graves problemas, mas a base do erro é o mau estágio que atravessa o ensino fundamental.”

Ainda vivemos resquício da aristocracia do tempo do Brasil Colônia e do Brasil Império. Exemplos desta triste realidade temos aqui mesmo em Bauru, em anos passados e atualmente.

No início da década de 60, foi construído um grande prédio, onde hoje funcionam o Cefam e a Diretoria Regional de Ensino. Esse prédio, construído pelo Governo do Estado, destinava-se ao funcionamento da Escola Técnica Profissional Estadual de Bauru. Assim que as obras foram concluídas, as forças vivas de Bauru impediram a instalação da escola técnica profissional, cujo objetivo era profissionalizar em várias áreas técnicas alunos concluintes do então ensino primário, de famílias carentes, para ingresso no mercado de trabalho com profissão definida. Instalaram no prédio uma Faculdade de Engenharia, paga, para atender jovens da classe privilegiada. A Faculdade passou a ser mantida por uma Fundação Educação de Direito Público Municipal. Recebia, além das mensalidades pagas pelos alunos, recursos financeiros dos Governos Federal e Estadual, inclusive 2% do Orçamento Municipal.

O Grupo Escolar "Professor Silvério São João funcionava em um prédio de madeira, atrás da antiga Santa Casa de Misericória. O Estado construiu um prédio novo, onde atualmente funciona a Escola Estadual de Ensino Fundamental "Professor Silvério São João". Assim que o prédio ficou pronto, novamente as forças vivas de Bauru entraram em ação em favor do ensino universitário. O Grupo Escolar “Professor Silvério São João” foi impedido de transferir-se. No novo prédio foi instalada a recém-criada Faculdade de Odontologia de Bauru da USP (FOB/USP).

Atualmente, Bauru desejando sediar a Reitoria da Unesp, a Prefeitura ofereceu três prédios, com apoio unânime dos vereadores. Dois prédios em forma de pagamento de aluguel por três anos, com aluguéis em torno de R$10, 12 e 20 mil mensais, e o outro prédio a ser construído pela Prefeitura, de 3 mil metros quadrados.

Em 1995, na administração do ex-prefeito Tidei de Lima, foram doados pela Prefeitura Municipal (lei n.º 3.932/95) à Universidade Sagrado Coração (USC) cinco alqueires de terra, área de 120 mil metros quadrados, avaliados, na época, em R$ 1milhão, nos altos da Bela Vista, para a construção de um conjunto policlínico, compreendendo a construção de Faculdade de Medicina e Hospital Universitário.

Quando se trata de problemas referentes à Educação Básica, em especial, educação infantil (creches e pré-escolas), municipalização do ensino fundamental, transporte de alunos e merenda escolar, tudo torna-se difícil, complexo, falta de verba, resistência de toda natureza.

O ensino público oficial na manutenção dos níveis escolares da educação básica e da educação superior, é contrastante nas condições de funcionamento e no padrão de qualidade do ensino oferecido, tornando-se discriminatório e prejudicial aos alunos das classes sociais mais carentes. Até quando? (Rodolpho Pereira Lima)




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