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Oficial da PM se especializa em prevenção às bombas

Oficial da PM se especializa em prevenção às bombas

Ieda Rodrigues
Apesar de 70% das ameaças de bombas no Estado de São Paulo não passarem de trotes, a possibilidade de explosão preocupa a polícia, que está treinando seus homens para evitar a paralisação de atividades nos alvos das denúncias, evacuações desnecessárias, danos a patrimônio e risco às vidas. Por isso, agora Bauru e região conta com um oficial da Polícia Militar capacitado para fazer a prevenção em ocorrência de bombas e outros explosivos.

O tenente Renato Ramos, que é comandante da Base Comunitária Noroeste, fez um curso sobre explosivos, em São Paulo, ministrado pelo Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate), no mês passado, junto a outros oficiais da PM e policiais civis. Em Bauru, nos últimos três anos, pelas estatísticas da Polícia Militar, foram registradas 41 ameaças de bombas, a maioria em escolas. Desse total de ameaças, ocorreram cinco explosões de fato - uma em escola e outras quatro em residências, ligados a questões políticas, na época da cassação do prefeito Antônio Izzo Filho.

Apesar de as explosões serem raras, só as ameaças causam transtornos e prejuízo, pois paralisam atividades e, em alguns casos, é preciso acionar o Gate, de São Paulo, para o local. É o que ocorreu em uma escola de Bauru em 1998, quando foi localizado um artefato no banheiro da instituição que, na verdade, tinha pequeno poder de destruição. No entanto, há outros casos, como o explosivo apreendido há pouco mais de um mês no presídio semi-aberto de Iaras (perto de Avaré), que tinha alto poder de destruição.

A bomba caseira apreendida no presídio havia sido feita com 13 quilos de pólvora colocados dentro de um extintor de incêndio. Conforme a polícia apurou, o objetivo dos detentos que fabricaram o artefato era levá-lo até a penitenciária de segurança máxima, que fica ao lado do presídio semi-aberto, para explodir as muralhas da unidade e, assim, dar fuga a presos da unidade.

Como policial preparado para fazer a prevenção em ocorrências de explosivos, o tenente Renato vai ministrar palestras à população sobre como proceder em situações de ameaças, em especial em locais considerados os principais alvos, como escolas. Ele também vai atuar, em Bauru e região, logo após o recebimento da ameaça de explosivo, fazendo todo o trabalho de prevenção e análise do perigo e, se for o caso, acionar o Gate para a desativação ou destruição do explosivo.

Conforme explicou o tenente Renato Ramos, o objetivo do curso foi aperfeiçoar um grupo de policiais nas ações antibombas e para os procedimentos preventivos, desde o momento que a ameaça é feita até a remoção ou destruição do explosivo, se for o caso, pelo Gate. Com policiais preparados para fazer a prevenção antibombas, espera-se evitar transtornos, como desocupar prédios após o recebimento de ameaça, sem que haja, de fato, material explosivo, e a redução do risco para as pessoas que estiverem no ambiente onde está o explosivo ou o suposto explosivo.

De acordo com o tenente Renato Ramos, a ação deve começar logo que a ameaça de bomba é recebida. “Tão logo a ameaça seja recebida, começamos fazendo uma análise de como e por quem ela foi feita, do alvo potencial; do histórico de ameaças e de explosão naquele local; se existe possibilidade de busca sem evacuação dos presentes no local”, contou.

Ele ressaltou que, quanto mais informações obtidas sobre a pessoa que avisou sobre a bomba, melhor. O curso ensinou, de acordo com o tenente Renato Ramos, que as pessoas que trabalham ou moram no local da ameaça da bomba podem ajudar na localização do objeto suspeito, que pode ou não ser explosivo, pois conhecem bem o ambiente.

Após identificado o objeto suspeito, a medida ensinada pelo Gate aos policiais durante o curso é isolar o local, ao mesmo tempo que se faz a análise no potencial do dano em caso de explosão. É dependendo dessa análise, que se define a área a ser evacuada. Ramos ressaltou que, em muitos casos, não é preciso evacuar todo o prédio, apenas o ambiente onde está o objeto suspeito.

O próximo passo, de acordo com o tenente Ramos, é acionar o Gate, que vai fazer a destruição ou a remoção do artefato, ação chamada de trabalho de contra bomba. A destruição do artefato suspeito no local onde é encontrado, que pode ou não ser explosivo, só é feito se não for possível removê-lo.

Segundo explicou o tenente Renato Ramos, existem técnicas específicas para a destruição de artefatos explosivos de forma controlada. Uma delas é através da utilização de jato d’água. Ramos ressaltou que a intervenção contra bomba mais difícil é quanto o artefato está preso ao corpo de alguém.

Na grande maioria dos casos, o objetivo de quem faz a ameaça de bomba é paralisar as atividades do local onde ele diz estar o explosivo. O exemplo clássico é o das escolas, que recebem grande quantidade de ameaças, principalmente em dias de provas. Nesse caso, a ameaça, tudo indica, ser feita por alunos que não querem fazer o teste naquele dia. O tenente Renato Ramos ressaltou que os trotes de bomba tornam-se mais raros à medida que o ameaçador não consegue o seu objetivo, no caso a paralisação das atividades. Por isso é importante análise da situação para depois decidir pela evacuação do prédio.

Orientações

* Ao receber a ligação, manter a calma, não fazer alarde
* Conversar o máximo possível com o denunciante e obter informações
* Se possível, colocar alguém na extensão para ouvir a conversa
* Anotar todas as palavras ditas pelo denunciante da bomba
* Prestar atenção no tom e sotaque da voz e a ruídos de fundo
* Se possível, perguntar quando ocorrerá a explosão, quem está falando, se foi ele próprio que colocou a bomba; por qual motivo; onde está a bomba; qual o tipo de bomba; o poder de destruição da bomba; o que fazer para não ocorrer a explosão e qual o alvo da bomba
* Acionar a Polícia Militar pelo fone 190
* Não tocar, não mexer e não mover no objeto suspeito
* Evacuar o ambiente onde está o objeto suspeito

América Latina

De acordo com o tenente Renato Ramos, a América Latina tem mais explosões de bomba do que o Oriente Médio. Em países como Argentina e Colômbia, as explosões são freqüentes por contas das guerrilhas e de atentados. A proximidade do Brasil com esses países preocupa a polícia, pois artefatos explosivos podem entrar no País com relativa facilidade.

Ramos lembrou que os artefatos explosivos mais apreendidos no Brasil são os caseiros, ou seja, feitos a partir de explosivos e com diferentes poder de detonação. Entre os industrializados, os explosivos mais apreendidos no Brasil são os pertencentes à polícia Argentina, que foram roubados, e os fabricados na Holanda, que entram no País contrabandeados.

Análise da denúncia ajuda

Em casos de denúncia de bombas, antes de saber se existe mesmo o artefato, se ele foi instalado e não apenas deixado no local, e qual é o seu poder de destruição, a análise da denúncia ajuda muito, segundo explicou o tenente Renato Ramos. Analisando a voz do denunciante e o que ele disse, é possível, em alguns casos, evitar evacuação do local e outros transtornos. O policial preparado para agir nesses casos, como o tenente Ramos, sabe avaliar se a denúncia tem as características de trote ou de que o artefato não foi instalado.

A grande maioria das ameaças de bombas é feita por telefone e, em 97% dos casos, por voz masculina. Quem avisa que colocou uma bomba em determinado local, dificilmente, conforme ressaltou, visa a explosão. Em casos assim, o objetivo do denunciante é paralisar as atividades. No entanto, como não se sabe se existe ou não o artefato e, se existe, qual o seu poder de explosão, todas as medidas de segurança precisam ser tomadas.

Ramos lembrou que, em datas como 1 de abril, Dia da Mentira, costuma ter um número significativo de ameaças de bomba que não passam de trotes. Ele frisou que dados como se o local onde o denunciante disse ter colocado a bomba é um alvo potencial, o tom da voz ao telefone, sem tem algum sotaque, e ruídos de fundo são importante na análise. Por isso, a orientação da polícia para quem receber uma denúncia de bomba é para conversar o maior tempo possível com o denunciante e obter o maior número de informações, estando atento a ruídos.

O tenente contou que, em alguns casos, informações dadas pelo próprio denunciante, ao avisar da bomba, por telefone, já indicam que trata-se de trotes ou que o explosivo foi colocado, mas não instalado. Ao mesmo tempo que a grande maioria das denúncias são falsas (trotes), a polícia tem dados de que o número de ameaças verdadeiras, em que há explosivo, vem aumentando.




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