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Reflexões na hora amarga - O incidente revelador

Reflexões na hora amarga - O incidente revelador

(*) Jorge Boaventura
Os leitores que, para nosso estímulo, acompanham o que, ao longo do tempo, temos buscado oferecer à consideração das suas inteligências, sabem que, de há muito, temos dito e repetido: a nossa civilização, aquela a que pertencemos e que até tão poucos anos era denominada cristã, está em plena decadência, nada obstante aparências externas possam fazer parecer absurdo o que, mais uma vez, afirmamos. A propósito, tivemos oportunidade de publicar um ensaio, cuja extensão não caberia neste espaço, em cujo ensaio, afirmamos a aplicabilidade do conceito de limite de homeóstase também aos formatos civilizacionais, bem como que no caso da nossa civilização, o referido limite já teria ultrapassado; e, ao afirmá-lo, indicamos as variáveis que, segundo nosso entendimento, teriam sido vulneradas, fazendo irreversível o processo de degradação em que caímos. Agora, surge o episódio revelador da insensatez dos que, já constituídos em uma espécie de governo mundial, tentam impor-se em nome de globalização forçada por ele, que não representa mais do que uma estratégia de dominação mundial em seu próprio proveito. O episódio em causa, o leitor já o terá adivinhado, é o do avião de espionagem, de matrícula americana e com tripulação de nacionalidade americana que, ao chocar-se com um caça chinês, provocou a queda deste e o desaparecimento do seu piloto.

Ora, a China, com os seus cerca de um bilhão e trezentos milhões de habitantes tem sido a menina dos olhos dos supostos defensores da democracia e dos direitos humanos, cuja insaciável cupidez lançou à conquista de mercado tão tentador.

Tão tentador que, ao mesmo tempo em que massacravam a Sérvia, recebiam em Washington, com tapete vermelho e efusivos apertos de mãos e largos sorrisos, o chefe do Estado chinês, Estado sob regime ditatorial, materialista e ateu.

Mas, como era previsível, e nós daqui mesmo já o dissemos há muito tempo, os mesmos capitalistas financeiros, enlouquecidos pela ambição, nunca deveriam ter desmantelado e degradado a antiga União Soviética, antes de terem-no feito à China. O resultado é que existem claros indícios de que esta aprendeu a lição e está se abrindo àqueles capitais, com cautela e suspicácia suficientes para passar a preocupá-los. Daí, a espionagem intensificada, e daí a nossa cautela ao falarmos de avião de matrícula americana, com tripulação de cidadania americana. É que segundo pensamos, eles servem àqueles capitais e não - embora não o saibam - aos verdadeiros e mais profundos interesses da nação americana. Tal como de resto, vem acontecendo a outras nações e aos cidadãos de outros Estados, pelo mundo afora.

O desfecho do incidente revelador parece difícil de prever. Mas, segundo pensamos, já não é questão de prever, mas de constatar, o ressurgimento de uma bipolaridade do poder mundial, tendo transpirado que vão muito avançadas as negociações para o estabelecimento de um tratado de amizade política entre Pequim e Moscou. Se somarmos a tudo isso, o vulto que vem tomando o mundo islâmico, grande parte do qual não está submetido ao governo mundial a que nos estamos referindo, teremos a, para nós, clara presença do segundo plano da História, e que de fato a conduz, a despeito da maldade e da impenitência dos homens. O futuro nos trará a resposta.

(*) Home-page: www.jorgeboaventura.jor.br
E-mail: [email protected]





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