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29/03/01 00:00 -

Estranhas sensações

Estranhas sensações

Ercília Pollice (*)
Todos nós temos guardados em nossa memória, de uma maneira consciente ou não, fatos que fizeram parte de nossa história de vida.

Ocupam lugares diferentes em nosso subconsciente ou inconsciente, talvez, mas estão lá, e de um momento para outro falam: - presente!

Cenas da infância ou da juventude, enfim cenas passadas, vêem à tona num instante como num flash, quando um ruído, um cheiro, uma música são sentidos ou ouvidos por nós. Sensações tão estranhas, quanto próximas! Ficamos abismados, de como as sentimos tão vivas.

O cheiro bom da terra molhada depois da chuva, me faz voltar ao passado numa fração de segundos.

O gosto e o cheiro de bolinho de chuva que povoaram as tardes da minha infância e juventude, me fazem engolir saliva, quando o dia é frio e chuvoso.

Jonhny Mathis no CD cantando “My love for you” me transporta num passe de mágica, às noites gostosas e românticas de um tempo feliz em algum lugar do passado.

Outro dia, uma citação de latim, numa conversa, levou-me aos bancos da escola, com colegas, professores, corredores, recreios e paqueras e me trouxe à cabeça o “qui, quae, quod”... e me peguei sorrindo...

Céus estrelados nos levam de volta, à saída dos bailes, com amigas, sapatos na mão, cantando pelas ruas, sem a menor preocupação com nada, pois a vida era só risonha e franca!

Fiquei conjecturando tudo isso, depois de ler uma crônica do Falabella.

Com uma sensibilidade que só alguns poucos privilegiados têm, ele dizia que a memória costuma armazenar não os grandes feitos, mas os pequenos momentos, e só nos damos conta disso, justamente quando nos lembramos de coisinhas miúdas, nas quais nem pensávamos.

Os grandes sofrimentos, ou os que nos pareciam grandes, se diluem no tempo.

A picada de injeção da infância ficou pra trás...

O tombo da bicicleta que doeu tanto, já foi...

A dor de parto do filho, ninguém mais se lembra...

O braço quebrado, são águas passadas...

Mas as saudades das lembranças boas, ah! as saudades das lembranças boas.

Saudade danadinha, essa dói, e como dói fundo!

Um sentimento que aperta o peito e nos aprisiona a alma, por instantes, mas muito fortemente.

Aquela saudade do abraço apertado e cheio de magia...

O beijo apaixonado demorado e único...

O silêncio cúmplice de depois do amor...

Os gestos de ternura... memórias que se tornam reais e que gostamos de sentir!

É um doer gostoso, doer que simboliza vida! Pequenos grandes momentos.

Gostosas sensações!

Estranhas sensações!

(*) Ercília Ferraz de Arruda Pollice - escritora/ poeta/ acadêmica da Academia Bauruense de Letras de Bauru/ assessora de arte de Ju Machado-Escritório de Arte




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