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15/03/01 00:00 -

Humanizando a clonagem

Humanizando a clonagem

(*) N. Serra
Está na ordem dos nossos surpreendentes dias a idéia da clonagem de humanos. E se indaga o que significaria clonar. O que é isso, já que nenhum dicionário da língua portuguesa (procurou-se em muitos) o explica devidamente para fazer luzes no raciocínio e na compreensão dos seres pensantes existentes aos milhões ou bilhões na paisagem colocada à nossa vista? Chega-se a pensar que seja designativo nascido das entranhas profundamente especulativas da novata Internet, uma vez que essa invenção do criativo Século XX já inseriu na cabeça de muita gente um turbilhão de expressões verbais, que os usuários vão recebendo de um lado, aceitando de outro e passando para a frente sem naturais amarras. A partir disso está-se atirando, então, a culpa de tudo ou mais aos lingüistas que escreveram seus dicionários ao tempo em que nem se sonhava com a tal clonagem e, agora, nem eles ou seus sucessores, apressam-se a acrescentar nas novas edições dos livros de consulta vernacular o termo que acaba de nascer, artificialmente, nos cérebros privilegiadamente inventivos de cientistas americanos, italianos, escoceses e outros. Eles e seus parceiros (feliz ou infelizmente poucos) extasiaram-se diante dos encantos da sedutora carneirinha Dolly, protótipo da invenção hodierna e, vai daí, partirem para a idéia de trazerem também para o novo mundo seres humanos concebidos e gerados por formas extra-divinas. Um deles até teria dito: já que se inventou ir libertamente à Lua, rasgando nuvens, rompendo constelações e se aproximando da grande janela de Deus, por que não ir anunciar-lhe que, agora, a ciência inicia competição arvorando-se também à geração artificial de seres humanos, perfeitinhos, com cabeça, tronco e membros...?

Ainda é muito cedo para que o homem produza pela clonagem crianças que não chorem no momento do parto (?) nem resultem em aborto ou dêem origem a fetos deformados. Os próprios cientistas estão convencidos disto. Pensariam em que fabricar crianças nas oficinas da nova “indústria”, sem chaminés, sem fumaça e sem apitos, seria aumentar criminosamente o manancial de berços e caminhas em que diariamente são depositados seres desprovidos de saúde e de alimentação, como os atuais, e, por isso, condenados a fecharem definitivamente os olhinhos antes da aurora do primeiro aniversário? Considerariam que, diante das trombadas que a humanidade vem dando, com possibilidade de se tornarem hecatombes, dentro em breve não mais ter-se-ão mães geradoras ao estilo e à vontade divina? Se ainda não pensaram teriam de fazê-lo. Poder-se-ia formular então aos suscitadores da clonagem humana questionamento diferente, enquanto o câncer, a aids e outras enfermidades vão galopando inapelavelmente sobre muito dos milhões que já nasceram? É a nossa opinião.

(*) O autor, N. Serra, é o jornalista responsável do JC e delegado regional da Associação Paulista de Imprensa e da Ordem dos Velhos Jornalistas do Estado.




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