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Lobby movimentará escolha da Reitoria

Lobby movimentará escolha da Reitoria

Daniela Bochembuzo
Para Edwin Avólio, presidente do GAC da Unesp em Bauru, contrapartida do Município pode ter mais peso na decisão

As questões políticas não ficarão de fora da escolha da nova sede da Reitoria da Universidade Estadual Paulista (Unesp), hoje sediada em São Paulo e pleiteada por Bauru, Araraquara, Botucatu e Rio Claro. A opinião é do professor Edwin Avólio, presidente do Grupo Administrativo do Câmpus (GAC) da Unesp de Bauru. Ele prevê que a decisão envolverá, além da análise criteriosa os quesitos técnicos, lobby entre os membros do Conselho Universitário - órgão que decidirá a nova localização do órgão máximo da universidade -. A contrapartida do Município, avalia, será decisiva. Apesar do prefeito Nilson Costa (PPS) não ter apresentado nenhuma proposta, Avólio se mostra confiante na candidatura bauruense. “Temos boas localização e infra-estrutura e não nos preocupa os critérios acadêmicos, mas a disputa será embolada”, antevê. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista concedida pelo presidente do GAC ao Jornal da Cidade.

Jornal da Cidade - Na última sexta-feira, o GAC se reuniu com a comissão da Reitoria. O que foi discutido?

Edwin Avólio
- Luiz Antonio Vane, que é presidente da comissão, fez uma apresentação rápida do papel da comissão, que é de somente de coletar as informações e sistematizá-las, para que daí esse documento seja entregue ao membros do Conselho Universitário como fonte de consulta. Depois, iniciados questionamento de vários itens em relação à forma de julgamento dos quesitos. Uma das dúvidas que tínhamos referia-se ao critério de desempenho acadêmico. Porque, no nosso modo de entender, a mudança da Reitoria é um aspecto administrativo e mesmo Vane colocou nas suas palavras que o principal motivo de mudança é econômico. Se é assim, a situação de mudança é administrativa. Ele explicou que existe uma infinidade de quesitos que podem ser elencados, e esse foi um deles e, se não fosse colocado, um outro câmpus requisitaria essa análise. Então, como um dos critérios privilegia uma cidade e outros não, eles colocaram itens de forma geral. Agora, se o Conselho Universitário vai levar o critério acadêmico em consideração, é outra história. Na hora da votação, os esclarecimentos terão que ser feitos para que os conselheiros saibam para quê é a abundância de dados e, a partir daí, definir os pontos que eles acham que devem ser levados em consideração.

JC - Mas os critérios acadêmicos preocupam o GAC de Bauru?

Avólio
- Não, eles não preocupam. Se fosse pegar o critério acadêmico, utilizaria aquele referente à titulação dos docentes. Hoje, no câmpus, nós temos uma média de 60% com titulação de doutor, que é referência para a universidade. A média da Unesp é de 70%, então, nós estamos muito perto da média da universidade com 13 anos de Unesp! Nós começamos do zero há 13 anos - nós tínhamos um ou dois doutores - e hoje nós temos 60%. Então, a velocidade de titulação do câmpus de Bauru foi muito maior do que a média da Unesp. Há unidades aí que têm 30 anos, que estão desde a criação da Unesp, então, elas já têm infra-estrutura, estão consolidadas, portanto, têm capacidade de produção maior. É necessário definir um referencial para você poder comparar os câmpus. O critério acadêmico, a meu ver, não poderá ser linear, numérico; tem que ter um referencial para colocar todo mundo no mesmo nível de igualdade, para fins de comparação. Fora isso, é muito complicado usar esse critério porque ele não é justo.

JC - Entre os quatro itens de avaliação (localização, critérios acadêmicos, infra-estrutura municipal e contrapartida do Município), na sua opinião, algum deve ter peso maior?

Avólio
- Acho que, pelo que nós estamos sentindo das discussões, a contrapartida da cidade deve ter peso forte. Porque se você for pegar localização geográfica, como a comissão colocou, as quatro cidades que estão competindo estão num quadrilátero cujo centro do Estado está no meio, então, todas estão eqüidistantes do centro geográfico estadual. Bauru pode ter vantagens a acesso de rodovias em relação a Botucatu, mas em relação a Rio Claro e Araraquara, talvez não, porque lá eles têm a Washington Luiz, a Anhanguera, quer dizer, têm facilidade de acesso. Infra-estrutura, Bauru tem melhor do que as outras, então, você vê que dos quatro parâmetros, uma têm uma coisa melhor do que a outra, o que torna a disputa meio embolada. Acredito que o que vai decidir é a contrapartida. Não sei se o Conselho Universitário vai ponderar os parâmetros, só na primeira reunião vai ser decidido como se dará o processo.

JC - O processo de escolha deve começar em abril?

Avólio
- Sim, em abril. A idéia do professor Trindade (reitor da Unesp) é que até o dia 20 todas as unidades e cidades tenham encaminhado os questionários respondidos. A partir daí, a comissão terá dez dias para sistematizar esse dados e encaminhá-los ao conselho no início de abril. O Conselho Universitário deve realizar reuniões extraordinárias para discutir esse assunto. Porque eles têm pressa. É em agosto que vence o contrato de aluguel do atual prédio da Reitoria e, se for renovar, deve ser por dois anos, então, a decisão deve ser antes disso.

JC - Quantos membros Bauru tem no Conselho Universitário?

Avólio
- Temos mais do que 10% dos 73 membros do Conselho Universitário. Temos três diretores, três professores, mais um aluno e outra pessoa, são oito.

JC - Há câmpus com percentual similar?

Avólio
- Os câmpus que são definidos como complexos, como Botucatu, Araraquara e Bauru, têm número similar de membros.

JC - O senhor acredita que os membros do Conselho vão se pautar por critérios técnicos para escolher a nova sede?

Avólio
- Olha, conheço o Conselho Universitário há algum tempo. Acho que os critérios técnicos vão ser levados em consideração, sim. Lógico que tem o aspecto político interno da universidade e isso a gente não pode deixar de lado. Mas conhecendo a forma de atuação dos membros, acredito que vão ser levados em consideração os itens técnicos.

JC - O senhor acredita que deva ocorrer lobby nessas reuniões?

Avólio
- Acho que sim. Toda votação, na qual precisa ser tomada uma decisão, envolve as conversas, então, acredito que vá haver sim.

JC - Como está a mobilização da comunidade do câmpus de Bauru?

Avólio
- Nós estamos iniciando a mobilização agora, porque a comunidade estava em férias até 5 de março. Então, com a volta deles esta semana e com a vinda da comissão, nós vamos iniciar um processo de divulgação disso no câmpus. Tivemos uma reunião do GAC na última quinta-feira e decidimos fazer, através da presidência do câmpus, uma reunião com as três entidades representativas - docentes, servidores e alunos -, para que eles busquem a mobilização dentro dos segmentos. E as três congregações nós devemos fazer uma reunião extraordinária para discutir esse assunto, porque o diretor representa a congregação e o voto dele tem que ser de acordo com a decisão da congregação, que é o órgão máximo de decisão nas unidades.

JC - Não dá para perceber nenhum esboço de sentimento em relação à transferência da Reitoria?

Avólio
- Ainda não, porque a grande maioria não está esclarecida sobre o assunto. Já colocamos alguns pontos de coleta de assinaturas para o abaixo-assinado, mas existem outras formas de mobilização, uma delas é pelo esclarecimento. Mesmo assim, acredito que dificilmente a comunidade será contra a vinda da Reitoria para Bauru, não há motivo para isso. A discussão e o engajamento devem ser tranqüilos.

JC - O que alteraria a vinda da Reitoria em relação ao câmpus local?

Avólio
- Nada, é mais o status para a cidade. No caso do câmpus, continuaremos com as nossas atividades normais. O prédio da Reitoria é separado das unidades, ou seja, cada um tem vida própria. Agora, o benefício é para a cidade.

JC - Por causa dessa mobilização toda, o senhor percebeu algum sentimento diferente da cidade em relação ao câmpus da Unesp?

Avólio
- Sim, eu senti que nós conseguimos com essa campanha que mais pessoas da comunidade soubessem que existe a Unesp em Bauru, porque, infelizmente, nós não temos campanha de marketing, então, a universidade tem a vida própria dela. Agora, muitas pessoas não sabiam que existia Unesp, quantos cursos oferecemos, então, esses vários dados apresentados pela campanha e difundidos pelos meios de comunicação revelam o tamanho e o peso da universidade na cidade de Bauru.

JC - Com toda essa importância, a Unesp é pouco requisitada pela comunidade.

Avólio
- E também pouco se coloca à disposição. É lógico que existe disposição de várias pessoas, como projetos ligados à Secretaria da Educação, convênios específicos com a Prefeitura, a atuação forte do Centro de Psicologia Aplicada, do IPMet, da Rádio Unesp, mas acho que precisa uma disposição maior da comunidade acadêmica em colocar o conhecimento à disposição da cidade, retornar mais aquilo que é investido na universidade. Se isso fosse feito com mais intensidade, a comunidade teria conhecimento maior sobre o que é a Unesp.

JC - Se Bauru tem conhecimento reduzido sobre a Unesp, a região...

Avólio
- Não posso precisar, mas se Bauru tem essa visão pouco clara, acredito que a região também deva ter. Há os alunos da região que estudam na Unesp e essa deve ser a relação que a região mantém com a universidade. Não existe uma divulgação dos trabalhos da universidade junto às cidades da região, às prefeituras, não é algo feito normalmente.

JC - Como está a Unesp em relação à pesquisa? No ano passado, alguns departamento receberam verbas expressivas nesse sentido.

Avólio
- Existem vários grupos fortes de pesquisa. A Faculdade de Ciências tem vários grupos importantes, com poder de captação de recurso muito grande. Não posso precisar o valor que foi captado, mas foi uma soma vultosa. Eles conseguiram equipamentos de última geração. Na Faculdade de Engenharia também temos grupos com grande capacidade de captação de recursos, então, hoje, nós chegamos num momento de explosão. De 13 anos para cá, da encampação para cá, foi aquela luta para obter a titulação. Se você pega três a quatro anos para mestrado e mais quatro a cinco para doutorado, são quase dez anos. De três anos para cá é que nós formamos nosso pessoal, mas eles não estavam prontos, porque não basta ter o título de doutor que já te habilita a ser pesquisador, tem que trabalhar, batalhar, orientar os alunos, aí vai adquirindo aqueles conhecimento e deslancha. Bauru está nesse momento, decolando para a área de pesquisa e é isso que permite o desenvolvimento acadêmico dos docentes.

JC - Os próximos anos serão a prova de fogo?

Avólio
- Não, acho que isso é irreversível. A pesquisa só tende a aumentar, porque as pessoas que vão terminando agora vão se engajando num grupo que já está em movimento. Agora, acredito que deva ocorrer uma explosão, será um aumento de produção científica muito grande na Unesp de Bauru.




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