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27/02/01 00:00 -

A perigosa inversão de posições

A perigosa inversão de posições

(*) Jorge Boaventura
Os leitores que, para nosso estímulo, costumam prestigiar-nos com a leitura do que temos buscado oferecer à consideração das suas inteligências, sabem que, entre outras coisas, temos mencionado a absurda inversão de posições a que se vem entregando o mundo, no sentido de subordinar o sujeito, o autor da economia, que não resulta de outra coisa, senão da nossa atividade, a algo que passou a ser designado como Mercado, algo a que, absurdamente, se atribui a qualidade de ente autônomo, ao qual, os que o criamos, devemos subordinar-nos. A Igreja, em mais de uma oportunidade e, no atual pontificado, por intermédio, especialmente da carta encíclica “Laborem Exercens”, tem realçado que, em termos de ética cristã, o trabalho precede o capital. E a razão, se não existissem outras, consiste no fato de que o segundo não existiria sem o primeiro, representando o citado capital algo que poderíamos dizer que não é mais do que fruto acumulado daquele que, eticamente, deve precedê-lo.

Sob a batuta, porém, cada vez mais desembaraçada e sem cerimoniosa da nova versão do culto a Mamon, batuta empunhada pelos que se apresentam como defensores da democracia e dos direitos humanos, mas que engendraram uma ordem internacional que desmente a primeira pelo uso que fazem da força, por vezes levado a cabo de maneira explícita e brutal contra os segundos, vem sendo gerada uma perigosa instabilidade - ao menos é assim que analisamos a realidade dos dias correntes - de vez que a prática da injustiça e a inobservância da ordem natural das coisas, jamais poderão ter duração permanente.

Ainda há pouco, aquela sem cerimônia a que fizemos referência, manifestou-se com o insólito bombardeio a Bagdá, levado a cabo sem sequer consulta a parceiros do mesmo bloco a que pertencem os agressores.

Claro que o pretexto alegado foi o de combater o ditador Saddam Hussein, que seria uma ameaça para o mundo (!!!). Uma coisa, porém, são pretextos; outra, são os motivos reais. Em sua cegueira, parecem não perceber os servidores de Mamon, que o mundo vai se dando conta, a pouco e pouco, da presença, cada vez mais ameaçadora, do poder que detêm e de que, cada vez mais abusiva e contraditoriamente, vêm fazendo uso. Será que supõem, por exemplo, que não se começa a perceber que os seus motivos nada têm a ver com o ideal democrático nem com os direitos humanos? Serão, por exemplo, a Arábia Saudita e a China continental democracias e terão governos irreprocháveis, em termos de observância dos direitos humanos? Entretanto, são tratados como amigos, com carinho e deferência. E não parece nada absurdo, muito antes pelo contrário, supor que a razão daqueles carinho e deferência está, no que se refere à primeira, no fato de flutuar sobre um mar do ouro negro, no fundo sob o controle das “sete irmãs”; e no que se refere à segunda, em representar um mercado de um bilhão e trezentos milhões de consumidores. Como podem ver os leitores, de fato há uma grande diferença entre pretextos alegados e motivos reais, diferença cada vez mais claramente percebida por um número cada vez maior de pessoas, no mundo inteiro, inclusive em países, como os EUA e Inglaterra, que representam principalmente o desabusado poder a que nos estamos referindo. E não parece ao leitor que tudo isso aponta, realmente, para uma desestabilização que se vem tornando, dia-a-dia, mais possível? Diríamos que, pelo menos, vale refletir sobre o assunto. E é a essa reflexão que convidamos os leitores.

(*) Jorge Boaventura - home-page: www.jorgeboaventura.jor.br
e-mail: boaventura.jorgeboaventura.jor.br





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