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18/02/01 00:00 -

O branding une a "violência" do piercing à "eternidade" da tatuagem

O branding une a "violência" do piercing à "eternidade" da tatuagem

Gustavo Cândido
O branding, a “tatuagem que queima”, é a mais nova moda entre as tribos radicais do Brasil que procuram os limites do corpo

Primeiro foram as tatuagens, depois os piercings, agora a nova mania radical que está chegando com força total no País é uma mistura das duas técnicas. O branding, técnica pela qual a pessoa marca o corpo com metal em brasa, é uma body art (arte do corpo) que une a “violência” do piercing à “eternidade” da tatuagem. Bauru não está atrasada em relação às capitais que sempre acolhem as novidades vindas do exterior antes, o body piercer (ou perfurador), Marcel Eduardo Paro, o Gordo, há um mês “marca” jovens que buscam se diferenciar identificando o próprio corpo com sinais exclusivos.

O branding surgiu como body art, nos Estados Unidos há, aproximadamente, seis anos. Mas o costume de queimar o corpo para produzir cicatrizes com formatos diferentes é antiga, segundo Gordo. “Os índios e os escravos tinham queimaduras desse tipo”, diz. O objetivo é simular uma marca de nascença usando o fogo e nem de longe pensar em algo estético. “Não é arte, como uma tatuagem, é uma coisa rústica, que não é para ficar bonita”, define Gordo, que há uma semana queimou a própria perna, na primeira fase de um branding que, quando pronto, deve simular uma cicatriz de um corte que tenha sido fechado por pontos.

Marcando o gado

O processo é o seguinte: a pessoa escolhe o formato do desenho que quer fazer no corpo. Como ninguém é louco o suficiente (ainda) para ser queimado por várias horas, os desenhos geralmente se resumem a símbolos simples formados de poucos traços como raios, suásticas e ideogramas orientais. Definida a imagem e o local do corpo onde ela vai ser colocada, o perfurador prepara as chapas de aço inoxidável que vão servir para queimar a pele do “tatuado”. O princípio é o mesmo da marcação de gado, segurando as chapinhas com uma chave ou alicate, o perfurador, depois de ter depilado a parte do corpo da sua “vítima”, acende um maçarico, coloca a chapa na chama e espera até que ela esteja incandescente, bem vermelha, em seguida, marca a pele no lugar previamente riscado com uma caneta.

A temperatura da chapa não permite que o sangue apareça, a pele se abre como se tivesse havido um corte seco, o toque provoca um leve chiado e um cheiro de carne queimada invade o ar. Está pronto.

Dependendo da figura que vai ser marcada, uma sessão de branding não dura mais do que meia hora. Além do especialista na técnica, um ajudante pode ficar por perto para ajudar a segurar a parte do corpo do tatuado que vai ser marcada. Não se trata de uma maneira de garantir que ele não vá sair correndo quando sentir a primeira “agulhada” da chapa quente, mas sim de evitar algum movimento que possa comprometer o formato final do branding.

Após a marcação, uma pomada anti-bactericida é aplicada para que não haja nenhum tipo de infecção. Esse é o único cuidado que o tatuado tem com sua marca e mesmo assim acontece apenas uma vez. “A pessoa não deve ficar passando pomada porque ela tem que ficar com a cicatriz”, explica Gordo. Os brandings bem-sucedidos, na opinião do perfurador, são aqueles nos quais os quelóides (aquelas formações que surgem na cicatrização e se caracterizam pela cor diferenciada da pele e relevo elevado) são mais altos e claros, o que depende de cada pessoa.

Segundo Gordo, ter a pele queimada durante o branding não dói. Ou, se dói, é algo suportável. “O que dá uma descarga de adrenalina muito grande, o que é legal depois... É uma coisa para quem está querendo conhecer os limites do seu corpo”, declara.

Uma novidade

Ganhar uma marca eterna no corpo é última das preocupações de quem faz um branding. Ao contrário. “O meu maior prazer é saber que não vai sair mais”, declara Rogério Mariano da Silva, conhecido pelos amigos como Bambu. Com oito piercings espetados pelo corpo e um alargador na orelha (um instrumentozinho que faz um buraco no lóbulo da orelha que fica parecida com a dos índios brasileiros), Bambu fez um branding de uma careta na perna, que não possui um significado especial, “é só um desenho”, diz.

Para André Luis da Silva, o interessante do branding é o fato de ser uma novidade. “Fiquei curioso, deu vontade de fazer e fiz”, conta. André, que também tem dois piercings, possui duas letras japonesas cicatrizando na perna e no futuro pretende orná-las com uma tatuagem tradicional. Renato Reis Rodrigues também fez branding pela novidade. “Já tinha visto, quando soube que tinha chegado em Bauru, quis fazer”, afirma, mostrando o ideograma chinês da perna.

Dor e preconceito

Se levar uma marca para sempre não importa, a dor do processo muito menos. “Quando a gente se queima no fogão ou na moto é muito pior”, revela André da Silva. Renato Rodrigues confirma, “A gente sente uma dor mas não é nada que não seja suportável” e confessa: ”tenho mais medo de ir ao dentista”. Mas se a marca e a dor não incomodam, o preconceito atrapalha um pouco. Rogério Bambu, chegou até a se afastar de algumas pessoas da sua família que criticaram os seus piercings. “Quando eu coloquei eles se afastaram e estão longe até hoje”, conta sem parecer se importar muito com a opinião dos parentes. “Preconceito é idiotice”, dispara.

Para Renato Rodrigues, o preconceito existe, mas está melhorando com o tempo. “Acho que as pessoas estão ‘abrindo mais a cabeça’”, diz, “as coisas estão ficando mais aceitáveis do que antigamente”. As piadas, porém, resistem e a comparação com os bovinos é inevitável. “Os amigos brincam dizendo que o branding é igual a marcar boi”, revela bem-humorado André da Silva. Segundo ele, outros amigos são mais práticos e se oferecem para marcá-lo da próxima vez. “Eles dizem: ‘se era para fazer isso porque você não me falou que eu esquentava uma faca’”, diverte-se.

Limites do corpo

Parece não haver limites para as pessoas que buscam formas radicais de “decorar” o próprio corpo. Além do recém-chegado branding, algumas novas técnicas estão fazendo sucesso nos Exterior e logo devem chegar ao Brasil. Marcel Paro, o Gordo, conta que já existe uma nova técnica de piercing no qual um objeto é colocado embaixo da pele. É o piercing subcutâneo, feito com uma peça de silicone que pode ter vários formatos. “Tem gente que está colocando chifres na cabeça e até rabo”, diz Gordo. Os mais masoquistas partem para o que há de mais radical, a suspensão, na qual ganchos perfuram a pele em várias partes do corpo (principalmente no tronco) e depois são puxados por cordas que suspendem o corpo da pessoa, que fica paralelo ao chão. Por enquanto a técnica ainda não é popular no Brasil, mas, com certeza, não deve demorar para chegar. E ai, dá para encarar?




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