Carnaval: a comunidade em ação

Envolvimento da comunidade nos quatro cantos de Bauru deve fazer a diferença no Carnaval 2001, que perdeu verba, mas aposta na criatividade e na profissionalização

Com o corte de 36% no repasse da verba municipal para a Liga das Escolas de Samba e Entidades Carnavalescas (Lesec), o Carnaval deste ano deve representar uma espécie de ressurreição do jeito antigo de fazer Carnaval. Para não perder em espetáculo, coisa que nenhum(a) presidente de escola ou carnavalesco admite, a expectativa é que o envolvimento da comunidade e a criatividade façam a diferença. "Vou tirar da cabeça o que não tenho no bolso", sustenta o carnavalesco Sidnei Giovani Bauer, da escola de samba Corinthians da Nova Esperança.

Na entrada da casa de Tia Cida, a presidente da escola, um recado na cartolina pregada na parede diz tudo: "Escola de samba é como uma firma. O povo é o cliente e o cliente em primeiro lugar". Para ter mais dinheiro para os carros alegóricos, a escola cancelou o aluguel do barracão e faz os ensaios na frente da casa da presidente.

"Quero tirar a má impressão do ano passado. Vamos mostrar que nosso trabalho é digno e honesto", afirma Tia Cida. Batalhadora, quando o Carnaval vem chegando, ela divide o trabalho de empregada doméstica com a coordenação da escola de samba. Na avenida, brilha como baiana, esquece da vida, ou, sabe lá, vive a vida na plenitude da ilusão. Este ano, a escola vem com um enredo que fala mais ou menos disso, chama-se "Tributo à Nobreza Popular".

Na Azulão do Morro, do Parque Jaraguá, o esquema também é comunitário. Pai, tia, mãe, filha, sobrinho, todo mundo trabalha com a proximidade do Carnaval. Este ano, a escola desfila com subvenção oficial pela primeira vez e promete fazer bonito, depois de surpreender em 2000, apresentando um certo luxo, que chamou atenção do público e da mídia que cobre o desfile todos os anos.

Este ano, a Azulão ataca futurista, com o enredo "www.azulão.com.br", assinado por Dora Girelli. "Vamos para as cabeças. Vou brigar pelo título. Só queria pedir que o bairro nos ajude, que as pessoas venham para somar. Afinal, estamos levando o nome do Jaraguá para a avenida", afirma Cidinha, a presidente da Azulão.

Na Cartola, o clima é de otimismo com a anunciada profissionalização do Carnaval de Bauru. Campeã dos últimos cinco carnavais, a escola cresce a cada ano, planejando, inclusive, ir disputar o Carnaval de São Paulo. A humildade, no entanto, é a tônica do discurso do presidente da escola, Pasqual Storniolo.

Depois de vibrar com as notas dez alcançadas pela escola em todos os quesitos, no ano passado, Pasqual promete melhorar ainda mais o nível do espetáculo proporcionado pela Cartola, com toda a pompa que caracteriza a escola, sem, contudo, descuidar dos quesitos técnicos. "Não é porque a verba do Carnaval diminuiu, que o Carnaval da Cartola vai diminuir, vamos subir mais um degrau este ano e, com todo respeito às outras escolas, buscar o hexacampeonato", anuncia.

De acordo com o presidente, a profissionalização vai ser a saída para que o Carnaval de Bauru se consolide, acabando com as dúvidas que pairam sobre a subvenção oficial todos os anos e os problemas de organização. Com a profissionalização, Pasqual aposta no crescimento de todas as escolas que fazem o Carnaval de Bauru, elevando o nível geral e a competitividade. O enredo da Cartola este ano é "A Saga Fantástica da Criação de uma Nação". De acordo com o presidente, a partir de 2002, a escola vai preparar cinco enredos homenageando personalidades locais. Um boa notícia para quem defende um Carnaval mais ligado aos assuntos da cidade e da região.

Vice-campeã no ano passado, a Coroa Imperial vai tentar seu primeiro título este ano, quem garante a intenção é o presidente da escola, Avelino de Souza, que também é presidente da Lesec. A escola vem com o enredo "Depois das 18, Eu te Encontro, te Encanto e te Conto", apoiado por um samba do bamba Léo do Rasi, autor de sucessos que já fizeram história nas passarelas de Bauru.