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"Tirar a carta foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida"

"Tirar a carta foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida"

André Tomazela
A professora aposentada e presidente da Apae desde 1982, Olga Bicudo Tognozzi, é o exemplo perfeito de quem enxerga o veículo, não como luxo ou ostentação, e sim como artigo de primeira necessidade

Em seus 72 anos de idade, Olga Bicudo Tognozzi teve apenas um modelo de veículo em toda a sua vida. Trata-se do Fusca, da Volkswagen, carro que a servia em todas as suas necessidades de locomoção e que era sinônimo de liberdade.

Ela só começou a sentir a necessidade de possuir um carro na ocasião da perda de seu esposo. “Quando eu perdi o meu esposo, o meu sobrinho passou a ser o meu motorista. Mas não demorou muito tempo e ele começou a namorar e se casou e eu fiquei despida deste conforto”, conta Olga.

Na ocasião, com 44 anos de idade, resolveu tirar a carteira de habilitação. “Eu estava com o emocional bastante abalado em função da perda do meu marido. Então, eu ia fazer os exames com calmantes”, comenta. Mas a determinação e a vontade de ficar independente levaram Olga a persistir no seu objetivo e obter o documento de habilitação. “Foi nesse momento que eu comecei a perceber a importância do veículo na nossa vida, nossa independência e liberdade. Eu consegui tirar a carta e foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida”, afirma.

Em 1976, Olga, que era professora de nível um e ministrava aulas nas escolas da Zona Rural, ingressou na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), instiuição que é presidida por ela há 19 anos. “Eu acredito que entrar na Apae foi um desígnio de Deus. Eu tive uma carreira muito acidentada como professora da Zona Rural e em 1962 fui removida para Bauru, onde lecionei no Grupo Eduardo Velho Filho. Eu me aposentei por ter acumulado duas carreiras muito pesadas, a Apae e a escola. Eu achei por bem me dedicar apenas a Apae e pedir a minha aposentadoria como professora da rede pública”, afirma.

Como a aposentadoria não integral, Olga veio a passar uma situação financeira difícil, motivo pelo qual começou a ministrar aulas particulares. Com tantas atividades em sua vida e como a Apae não disponibilizava de muitos veículos, Olga passou a utilizar muito o seu Fusca. O primeiro Fusca, modelo de 1972, foi trocado por outro Fusca, um pouco mais novo, modelo de 1978. “A família começou a interferir pedindo que eu atualizasse mais o carro e eu cheguei no 78”, comenta.

Carro bem conservado

O Fusca 78 de Olga era invejado por todos os amigos que vinham visitá-la, em função de ser muito bem conservado e apresentar somente peças originais. “Se eu mandasse lavar o Fusca, por exemplo, dias depois ligavam para mim perguntando se eu não queria vender o carro”, conta.

Hoje, Olga lamenta, com muita dor, o que aconteceu ao seu Fusca. Em outubro do ano passado, ela estacionou o carro próximo à Associação Luso Brasileira (Luso), onde estava ocorrendo um evento da Apae. “Eu deixei o meu Fusca para um menino olhar. Quando eu voltei, eu não encontrei o menino, muito menos o meu Fusca”, lamenta. O carro, que era o xodó de Olga, fora furtado.

No momento em que se deparou com a ausência do veículo, Olga não se deu conta. “Parecia que não tinha acontecido nada. Só mais tarde que eu comecei a sentir a falta e perceber a importância do carro na minha vida”, comenta.

Hoje, Olga está encontrando muita dificuldade, pois quando precisa ir à farmácia, ao médico ou ao supermercado, depende de amigos que estejam dispostos a levá-la. “Não ter como me transportar está sendo muito difícil para mim. Até para um cerimônia da Apae eu dependo de amigos. A minha liberdade acabou”, lamenta.

Solução amiga

Olga tem muitos amigos e conhecidos em Bauru. Perdeneirense de origem, ela afirma que a sua família são os amigos bauruenses. E foi um desses amigos, que sabendo do fatídico furto do Fusca, ofereceu, como empréstimo, um Gurgel para aliviar a perda da amiga.

Olga, pela necessidade, aceitou, mas não consegue se acostumar com o veículo. “Ele é muito duro. Os pedais são estranhos. Eu não consigo me acostumar e tenho receio de dirigi-lo. Eu só uso, mesmo, em situações de extrema necessidade”, comenta.






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