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Imediatismo de campanhas é criticado

Imediatismo de campanhas é criticado

André Tomazela
O fato do governo veicular campanhas sazonais, somente na ocorrência de grandes eventos, é considerado inadequado

A questão da prevenção da aids, atualmente, é tratada de modo muito imediatista. Prova disso, são as campanhas de televisão que são veiculadas somente na ocorrência de grandes eventos, onde as pessoas estão aglomeradas. São, portanto, campanhas sazonais, afirma a professora do curso de Relações Públicas da Universidade do Sagrado Coração de Jesus (USC), Sonia Aparecida Cabestré.

O Ministério da Saúde, atualmente, está veiculando uma campanha que tenta fugir do padrão da sazonalidade. Com o slogan “a Ciência já fez a sua parte, faça agora a sua”, a campanha peca por passar a idéia de que a aids é um problema individual das pessoas, quando, na verdade, é um problema da sociedade. “Não é um problema da ciência, do educador, da área médica. É um problema da sociedade. E eu só acredito que as pessoas vão discutir o problema de frente quando, a partir das instituições escolares, independente do nível que for, grupos estiverem comprometidos com as questões da aids. Esse comprometimento irá gerar a reflexão para que se mude o comportamento”, comenta Sonia.

Eficácia das campanhas

De acordo com Sonia, não há importância na avaliação da agressividade ou não das campanhas de prevenção à aids. A questão principal é a eficácia.

Como que as campanhas poderiam buscar a eficácia? Desde que sejam planejadas enquanto um processo. Como isso poderia ser realizado?

Quando uma campanha for veiculada pela TV, ao mesmo tempo, nos diferentes setores da sociedade (universidades, ensino fundamental e médio, nas empresas, nos diferentes grupos sociais, nas diferentes entidades), grupos de pessoas deverão estar discutindo aquilo que está sendo veiculado. A campanha tem que ser clara e objetiva e mostrar um norteador. Necessita, ainda, deixar de ser sazonal.

“Para ser efetiva e eficaz, uma campanha tem que acenar com a noção de que a aids não é mais uma questão do outro. Não é uma questão do vizinho, de outra família. É uma questão da sociedade. A medicina, os comunicadores, os sociólogos e a sociedade de um modo geral, todos precisam discutir a questão da eficácia na prevenção à aids”, afirma Sonia.

De acordo com a professora, as campanhas não têm que ser amenas ou agressivas e sim estar buscando a eficácia.

Contribuição social

Resgatando a trajetória da doença, buscando as interfaces “informação, saúde, comunicação, educação e marketing social” para mostrar de que maneira uma área pode estar sendo apoiada por outra na difusão de informação sobre prevenção à aids, evidenciando como os jovens de níveis socioeconômicos diferentes estão recebendo as informações sobre a aids e oferecendo um novo modelo de estratégia de prevenção à síndrome baseado nos princípios da Gestão da Qualidade, que dão ênfase fundamental à interatividade e buscam a eficácia, a tese de doutorado da professora e doutora Sonia Cabestré contribui para a discussão da questão dos nossos dias: a aids precisa começar a ser vista e tratada com um problema da sociedade, nem seu, nem meu, nem do vizinho. Nosso.

Acesso à informação

A grande massa populacional não tem acesso à informação através da leitura de jornais e revistas, por exemplo. A pesquisa com os jovens nas escolas pública e privada, realizada por Sônia Cabestre pôde explicitar bem as diferenças sociais existentes na sociedade.

A pesquisa revelou que, apesar de serem da mesma faixa etária, os jovens da escola pública assumem mais que possuem deficiência de informação e dão uma importância muito grande ao relacionamento interpessoal. Já o jovem que estuda na escola privada não assume, e deixa sem responder, quando é perguntado sobre a questão da aids. Ao mesmo tempo, não evidencia a importância do relacionamento interpessoal, porque tem outro tipo de vida, um outro tipo de convivência.

O jovem da escola pública socializa-se muito mais porque 95% deles vão para escola a pé, por exemplo, enquanto que o da escola privada é transportado através de veículos da família ou de amigos, sendo assim a socialização mais reduzida.

A pesquisa conclui, através do levantamento de dados referentes a conferência dos questionários respondidos, que os jovens na faixa etária, de 14 a 17 anos da escola pública, estão mais abertos à socialização.

No que concerne à aids, os jovens tanto da escola pública como da privada, quando possuem um relacionamento, afirmam que se preocupam, que usam o preservativo e sabem como se contrai o vírus HIV. No entanto, a pesquisa mostra, também, que, se o relacionamento passar a ser duradouro, na qual estejam envolvidas as questões da paixão e do amor, eles deixam de tomar os cuidados. Esse tipo de comportamento seria o responsável pelo alto índice de adolescentes grávidas, na faixa dos 12 a 13 anos e pelo aumento no índice de contaminação pelo HIV nessa faixa etária.

“A partir do momento em que os jovens acreditam que há amor, deixam de se preocupar com os cuidados de prevenção às doenças sexualmente transmissíveis e se entregam ao suposto amor”, comenta a professora Sonia Aparecida Cabestré.

Independente do nível de informação e da classe social, o jovem é carente de diálogo. Tanto os jovens da escola pública como os da escola privada, têm as suas famílias, qualquer que seja o nível de profissionalização, trabalhando. Esse jovem, dentro de casa, tem o mínimo de diálogo, que não é suprido nem pelo acesso às modernas tecnologias, que apenas ocupam o tempo dos jovens quantitativamente.

A carência do diálogo, de acordo com Sonia, seria um dos fatores, que estaria causando altos índices de depressão entre os jovens, independente do nível social. A diferença entre os jovens que estudam em escola pública, é que estes assumem mais a carência enquanto que os do setor privado, são mais introspectivos.




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