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14/01/01 00:00 -

Malha e bocha: em busca da juventude

Malha e bocha: em busca da juventude

David Cintra
Modalidades antiquíssimas ganham, equivocadamente, em Bauru, estigma de esporte de aposentados e têm futuro incerto na cidade

A malha e a bocha são dois esportes diferentes, porém, com muita em coisa em comum. A começar pelas remotas origens, antes do nascimento de Jesus Cristo, no Sul da Europa.

A bocha surgiu na Grécia Antiga e foi “importada” pelos romanos, na época da expansão do Império. O jogo se popularizou e tornou-se um costume por toda a Itália. Séculos depois chegou à América pelas mãos dos imigrantes, principalmente nas ondas migratórias das duas grandes guerras. No século XX, o praticante mais ilustre deste esporte, certamente, foi o Papa João Paulo II.

A malha, por sua vez, foi criada pelos próprios romanos. Os soldados do Exército Romano, quando começaram a ferrar cavalos, tiveram a idéia de jogar velhas ferraduras contra estacas. A brincadeira revelou-se um ótimo exercício e logo era praticada por toda a Europa. A Amércia conheceu a malha através dos ingleses, que a levaram para os Estados Unidos, onde existem outras versões do jogo. Hoje, a malha é praticada em quase todos os países americanos, com nomes diferentes, como na Colômbia onde é chamada de Tejo. As ferraduras ainda são usadas em muitos lugares, porém, o mais comum são discos de metal, chamados malha. No Brasil usa-se discos de aço temperado, que pesam entre 500 e 700g.

Além de algumas coincidências históricas, tanto a malha como a bocha sofreram muitas modificações. A bocha original era jogada com bolas de madeira, que até há bem pouco tempo ainda eram utilizadas, porém, hoje as bolas, ou bochas, são feitas de material sintético e ficaram mais pesadas (oficialmente de 1,7 a 2 kg). A malha, que sempre fora praticada em campos de terra ou areia, agora é jogada em pista de concreto revestida com afalto frio. Isto sem considerar as mudanças nas regras do jogo, que em ambos os casos ainda variam conforme a localidade onde é praticado.

Outro ponto em comum entre as duas práticas esportivas é que são consideradas “jogo de aposentados”, em Bauru principalmente. Felizmente isto não se repete em outras localidades, pois as equipes campeãs são formadas por jovens e adultos ainda longe de atingirem a melhor idade. No entanto, em Bauru, o estigma de jogo de idosos parece ser uma realidade ao analisar-se o universo dos praticantes destes esportes. A grande maioria já passou da casa dos cinquenta anos e quase todos os jogadores reclamam de uma falta de renovação nas equipes e nos clubes, bem como de que os poucos jovens que se iniciam nestas práticas esportivas acabam não levando a sério e abandonam rapidamente os campos.

“Eu arrisco a dizer que a bocha está em extinção em Bauru, porque não está formando novos jogadores, não há renovação. Não digo que em dois ou três anos irá acabar, mas se nada for feito, futuramente não vai existir mais bocha por aqui. Em Bauru não se dá incentivo a este esporte”, reclama Ubelino M. Facin, o Belini, presidente do Arapongas, o mais tradicional clube de bocha e malha de Bauru. Opinião compartilhada por Antenor Custódio Alves, presidente do Clube Independente Princesa Izabel, em relação à malha. “Tem que haver uma renovação. Todos os clubes deveriam ter um departamento de malha, porque campo a maioria deles tem, mas deixam um pouco de lado. O Noroeste mesmo tem duas pistas muito boas, mas não tem equipe”, afirma Custódio.

O fato de terem sobrevivido por tantos séculos e serem praticados pelas mais diferentes culturas em todo o globo, são provas de que malha e bocha são modalidades que cativam seus praticantes. Um dos motivos que pode estar colaborando para afastar os jovens dos campos de malha e bocha é o enganoso conceito atual de que a prática esportiva tem que liberar adrenalina, já que ambos são esportes que exigem mais concentração e habilidade do que ação e força. A falta de divulgação na mídia é outro fator, bem como o descaso dos clubes e órgãos públicos da área de esportes. Em Bauru existem poucos campos e todos pertencentes a algum clube, assim, dificilmente o jovem tem contato com estes esportes, que como todos os outros são extremamente saudáveis.

Por terem estes e outros pontos em comum, algumas pessoas chegam mesmo a confundir as duas modalidades. No entanto, as semelhanças deixam de existir quando se trata do modo de jogar. Um não em nada a ver com o outro. Desde os equipamentos e regras até os fundamentos é tudo muito diferente.




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