Cada vez mais, os pais descasados estão assumindo a responsabilidade de cuidar dos filhos, dando folga às mães
A casa está em silêncio. Todas as coisas nos seus devidos lugares. A empregada sai de férias. As despesas diárias diminuem e a dona da casa pode se cuidar. Esses são alguns sinais de que “as crianças” foram para a casa do pai ou dos avós paternos passar as férias, situação muito comum nesta época do ano.
A rotina diária dos pais sofre alterações. Os papéis se invertem. A mãe curte as “férias” cuidando de si. Descansa, aproveita o tempo para ler aquele livro que durante todo o ano ficou na cabeceira da cama. Liga para as amigas e se dá ao luxo de tomar um café em plena tarde. Pode tomar um sol ou simplesmente ver um filme.
O pai, que durante todo o ano não teve as mesmas preocupações que a mãe, passa a exercer os dois papéis, o de pai e mãe com a vantagem de poder contar com o apoio de seus pais, irmãos e até da nova mulher.
A casa do pai também passa por modificações com a chegada do filho (os). A sala fica cheia de brinquedos a cozinha passa a ser arrumada e o almoço tem que estar no horário para não alterar a rotina da criança. Até na locadora de vídeo, o pai age de maneira diferente quando as crianças estão com ele: abandona a prateleira dos adultos e passa a escolher os títulos infantis, procurando sempre aquele que possa trazer um ensinamento útil para a criança.
Os shoppings, parques de diversões e circos passam a ser freqüentados por esses homens que uma vez por ano, ou mais, se dispõem a passar as férias com as crianças. O importante é fazer com que o filho desfrute de sua companhia garantindo as próximas férias juntos.
O fator temporário dá ao homem uma certa segurança. Ele sabe que não é para sempre que terá que fazer todas as tarefas diárias e curte muito a companhia dos filhos, apesar de ter que se desdobrar para exercer bem os dois papéis.
A contato comercial, Leda Silva (nome fictício) está aproveitando as férias de “mãe” para perder uns quilinhos num spa. Sua filha única foi para a casa dos avós, fora de Bauru. “Ela gosta de ficar na casa da avó paterna. Todos os anos, nesta época, ela vai para lá e curte a convivência com os parentes do pai.”
Desde que começou a andar, a menina passa as férias com o pai. A mãe sente saudade, mas tem a garantia de que a filha de 9 anos está bem. “Desde que ela começou a andar, passa as férias com a família do pai. Eles têm muito amor e carinho por ela. Eu fico tranqüila porque ela é independente.”
As férias com o pai, segundo a contato comercial, é algo novo que atrai a atenção da filha. “Ela curte tanto que esquece até de me ligar. Eu é que ligo para ela. Tenho que ligar várias vezes para encontrá-la, porque ela sai com as tias, primas e com o pai. Fica com a agenda lotada de compromissos.”
Remédio na hora certa
O empresário da noite Isaac Ferraz de Camargo Filho está curtindo os prazeres de dona de casa e mãe. Lava louça,faz lanchinho da tarde e dá remédio na hora certa para a filha Bruna, de 8 anos, que está passando as férias com ele. Entusiasmado com o acúmulo de “funções”, ele planeja ir para a praia com a filha. “Para mim é superimportante esse contato com minha filha.”
Ele disse que, desde a separação, há dois anos, se sente só. “É gratificante fazer as coisas para a Bruna, ela preenche um vazio na minha vida. Se eu pudesse, passaria mais tempo com ela. Estou planejando viajar para a praia e levá-la.”
Empresário da noite, Isaac revelou que nas dificuldades recorre à irmã. “Trabalho à noite e, às vezes, tenho que deixá-la na casa de minha irmã. Ela gosta porque tem as minhas sobrinhas que fazem companhia a ela.”
A mudança da rotina do pai/mãe foi inevitável, admite o empresário. “Quando estou sozinho no apartamento deixo a cozinha bagunçada. Com ela aqui, lavo louça e faço coisas fora da minha rotina.”
Dentre as coisas diferentes que faz nas férias na companhia da filha, Isaac enumera: assisto filmes infantis, conto histórias, faço lanchinhos e sucos que ela já está acostumada e passeio por locais que sozinho não vou.
Para Bruna, a casa do pai é um lugar muito bom de se viver. “Eu gosto muito da casa de meu pai. Ele deixa eu alugar bastante filmes e tomar muitos sorvetes.” As férias, segundo ela, altera também a sua rotina. “Eu estou acostumada a dormir com a minha mãe, na casa dela, na cama dela. Aqui no apartamento de meu pai, ele dorme no tapetão da sala. Eu durmo com ele. Quando ele percebe que dormi, me coloca na cama.”
A menina admite que sente falta da mãe, mas que é bom conviver mais com o pai. “Eu sinto saudade e falta dela, por isso ligo todos os dias.”
Curtindo as férias
As meninas fizeram as malas e foram para a praia com o pai. A mãe e o marido repetiram o “ritual” das malas e partiram para outro lado, Poços de Caldas, a fim de descansar. “Adoro minhas filhas, mas as férias são superimportantes para mim. É o período que eu tenho, durante todo o ano, para cuidar de mim e do meu atual casamento”, conta Jurema Melo de Siqueira.
Um vazio misturado a alívio toma conta da mãe que enfrenta uma rotina diária estressante. “Dirijo o ano todo para as três. Levo uma e busco a outra, o dia todo. Neste período do ano, eu deixo de ser ‘motorista’”.
O tempo livre faz bem para a mãe. “Se eu pudesse ter férias duas vezes por ano, seria o ideal. Tenho uma rotina estressante. São três adolescentes que dependem 100% de mim. Quando elas saem, a empregada faz faxina e fica de folga.”
Nas férias de “mãe”, Jurema aproveita o tempo para colocar a sua vida em ordem. “Posso cuidar um pouco de mim e do meu marido. Posso viajar. Não tenho horários para cumprir. Acordo a hora que eu quiser.” Sem as meninas em casa, as despesas com energia elétrica, telefone, combustível, e alimentação é menor.
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