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Profissionais do futuro

Profissionais do futuro

Magno Aguiar Maranhão
Faça o que achar melhor, mas faça o melhor que puder. Esta é a melhor orientação que nossas escolas podem dar aos jovens. Bombardeados a todo momento com expressões como “globalização”, “fim da era do emprego” e “economia do conhecimento”, são aconselhados a inventar seu próprio trabalho e investir no seu perfil profissional, pois ele valerá mais que o nome da profissão escolhida. Mas não sabem o que isso significa, pois convivem com um modelo de educação tradicional. Apesar de desejarem se preparar para a sociedade do futuro, cada vez mais presente, a maioria, pelo sim, pelo não, opta pelo conhecido e briga por profissões e empregos convencionais. A escola não lhes ensinou arriscar.

Atualmente, as instituições brasileiras de ensino superior preparam para 48 profissões, mas 60 por cento de mais de 2,8 milhões de inscrições nos vestibulares são para apenas dez, especialmente velhas conhecidas, como engenharia, direito e medicina. Mesmo com o Conselho Nacional de Medicina proibindo a abertura de novas escolas de graduação, tal a saturação do mercado, há 29 candidatos por vaga para esse que é o curso mais concorrido do país. Não é uma explosão vocacional. Esse quadro revela que os jovens não têm estímulo para novos rumos. Mas correm o risco de serem empurrados para eles sem preparo nenhum.

A necessária mudança de comportamento dos futuros profissionais precisa passar pela escola, embora ela não tenha se adequado para esse fim. Mas é ali que eles aprenderão a lidar com as profundas transformações das relações sociais e de trabalho. Suas famílias dificilmente têm como lhes explicar esse processo, estando elas próprias perdidas dentro dele, quem sabe enfrentando o drama do desemprego, cada vez mais comum no mundo inteiro. Cabe ao sistema educacional ajudar quase 50 milhões de estudantes brasileiros a se adaptarem às novas expectativas da sociedade.

Como? Em primeiro lugar, evitando o alarmismo. A oferta de empregos, como estamos habituados, não terminou, mas diminuirá graças à evolução tecnológica, pois já não se requer grande número de pessoas na produção. O que é ótimo. A menos que se descubra algo bom na prática de as empresas contratarem milhares de indivíduos (e não nos referimos a operários, mas funcionários de todos os níveis), que decoraram os mesmos conhecimentos, para funções exatamente iguais. A chance de ser criativo é tão rara que, há décadas, o trabalhador tem, no fim do expediente, o momento mais feliz do dia. Aos poucos, ele se torna alguém que pode e deve criar e inovar. Seu conhecimento é capital no qual a empresa investe.

Essas mudanças estão levando a geração atual de trabalhadores, educada num modelo ultrapassado, a se desesperar na busca por trabalho. Daí termos que repensar a formação da nova geração, senão, ao invés de aproveitar o lado bom das mudanças, ela se verá perdida entre o que lhe ensinaram e o que deveria ter aprendido. Ela deve saber, por exemplo, que, se antes nos diziam que escolher uma carreira que “rendesse” era mais importante que aquela de que gostássemos, quem agora seguir essa máxima se arrisca a ficar na rua com o diploma na mão. As empresas estão procurando excelência, só é possível se se respeita a vocação. São muitos os profissionais cuja atuação era mediana no cargo conquistado com o diploma, e que só se destacaram ao terem oportunidade de colaborar em outros setores.

É o que vem ocorrendo em empresas. Mas, mesmo jovens qualificados e seguros da sua vocação não encontrarão portas abertas. Não há lugar para todos. Por isso, prepará-los para o trabalho inclui trabalho por conta própria. À capacidade de garantir o próprio espaço chama-se “espírito empreendedor”, e ele pode ser desenvolvido na escola. Atualmente, a Confederação Nacional da Indústria tem insistido no “empreendedorismo”, focando, inicialmente, o ensino superior e o treinamento de docentes que criam empresas juniores com os alunos, sem fins lucrativos. Porém, fixar-se na universidade é tratar superficialmente o tema.

Ser um bom empreendedor exige saber se relacionar, conquistar colaboradores, ser ético e estar antenado para o que a sociedade quer. Isso as crianças podem praticar já no ensino fundamental, nos trabalhos em grupo. Na busca pelo resultado conjunto, cada uma deve cumprir com excelência seu papel, descobrindo seus próprios talentos. Ao mesmo tempo, ajudará os colegas, sem desmerecer suas tarefas, compreendendo que todos são necessários para que o grupo seja um sucesso. Nessa experiência, ela aprende os princípios de solidariedade e cidadania defendidos pela LDB.

(O autor, Magno de Aguiar Maranhão, é conselheiro do Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro e presidente da Associação Nacional dos Centros Universitários - Anaceu)




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