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22/02/19 07:00 - Opini�o

Eu n�o quero ser...

Roberto Magalh�es

"Quem briga por tudo e quer medir poder com todo mundo, na verdade está tentando dizer que não é um bosta", isso eu li na boca suja e genial da Tati Bernardi. Estivesse em paz, resolvido consigo mesmo, o coitado não ficaria tão desesperado em provar que ele não é aquilo que teme ser. Tem muita gente se cagando de medo de ser um merda, outros já se conformaram em sê-lo.

Melhor assim, questão resolvida, não cagam mais. Credo! Texto sujo. Esse "ser ou não ser" ("that is this question") já incomodou até Shakespeare. Se pegou até o Cara, então ninguém escapa mais, é pedra no sapato de qualquer um.

Reli o parágrafo anterior e o achei deselegante e, sobretudo, malcheiroso. Acostumado à higiênica imagem com que sempre tento me traduzir aos olhos alheios, gostaria de não tê-lo escrito. Enfezado (chiii, tem fezes nessa palavra!), tive vontade de deletá-lo, mais ainda porque sei que o texto ficou um "excremento", digamos assim.

Peço perdão pelo excesso de "titica" e prometo me policiar a cada frase e linha. Mas é preciso que me deem o desconto e a compreensão de que certas coisas não aceitam eufêmica tradução, sob pena de virarem um "estrume" (haja sinônimo).

O medo é nosso, mas é outro que paga a conta. Para assegurar que não somos esse "dejeto", discutimos, divergimos, enfim, com ele medimos forças. Conheço uma moça (um moço também) que, ao ser apresentada a outra pessoa, entra em pânico (principalmente se for mulher). Fica pra morrer com a intrusa no pedaço. A vistoria é geral e impiedosa: cabelos, vestido, sapatos, bijus e, principalmente, o jeito de falar. Se a coitada da vistoriada soltar um "menas" ou um "pra mim fazer" é a glória. Ufa! uma a menos pra competir.

Eu sei que todo mundo se compara a todo mundo, aliás o mundo é assim. Sem olhar o tamanho do nariz alheio, jamais saberei o tamanho do meu. Normal. Mais do que normal, natural. O problema é errar a dose. Não dá pra acordar e dormir com a fita métrica na mão, medindo a inteligência, a beleza, a elegância, a riqueza, a simpatia da cara alheia. É angustiante.

As pessoas precisam ir ao banheiro, não precisam? Precisam comer, ler, estudar, trabalhar, comprar, viajar, precisam cuidar da própria vida. A gente sabe que quem vive assim se confrontando jamais terá sossego, amanhã terá que medir força novamente, matar um leão por dia, coisa sem fim.

Mania idiota de ser o mais inteligente, o mais bonito, o sabe tudo, mania desesperada do "pelo amor de Deus, me vejam, me aplaudam, me reconheçam, tenham piedade de mim! Eu não sou! Eu não quero ser um bosta!"

Pronto, emporcalhou tudo outra vez.

Saco!

O autor é professor de redação e autor de obras didáticas e ficcionais. [email protected]





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