Como vice-reitor presidi o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE) durante os quatro anos de minha gestão na Unesp. Numa dessas reuniões, no intervalo de extensa e cansativa pauta, um dos professores presentes me contou que um vice-reitor estava presidindo o Conselho quando um gênio apareceu. Esse gênio lhe ofereceu um dos três desejos: dinheiro, fama ou sabedoria. O vice-reitor respondeu: "Essa é fácil, sou um estudioso. Dediquei minha vida aos estudos. Obviamente, escolho a sabedoria". O gênio fez um gesto com a mão e desapareceu entre nuvens de fumaça. A fumaça se dissipa e deixa à mostra o vice-reitor com a cabeça entre as mãos, perdido em pensamentos. Vários minutos se passam em total silêncio. Por fim, um conselheiro indaga: "E aí?". O vice-reitor, agora muito mais sábio, responde: "Eu deveria ter escolhido o dinheiro".
De fato, administrar academicamente uma universidade, com tantos cursos diferentes e tantas necessidades, onde os custos só aumentam e a receita oscila ao sabor dos ventos e intempéries da economia, não é tarefa fácil. De um lado a justa pressão da sociedade, reforçada pelo Estado, por mais vagas e cursos, por outro, a contrapressão vinda do próprio Estado, ao tornar os recursos incompatíveis com a obrigação da escola de produzir um ensino de qualidade.
O ensino precisa estar sempre acompanhado da qualidade para gerar tecnologia e desenvolvimento e isso implica em valorizar a educação em todos os níveis. O ensino de qualidade é importante porque o poder benéfico do conhecimento está reescrevendo a história de forma cada vez mais acelerada. Isso é tão óbvio que nem é preciso demonstrar por números, isso pode ser visto do alto. Uma fotografia por satélite da Coréia, mostra o Sul, educado e capitalista, cintilando de luzes e o Norte, armamentista e comunista, na escuridão. Um vívido contraste na capacidade de gerar riqueza entre dois extremos econômicos, mantendo constantes a geografia e a cultura.
O país educado prospera porque pode produzir e vender bens e serviços com mais eficiência. O Brasil tem vocação agrícola e condições de alimentar o mundo. Se, aliada a essa vocação, enfatizar o ensino (superior ou profissionalizante) nesta área dará um passo importante na redução da pobreza, capaz, portanto, de tornar o País mais iluminado e visível.
Ao agregar tecnologia aos produtos agrícolas, preservar a natureza produzindo com mais eficiência, o Brasil tem condições de oferecer mercadorias a bilhões de pessoas em vez de a milhares.
No entanto, o bem-estar e mesmo a sobrevivência da humanidade, dependerá fundamentalmente do entendimento de que nenhum dos nossos principais problemas pode ser resolvido isoladamente. Todos eles são problemas sistêmicos - interconectados e interdependentes - portanto, sua solução exige uma abordagem interdisciplinar do conhecimento.
Hoje, infelizmente, nossos alunos universitários - que serão os gestores do país amanhã - são privados da estimulante experiência dos diálogos interdisciplinares e impedidos de examinar os valores da ética, da arte, da música, da poesia e da introspecção pessoal. Estamos formando líderes em vários campos que não conhecem uns aos outros e que não são sensíveis aos valores do espírito humano.
A pessoa que usufruiu de uma educação de qualidade e espiritualizada tem melhores condições de vencer as agruras da entropia, é capaz de ser feliz e tornar o mundo um lugar melhor para se viver.
O autor é professor titular aposentado do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Unesp-Bauru.