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20/03/18 07:00 - Opini�o

O que ser� de n�s sem a espiritualidade?

Paulo Cesar Razuk

Por estarmos tão imersos em nossas vidas cotidianas, achamos difícil nos distanciarmos um pouco e olharmos de forma lúcida nosso ambiente caótico. Embora o mundo esteja cada vez mais unido, no plano pessoal existe uma desunião inédita. Nossos sistemas de valores se encontram despedaçados; estamos em meio a uma crise, numa busca desesperada de felicidade e realização. É um triste paradoxo: quanto mais acumulamos maestria tecnológica e conforto material, mais rapidamente nossos valores parecem entrar em declínio. O colapso da estrutura familiar saudável não é um problema novo e agora sentimos toda sua brutal força.

Fomos preparados para o sucesso material - por nossos pais, nossas escolas, pela televisão - é natural, portanto, que o materialismo tenha se tornado o norte magnético de nossa bússola moral. Mas isso não é fruto de alguma força maligna, é, simplesmente, um estado de deficiência que criou um abismo entre o materialismo e a espiritualidade, um abismo onde ninguém quer se aventurar. Esse abismo é o resultado da falha filosófica que existe nos dois mundos: a crença de que Deus e o Universo não podem coexistir.

Na verdade, a sociedade moderna, construída sobre o constante consumo, instituições econômicas insustentáveis e violência, não pode ser considerada civilizada. O verdadeiro objetivo da civilização é manter um equilíbrio entre o progresso material e a integridade espiritual. Uma civilização essencialmente materialista, sem um fundamento espiritual, não é uma civilização.

Como podemos nos considerar civilizados se não sabemos viver uns com os outros em harmonia? Desenvolvemos tecnologias para alcançar a Lua, mas não a sabedoria para conviver com nossos vizinhos. Em um mundo onde o espírito é afastado, onde o comércio acontece sem compaixão, a indústria sem ecologia, as finanças sem justiça e a economia sem igualdade, só podem levar a sociedade ao colapso. O que podemos esperar de pessoas que veem o mundo como um campo de batalha, que competem entre si por poder, influência e controle? O que podemos esperar de um mundo onde a política é polarizada e que usa a frase "se não está conosco, está contra nós", como forma dominante de pensar? O que podemos esperar de políticos que falam de democracia e liberdade, mas buscam alcançar hegemonia e ver seus próprios interesses atendidos?

Não se pode ter democracia e liberdade sem que haja compaixão, reverência, respeito à população, à diversidade, à diferença e ao pluralismo. A compaixão, a reverência e o respeito são qualidades espirituais, porém, hoje as pessoas consideram esses valores como sendo vagos, estranhos, utópicos, idealistas, irreais e irracionais.

O significado da raiz da palavra espírito é associado à respiração, ao ar, por isso a espiritualidade transcende as crenças e as religiões. A palavra religião é derivada da raiz latina religio, que significa unir-se de acordo com certas crenças. Na religião um grupo de pessoas se reúne e partilha um sistema de crenças. Há muitas religiões, filosofias e tradições boas. Devemos aceitar todas elas e também, o fato de que tradições religiosas distintas suprem necessidades de pessoas diferentes, em épocas, lugares e contextos diversos. A rivalidade entre as religiões acabaria se elas percebessem que as crenças religiosas são como rios que fluem para o mesmo grande oceano da espiritualidade. O respeito pela diversidade de crenças e um imperativo espiritual.

Matéria e espírito são dois lados da mesma moeda. O que medimos é a matéria; o que sentimos é o espírito. Ela representa a quantidade; ele a qualidade. O espírito se manifesta através da matéria; a matéria ganha vida através do espírito. O espírito confere sentido à matéria; a matéria dá forma ao espírito. Sem espírito a matéria carece de vida.

O que será de nós sem a espiritualidade?

O autor é professor titular aposentado do Depto. de En genharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Unesp.





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