Bauru e grande região - Quinta-feira, 18 de abril de 2024
máx. 31° / min. 12°
22/10/17 07:00 - Opini�o

O tabu da maldade infantil

Zarcillo Barbosa

A escola que afirma não ter bullying, ou não sabe o que é ou está negando a existência para passar a ideia de ser um "refúgio de anjos". A situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, entre alunos, sempre existiu e existem relatos desde o século 18. Bully é uma palavra inglesa que significa valentão, brigão. Hoje é uma das formas de violência que mais cresce no mundo. Expandiu-se sob a influência dos meios eletrônicos e as reportagens na televisão. Apelidos pejorativos e brincadeiras ofensivas foram tomando proporções maiores. Por vezes trágicas. O garoto de 14 anos que matou dois colegas em Goiânia, na sexta-feira, disse ter se inspirado nos tiros em Columbine, de 1999, e no caso da escola do Relengo, no Rio, onde 11 crianças morreram e o assassino cometeu suicídio.

Os especialistas dizem que um dos obstáculos para o tratamento de crianças com sinais de transtorno de conduta é o próprio tabu da maldade infantil. A família burguesa fechou-se em si mesma, dentro de casa. O lar virou um santuário - "asilo inviolável" - e, a criança, o centro dos cuidados e atenção. Se a criança é o eixo do sentimento moderno da família ela não pode ser má. Fazer as vontades da criança não significa ficar atento a possíveis desvios de comportamento. Uma criança que nasce psicopata não tem culpa de nada. Aliás, nem pediu para vir ao mundo. Se ela, sem mesmo atingir a maioridade, tornar-se uma pessoa insensível, manipuladora, ou pior, uma assassina, podemos dizer que a culpa é dos pais? Alguns respondem que "sim". Defendem que eles foram negligentes o suficiente durante toda a infância do filho ao não interpretar comportamento e ações. Em Goiânia, o jovem assassino se utilizou da pistola .40 da mãe, policial militar como a mãe. O autor dos disparos pode ter sido estimulado pela família com aulas de tiro ao alvo, ou de como matar "vagabundos". Em 2013, em São Paulo, Marcelo Pesseghini, de 13 anos, matou os pais policiais, mais a avó e a tia, antes de se suicidar. Não é fácil a sociedade aceitar a maldade infantil, mas ela existe... Um psiquiatra conta o caso de uma menina de 13 anos que pegou o seu gatinho de estimação e jogou-o do segundo andar da sua casa. Ela simplesmente sentiu prazer em ver o animal caindo no concreto. Crueldade com animais, segundo o terapeuta, é um mau sinal. Isso é mais característico em crianças insensíveis. Falta de "empatia". Aquela característica da pessoa que não se importa com os sentimentos dos outros e não apresenta sofrimento psíquico pelo que faz. Podem até matar sem culpa.

No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê medidas socioeducativas para os menores de 18 anos que cometem crimes, mesmo os mais cruéis: de seis meses a três anos de internação em instituição especializada. Nos Estados Unidos, um garoto de 14 anos foi executado legalmente em 1944, pela morte de duas meninas de 8 e 11 anos, que tiveram múltiplas fraturas no crânio e no corpo. Desde então, a pena de morte para menores não tem sido aplicada, mas as condenações continuam a existir, com a transformação em prisão, "como se adultos fossem".

Em Liverpool, em 1993, a mãe deixou o filho de três anos na porta de um açougue no shopping. Em menos de um minuto a criança sumiu. Foi encontrada dois dias depois à beira da ferrovia, com sinais de torturas e espancamentos. Examinando o vídeo das câmeras de vigilância do shopping, a surpresa foi a descoberta de dois garotos, de 10 anos, como autores do sequestro seguido de morte. Permaneceram 11 anos presos, até serem dados como aptos ao convívio social pelos psiquiatras e psicólogos. Ganharam novas identidades e endereços, mantidos em sigilo, para não serem reconhecidos como os autores do bárbaro crime, de repercussão mundial. Na Inglaterra, as penalidades foram exacerbadas contra menores autores de crimes cruéis, depois do Caso Mary Bell, nos anos 1980. Três crianças do bairro foram encontradas mortas, com intervalos de semanas. Haviam sido estranguladas e uma delas teve o abdômen perfurado. Mary Bell, de 11 anos, confessou os assassinatos. Ela ia ao enterro das suas vítimas só para vê-las no caixão. Foi solta depois de 11 anos de internação em instituição psiquiátrica e teve uma filha. Trocou de identidade.

É importante não rotular crianças psicopatas. Os psicólogos querem deixar claro que a raiva pelos outros é diferente de um comportamento explosivo isolado. Mas, se os comportamentos errantes persistirem, é importante procurar ajuda de profissionais.





publicidade
As Mais Compartilhadas no Face
(SF) © Copyright 2024 Jornal da Cidade - Todos os direitos reservados - Atendimento (14) 3104-3104 - Bauru/SP