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24/09/17 07:00 - Opini�o

Sobre panos, fones e grana

Jo�o Pedro Feza

Tem um vídeo circulando por aí de um jovem desafiado a fazer ligação de telefone de discar, mas não tem ideia do que é isso. Na hora de girar com o dedo, aperta. Fica perdido. Muito se fala em viver em outro mundo, mas nós já estivemos nele: um planeta chamado anos 80. Ou anos 70. Quase tudo era diferente.

Eu sempre achei que alguma emissora deveria fazer um reality com a turma descolada de hoje confinada numa típica casa daquela época. E as provas seriam, por exemplo, trocar fita da máquina de escrever. Já pensou a tragédia? Ou substituir agulha do aparelho 3 em 1. Ou, ainda, dar um jeito na TV preto e branco que só tem som porque a imagem vive fantasmagoricamente sumindo. Não que eu, aos 46, tenha maestria nessas resoluções, mas seria divertido espiar a geração iPhone tendo que se virar em contexto tão inóspito e hostil.

Ou, ainda, fazer o Fusca pegar com um arame. Que tal? Você assistiria ao esse reality, Kiko? E você, Caram? Sidney? Edson?... Mas há pontes entre os tempos. Sexta-feira, na saída da escola da Laísla, na hora do almoço, uns meninos à espera de seus pais oitentistas jogavam baralho na calçada. Truco. Um jogo incrível: parece coisa de gente louca com seus rompantes gritados, mas é sofisticado e rico em possibilidades. O truco resiste ao iPad.

E mesmo algumas músicas daquele tempo parecem até mais atuais hoje. Acordei ontem com uma delas na cabeça: "Por Debaixo dos Panos" (1982) naquela voz inconfundível de contratenor de Ney Matogrosso. Essa canção é do casal paraibano Antonio Barros e Céu, também autores de "Homem com H" (famosa com Ney) e "Bate Coração" (sucesso de Elba Ramalho).

Dessas citadas, aqui no país da propina, a dos panos parece ter nascido para não ficar datada. Poderia, em pleno 2017, ganhar regravação ou clipe com imagens recentes de dinheiro vivo em apartamento e gente passando maletas recheadas da bufunfa.

"O que a gente faz / É por debaixo dos panos / Pra ninguém saber / É por debaixo dos panos / Se eu ganho mais / É por debaixo dos panos / Ou se vou perder / É por debaixo dos panos...". Tem gente graúda perdendo, mas há ladrão cuja carreira foi iniciada lá pelos nossos anos 70/80 que ainda não foi punido. Será que vai continuar livre para sintonizar seus realities favoritos no conforto de casa? O tempo dirá.

O autor é editor do JC.





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